Cartaz de divulgação do filme
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Em cartaz no Brasil, Nação Fast Food – Uma rede de corrupção (Fast Food Nation) traz às telas uma das mais duras críticas cinematográficas ao padrão hegemônico estadunidense, em especial ao mito da sociedade da oportunidade e da livre iniciativa. Contando com elenco de respeito, com nomes como Ethan Hawke, Patrícia Arquette, Bruce Willis e Greg Kinnear, Nação Fast Food é, sem dúvida, tributário de dois filmes que o precede.

O primeiro é Super Size Me – A dieta do palhaço, que mostra as dores e complicações por que passa o roteirista, diretor e ator desse filme-documentário, Morgan Spurlock, que decide comer somente no McDonald´s durante um mês inteiro. O resultado é uma dura crítica ao padrão de consumo dos restaurantes fast food, voltado para as crianças e baseado em produtos com alto teor de açúcar e gordura que levam o protagonista a ter sérias complicações físicas ao final desse penoso mês de tortura auto-imposta.

O segundo é Silver City, que lança uma série de inteligentes críticas à especulação imobiliária, à corrupção e aos graves problemas ambientais envolvidos no desmatamento inescrupuloso que deve ser levado a cabo para dar lugar aos novos condomínios de luxo.

Por seu turno, Nação Fast Food conta a história do executivo Don Henderson (Greg Kinnear), gerente de marketing de uma grande cadeia de restaurantes de fast food que é designado para investigar o porque dos índices muito elevados de coliformes fecais encontrados na carne dos hambúrgueres comercializados por sua empresa e detectados por uma auditoria independente, antes que ela venha a fazer um novo lançamento de mercado, na tentativa de evitar a péssima imagem que este fato possa causar no público consumidor caso venha à tona.

Mas isso não basta para definir adequadamente o filme Nação Fast Food, pois ele vai além, na abordagem, não se limitando aos temas e referências citados, que já não são poucos, mas abrindo o foco para uma gama enorme de outros assuntos, dentre eles o processo de imigração (forçada), as condições de trabalho (desumanas), os padrões de vigilância sanitária (inaceitáveis até pouco tempo atrás), etc.

Sobre este último tema, o que trata do padrão de vigilância sanitária, vale uma explicação à parte, pois não se trata de uma afirmação categórica de que toda a produção industrial de alimentos estadunidense está abaixo dos níveis mínimos de higiene. No filme, usa-se um exemplo apenas, o da produção em massa de carne de hambúrguer, que por conta de uma produção aceleradíssima e desinteressada em alguns “custos” sociais (falta de higiene, contratação de empregados ilegais e mal treinados, dentre outros), acaba por se tornar um centro onde pululam os acidentes de trabalho e onde a carne vendida apresenta níveis totalmente inapropriados para o consumo.

O dono da fábrica de hambúrgueres, que atende de forma centralizada todos os EUA, é interpretado por Bruce Willis e não tem pudor algum em afirmar: “como é que você espera que eu consiga um contrato tão bom para vocês, vendendo cada unidade a apenas 8 centavos (de dólar), se eu tenho que diminuir minha produção e ainda tomar esses cuidados todos?”. E ainda arremata, sem dó nem piedade: “de vez em quando todos nós temos que engolir um pouco de merda”. Infelizmente, somos nós, consumidores, que a engolimos e é duvidoso acreditar que os grandes executivos e empresários sigam uma dieta tão “suja”.

Percebe-se ao longo do filme um vago desejo “de fazer alguma coisa” inspirando alguns personagens, que não se conformam totalmente com a imobilidade que lhes é empurrada, ante o peso avassalador das megacorporações. Tal como afirma o grande historiador Eric Hobsbawm, as pessoas começam a perceber que “o capital é tão rígido como uma monarquia absoluta”, não admitindo quaisquer entraves aos seus processos de circulação/acumulação.

Contudo, e infelizmente, todas as questões levantadas no filme, e mesmo as críticas que são expostas, não chegam a fazer de Nação Fast Food um filme político como, para citar um exemplo apenas, Sindicato dos Ladrões, protagonizado por Marlon Brando em 1954. Falta, sem dúvida, uma análise mais contundente sobre as causas daquilo que é mostrado no filme como sendo uma mera “distorção” do sistema, como o próprio subtítulo em português deixa transparecer, passível de conserto dentro desse mesmo sistema. Fica parecendo que temos, convenientemente, os “mocinhos” e os “bandidos”, e que basta tirar os bandidos que tudo ficaria perfeito. Nós sabemos que não é assim.

Ficha Técnica:
Título Original: Fast Food Nation
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 114 minutos
Ano de Lançamento: 2006 (EUA)
Direção: Richard Linklater
Roteiro: Eric Schlosser e Richard Linklater, baseado em livro de Eric Schlosser
Montagem: Sandra Adair
Produção: Malcolm McLaren e Jeremy Thomas
Música: Friends of Dean Martinez
Fotografia: Lee Daniel
Desenho de Produção: Bruce Curtis
Direção de Arte: Joaquin A. Morin
Figurino: Kari Perkins
Elenco: Erinn Allison (Shannon), Patricia Arquette (Cindy), Mitch Baker (Dave), Bobby Cannavale (Mike), Michael D. Conway (Phil), Paul Dano (Brian), Frank Ertl (Jack Deavers), Luis Guzmán (Benny), Ethan Hawke (Pete), Aaron Himelstein (Andrew), Ashley Johnson (Amber), Greg Kinnear (Don Henderson), Kris Kristofferson (Rudy), Avril Lavigne (Alice), Cherami Leigh (Kim), Jason McDonald (Riley), Bruce Willis (Harry)

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