Muitas veem com simpatia quando qualquer mulher assume postos de poder. Mas será que isso diminui o machismo?Na década de 1970, a teoria do “empoderamento” ganhou força nos ambientes acadêmicos e no movimento de mulheres. Essa teoria defende que a saída para as mulheres vencerem a opressão é assumir cada vez mais postos e cargos, “empoderando” cada vez mais mulheres. Cada vez mais mulheres no poder, independentemente da classe, significaria, então, mais poder a todas as mulheres e, consequentemente, melhores condições de vida. Segundo essa teoria, uma das medidas que poderiam evitar a crise econômica é se houvesse mais mulheres governando o mundo.

É baseada nessa idéia que muitas veem como progressivo que qualquer mulher assuma postos de poder. Achamos muito importante que as mulheres rompam com sua situação de submissão e opressão e participem de todas as esferas da vida, assumindo inclusive postos de poder, mas não acreditamos na teoria do empoderamento. Isso porque o poder para os trabalhadores só será de fato exercido quando for possível destruir a sociedade de classes, onde ninguém necessite explorar ninguém.

Esse é o sentido do poder: governar em favor dos trabalhadores, não em nome de todas as mulheres.

Quando uma mulher assume um posto de governo em aliança com a burguesia dominante, não reforça o poder “das mulheres”, mas da burguesia. Dilma para ser eleita, por exemplo, fez um amplo acordo com a burguesia e os religiosos, comprometendo-se a não tomar medidas que levassem à legalização do aborto em nosso país. A Secretária de Políticas Especiais para Mulheres do governo federal, recém empossada, Eleonora Menicucci, disse ser a favor do aborto e que lutaria para que ele fosse legalizado, o que gerou a irritação de uma parte da base aliada do governo. Logo em seguida, foi repreendida pela presidenta. E, rapidamente, se posicionou: “agora sou governo e falo como governo”.

Uma questão de classe
De que vale estar o governo se ele não serve para avançar nos interesses das trabalhadoras? Que tipo de poder é esse que as mulheres precisam abrir mão de seus direitos para poder exercê-lo? Há muitas mulheres ocupando postos de poder no mundo. Por exemplo, o Fundo Monetário Internacional é dirigido por uma mulher, Christine Lagarde. O imperialismo alemão também, pelas mãos de Angela Merkel. E se todas são mulheres e têm o “poder” de mudar a vida das mulheres, por que a situação das trabalhadoras europeias é cada vez pior com a crise econômica?

É porque nem todas as mulheres são iguais. Há aquelas que exploram e as que vivem da exploração. Dilma, Eleonora, Lagarde, Merkel não sofrem as mesmas dores das trabalhadoras pobres, que necessitam pegar o transporte lotado, dar duro no trabalho e ainda torcer para que o salário alcance o fim do mês. Elas têm outra vida. Elas não exercem o poder das mulheres em abstrato, mas o poder do Capital, que continua explorando e oprimindo os trabalhadores. Dilma exerce o poder estreitamente ligado aos interesses dos bancos e das multinacionais que sempre governaram o país.

O “poder” não é uma disputa de gênero, mas de classe. Os governos aliados com a burguesia defendem os interesses contrários aos dos trabalhadores, sejam eles homens ou mulheres, por isso, o poder das trabalhadoras não está em entregar seus futuros à sorte do governo Dilma, mas lutar com os trabalhadores organizados, coletivamente, para defender seus direitos.

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