Os trabalhadores cariocas vivem dias de terror, encurralados entre policiais e bandidos. As cenas de barbárie se sucedem: helicóptero abatido, corpo jogado em um carrinho de mercado e PMs roubando roupas de uma vítimaRio de Janeiro, zona norte, madrugada de 17 de outubro. Quatro jovens amigos voltam de uma festa. Comemoravam a compra de um carro. Uma verdadeira conquista para um pedreiro, como Francisco Aílton, ou um mecânico, como Marcelo da Costa, ambos de 25 anos. Ou de um auxiliar administrativo, como Leonardo Paulino, de 27 anos, e um garçom, de apenas 22 anos.

Naquela madrugada, eles não voltariam para casa. O Peugeot foi encurralado por pelo menos dez homens armados de fuzis e pistolas, que abriram fogo. Os jovens foram metralhados, sem saber o motivo. Dois foram ainda arrancados do veículo para serem mortos no chão. Apenas o garçom conseguiu escapar com vida e está agora no hospital, em estado grave.

Cenas da barbárie
O assassinato marcou o início de uma seqüência de horror e barbárie na cidade do Rio. Naquela madrugada, traficantes do Morro São João invadiam o Morro dos Macacos, em Vila Isabel, para tentar expulsar a facção rival.

Segundo moradores, a invasão contou com ao menos 150 homens armados, motocicletas e até dois caminhões. Os traficantes invadiram o morro, espalhando o pânico. A polícia observava, bloqueando as entradas.

Na manhã seguinte, o horror dos traficantes deu lugar à violência da Polícia Militar. Além de fecharem os acessos ao morro aos próprios moradores, invadiram de forma indiscriminada, tratando todos como potenciais bandidos. Os moradores, revoltados com a PM, improvisaram protestos, fecharam ruas e armaram barricadas.
Ao mesmo tempo, um helicóptero da polícia era abatido, mostrando o potencial bélico dos traficantes e a falência da política de segurança pública do Estado.
A cena de um grupo de moradores pedindo informações à polícia e sendo recebidos com spray pimenta nos olhos ilustra de forma dramática a real situação do povo pobre. De um lado, os traficantes em uma disputa sem fim por novos pontos de venda. Crescendo como outro poder paralelo, como são as forças do tráfico, surge a milícia, reunindo policiais e bombeiros que agem como máfias locais. De outro, a polícia. Muitas vezes corrupta e associada ao tráfico. Quase sempre, porém, espalhando o terror e tratando os moradores como inimigos.

Já os três jovens friamente assassinados foram apresentados como “bandidos” mortos em confronto, segundo versão inicial da PM, repetida na imprensa.

O capítulo mais recente é também um dos mais trágicos. A dona de casa Ana Cristina Costa, de 24 anos, foi atingida por um tiro nas costas na noite de 25 de outubro. Segundo testemunhas, o disparo veio da polícia. A bala atravessou o corpo, atingindo também sua filha, de 11 meses. Ana morreu na hora e o bebê permanece internado com um ferimento no braço.

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