Redação

Nessa noite de Natal, enquanto milhões de famílias se reuniam para a ceia, e outras milhões jogadas à miséria não tinham essa sorte, a figura repugnante de Michel Temer aparece em cadeia nacional de rádio e televisão para desfiar seu corolário de mentiras.

Em seu balanço do ano, Temer disse que “saímos da recessão, reduzimos as taxas de juros“, e que “o risco Brasil diminuiu e os investimentos estão de volta“, e ainda “a Bolsa de Valores registra alta após alta“. Que político mente de forma sistemática e mascara a realidade já não é novidade para ninguém. O discurso de Temer, porém, ganha ares de surrealismo quando diz que “com a reforma trabalhista, o número de vagas, como tudo indica, será cada vez maior“. Que o digam as universidades privadas que, a exemplo da Estácio de Sá, estão demitindo massivamente para recontratarem novos professores com salários mais baixos e contratos de trabalho precários.

A realidade é bem outra. A guerra social contra os pobres provoca o aumento da pobreza e miséria. A multidão de sem-teto que vagam pelos grandes centros urbanos é expressão da  barbárie, que não é atingida pelos tímidos pontos que se reduzem da taxa Selic.

Não contente, Temer dá um verdadeiro tapa na cara de milhões de trabalhadores e trabalhadoras ao dizer que “está mais barato para comer, para vestir, pra morar, está mais barato para viver“. Resta encontrar alguém que reafirme os números oficiais do governo, num momento em que a conta de luz explode e o gás de cozinha tem um aumento de 70% desde o meio do ano, fazendo com que muitas famílias tenham que voltar ao velho fogão de lenha.

Não contente em tripudiar na cara do povo, Temer ainda aproveitou para defender sua proposta de reforma da Previdência, que exclui o direito à aposentadoria uma grande parcela da classe trabalhadora. E o exemplo que poderia dar não poderia ser melhor. “O nosso país vizinho, a Argentina, num gesto consciente e de união pelo país, deu exemplo e acaba de aprovar a sua reforma“. Só não disse que essa aprovação se deu em meio a uma verdadeira chuva de bombas de gás e balas de borracha contra centenas de milhares de manifestantes que protestavam do lado de fora do Congresso.

Temer deu o exemplo da reforma da Previdência aprovada na Argentina

Nenhuma palavra ainda sobre os bilhões gastos com a liberação de emendas parlamentares, distribuição de cargos e renegociação de dívidas que o governo está fazendo para comprar deputados para a aprovação da reforma.

A ausência mais sentida do discurso de Temer, porém, foram as denúncias de corrupção contra ele que marcaram esse ano. Ou sobre as malas de dinheiro que seu então assessor especial, Rocha Loures, foi flagrado. Nenhuma palavra sobre a gravação da conversa com Joesley Batista nos subterrâneos do Palácio do Jaburu. Ou das duas votações em que o Congresso impediu sua investigação em troca de outros bilhões.

Se colocar para votar, o Brasil vai parar
O discurso de Temer, porém, serviu para nos mostrar que não devemos baixar a guarda em relação à reforma da Previdência. O governo vai voltar em 2018 com uma grande ofensiva para aprovar a medida no Congresso Nacional. A votação foi marcada por Rodrigo Maia (DEM-RJ) para o dia 19 de fevereiro, logo após a volta do Carnaval. Se o exemplo de Temer é Macri, o nosso deve ser o dos trabalhadores argentinos.

É preciso manter a mobilização contra essa reforma e reafirmar a posição divulgada pelas centrais em dezembro: se colocar para votar, o Brasil vai parar. Não podemos aceitar qualquer vacilação por parte das direções das centrais. É preciso armar um calendário de lutas que não deixe só para o dia 19, mas que prepare até lá uma ampla mobilização, culminando numa grande Greve Geral.