Perguntada sobre a importância do primeiro congresso da CSP-Conlutas e suas expectativas em relação ao evento, Helena Silvestre, dirigente da “Luta Popular”, não teve dúvidas: “Esta não é uma data qualquer. O congresso marca a continuidade, a consolidação, de uma iniciativa bastante ousada, em termos políticos, no sentido de propor – diferente daquilo que tradicionalmente tivemos no Brasil – a construção de uma Central com um caráter diferenciado; uma Central onde a classe trabalhadora pode se expressar no conjunto de suas demandas e movimentos de base, não apenas na suas lutas sindicais”.

Na curta história da Central, essa ousadia tem se traduzido em iniciativas importantes e concretas na tentativa de organizar e atuar nas lutas dos trabalhadores e da juventude para além de seus locais de trabalho e das questões vinculadas aos salários e condições de trabalho.

Uma Central contra a criminalização da pobreza
Helena e a entidade da qual participa são exemplos de como este esforço está sendo feito em um dos setores da sociedade que mais se mobilizou nos últimos anos, o movimento popular.

Mobilizações provocadas pela forma como o governo Dilma (em conluio com as empreiteiras e governos locais) está despejando trilhões de reais em obras de infra-estrutura – Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), projeto “Minha casa, minha vida” e, principalmente, obras dos “Grandes Eventos” (Copa e Olimpíadas) – ao mesmo tempo em que ataca direitos básicos da população.

Todos estes projetos têm resultado em remoções em massa, ataques ao direito de moradia e um asqueroso processo de “criminalização da pobreza”, como parte de uma contra-reforma urbana.

O criminoso ataque ao Pinheirinho foi apenas um dos lamentáveis exemplos das consequências desta situação. E a organização da resistência dos moradores do Pinheirinho estará no centro dos debates do congresso. Um debate que será enriquecido com a experiência que a CSP-Conlutas, juntamente com entidades como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) acumulou em lutas como as ocupações no Ministério das Cidades (DF) e tantas outras travadas em ocupações e, acampamentos país afora.

Os ataques contra o movimento popular são parte de um projeto de higienização social e criminalização da pobreza que tem sido levado a cabo pelas elites dominantes deste país, com cumplicidade atuante do governo do PT e do PCdoB. Um projeto que em muito também tem contribuído para o crescimento da ideologia discriminatória e preconceituosa.

Um instrumento para o combate às opressões
A luta contra o machismo, o racismo e a homofobia terão espaço garantido no congresso. Desde sua fundação, a CSP-Conlutas tem se colocado como um instrumento na luta contra toda e qualquer forma de opressão, principalmente quando ela se volta contra a classe trabalhadora e a juventude.

Os debates e resoluções serão baseados nas muitas experiências e iniciativas que a Central já desenvolveu na sua curta história e tiveram início com a formação dos setoriais de combate à opressão (Mulheres, LGBT e Negros e Negras).

1° Encontro das Mulheres da CSP-Conlutas
O combate ao machismo terá espaço garantido no dia 27 de abril, quando o Setorial de Mulheres da CSP-Conlutas e o Movimento Mulheres em Luta irão realizar o 1º Encontro de Mulheres da Central.

Os principais objetivos são aprofundar e atualizar a análise da situação política e econômica, sob o ponto de vista das mulheres trabalhadoras, e debater experiências de organização de base, como as que estão sendo feitas na Construção Civil de Belém ou no Sindicato dos Metalúrgicos de S. José dos Campos.

O Encontro também irá preparar a intervenção das delegadas ao Congresso, que também contará com a presença de categorias de forte presença feminina, que travaram importantes lutas, em 2011, e estiveram à frente da implementação da campanha “Trabalho Igual, Salário Igual”, como profissionais da Educação, funcionárias públicas, metalúrgicas, carteiras, bancárias, petroleiras e metroviárias.

Visibilidade para a luta contra a homofobia
O primeiro congresso também vai garantir a visibilidade para as muitas atividades e lutas desenvolvidas pelo Setorial LGBT da entidade.

Em 2011, por exemplo, as bandeiras da CSP-Conlutas, tingidas com as cores do arco-íris, estiveram presentes na 2° Marcha Nacional Contra a Homofobia, em Brasília, na Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, Campinas, Fortaleza diversas outras cidades, sempre vinculando a luta por direitos e a exigência da criminalização da homofobia à denúncia das capitulações do governo.

O Setorial também impulsionou a realização do 6° Encontro Sudeste de Travestis e Transexuais, em São José dos Campos; esteve na 2° Conferência Nacional LGBT (defendendo a necessidade da organização independente dos governos e dos patrões, e em aliança com os trabalhadores e da juventude), organizou um Seminário com a presença do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) e o então presidente da Parada de São Paulo, Ideraldo Beltrame e produziu, juntamente com os LGBT organizados pela ANEL, uma cartilha sobre o tema. Baseados nestas experiências os delegados e delegadas LGBT irão traçar um plano para dar continuidade a sua organização e suas lutas.

Um Quilombo para a luta negra
O Movimento Nacional Quilombo Raça e Classe, o Quilombo Urbano (Maranhão) e outros lutadores que compreendem que a luta anti-racista deve ser combinada com o combate ao sistema capitalista têm levado as bandeiras da Central para as principais atividades do movimento negro, como as Marchas da Periferia; a luta dos quilombolas no Maranhão e na Bahia ou o Fórum Social Temático, realizado em Porto Alegre.

Negros e negras da CSP-Conlutas estarão no Congresso para discutir como avançar na sua organização e lutas e, principalmente, como combiná-las com as elaborações e reivindicações dos demais setores que compõem a Central.

Expressão de que a Central está realmente sendo construída como uma verdadeira “coordenação de lutas”, as expectativas dos movimentos populares, LGBT, de mulheres, negros e negras podem ser sintetizadas na avaliação da importância que Helena Silvestri faz sobre o primeiro congresso: “se outros outubros virão, nossos congressos, nossas jornadas de luta, a organização dos trabalhadores, são passos que nos aproximam um pouquinho mais deles”.

* com colaboração de Camila Lisboa, Douglas Borges e Júlio Condaque.
Post author Wilson H. da Silva*, da Redação
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