A partir dos anos 1990, muitas mulheres que estiveram à frente destas lutas e movimentos se renderam ao discurso de que o socialismo havia morrido. Esta visão equivocada diz que uma sociedade igualitária deve ser construída com reformas no capitalismo, e que as lutas devem ser por cadeiras no parlamento e encontros que recomendem aos governos a melhoria de vida para as mulheres. Surgiram, então, organizações que propunham que as mulheres da classe trabalhadora e da burguesia poderiam conviver em harmonia e, juntas, acabar com as desigualdades entre homens e mulheres.

A maior expressão dessa política é a Marcha Mundial de Mulheres, uma organização presente em diversos países, que busca dirigir a luta pela igualdade. Para essa entidade, as mulheres trabalhadoras e burguesas são capazes de acabar com a opressão, “construindo um mundo no qual reinam a igualdade, a liberdade, a solidariedade, a justiça e a paz”.

Segundo a Marcha, as mulheres são capazes de criar este mundo: “Constituímos mais da metade da humanidade. Damos a vida, trabalhamos, amamos, criamos, militamos, nos divertimos. Garantimos, atualmente, a maior parte das tarefas essenciais para a vida e a continuidade da humanidade” (Carta Mundial das Mulheres para a Humanidade, 2009).

O problema é que não existe, segundo a Marcha, uma classe que vai realizar esta ação. É uma organização policlassista, ou seja, mulheres pobres e burguesas estão juntas. É também sexista, pois defende que as mulheres são capazes, sozinhas, de conquistar sua igualdade: os homens são os inimigos, sejam burgueses, sejam trabalhadores.

Essa organização identifica o “patriarcado como sistema de opressão das mulheres e o capitalismo como sistema de exploração de uma imensa maioria de mulheres e homens por parte de uma minoria”. Porém, não diz que mundo é preciso construir e com quem. Não propõe a construção do socialismo como único sistema capaz de acabar com a opressão sobre as mulheres.

Se é verdade que as mulheres burguesas podem ir às ruas para exigir do governo a legalização do aborto, é impossível que essas mulheres estejam nas ruas pedindo aumento de salários, melhores condições de trabalho ou lutando pelo socialismo. Estamos em lados opostos, pois elas também são patroas e lucram com o trabalho alheio.

Também é verdade que os homens trabalhadores oprimem as mulheres e que o machismo as desmoraliza e enfraquece. Temos de ser radicalmente contra as menores manifestações de opressão, como as piadas machistas, a absurda violência doméstica ou a bárbara matança de mulheres. Os homens trabalhadores precisam ser nossos aliados. Só desta forma poderemos vencer e acabar com a exploração de todos os trabalhadores, homens e mulheres.

A Marcha Mundial de Mulheres e demais organizações feministas iludem as trabalhadoras ao dizer que a saída é nos juntarmos com as mulheres burguesas, que são nossas patroas, para acabar com as desigualdades.

Neste 8 de Março, quando a Marcha completa dez anos, suas bandeiras no Brasil só confirmam que esse tipo de organização não serve para as mulheres trabalhadoras e pobres, já que apoia as políticas do governo Lula e a cria ilusões com o chamado “empoderamento”, que nada mais é do que colocar mulheres como vereadoras, deputadas, senadoras e governadoras no poder – e, em 2010, uma mulher para presidente do país.
Nós, mulheres que vendemos nossos braços, nosso sangue e nosso conhecimento em troca de um salário de fome e que sofremos todo tipo de discriminação e violência, só temos um caminho: unirmo-nos nas organizações da nossa classe e, junto com mulheres e homens trabalhadores, lutarmos contra o machismo e destruirmos o capitalismo. Só assim conquistaremos uma sociedade igualitária.

Por que o socialismo?
A sociedade capitalista diz que as mulheres são inferiores, permitindo que os patrões arranquem mais lucro delas, pagando salários mais baixos e as colocando nas piores funções. Além disso, as mulheres realizam o trabalho doméstico de graça, livrando os governos e patrões de gastos com a manutenção da vida.
Por isso, defendemos uma sociedade sem classes e sem exploração, onde não haja necessidade de lucrar e, logo, de oprimir as mulheres e outros grupos, como negros, negras e homossexuais.
No socialismo, o Estado será responsável por coibir a violência contra a mulher, garantir a saúde e a educação – inclusive o aborto seguro –, criar creches, restaurantes e lavanderias públicos, entre outras coisas.

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