Manifestantes receberam discurso como provocação

Discurso do ditador foi a faísca no pavio de pólvora das mobilizações no EgitoContrariando todas as expectativas, o ditador do Egito Hosni Mubarak se negou a renunciar ao posto durante o aguardado pronunciamento transmitido na noite desse dia 10 de fevereiro. Em um discurso que mais pareceu uma resposta a algum escândalo de corrupção e não a uma revolução em curso, Mubarak começou fazendo uma espécie de mea culpa sobre possíveis erros durante seu governo. Também prometeu investigar as mortes ocorridas durante as três últimas semanas de mobilização no país.

“Cumprirei minhas responsabilidades até que o poder seja transferido aos eleitos em eleições justas e livres”, disse o ditador, repetindo o que já havia dito na semana passada, quando prometeu não participar de nova candidatura à reeleição. De forma completamente hipócrita, Mubarak deu a entender que a revolução é manobrada por forças estrangeiras. “Não aceitarei nenhuma intervenção externa independente de onde venha”, disse, só não dizendo que durante décadas sua ditadura foi fantoche dos EUA e Israel.

Mubarak só afirmou que “delegaria” poderes a seu vice, Omar Suleimán, sem especificar quais poderes seriam esse. Também disse que faria alterações na Constituição, sem também detalhar quais seriam.

Pouco depois o vice-presidente, Omar Suleiman reafirmou o discurso do ditador e conclamou o povo a voltar para casa. Dirigindo-se à juventude egípcia, pediu: “Precisamos agora olhar para o futuro, voltar ao trabalho, o país precisa de vocês, voltem para suas casas”.

Praça explode em raiva
Os milhões de pessoas concentrados na Praça Tahrir escutaram em completo silêncio o discurso do ditador. De acordo com o correspondente do PSTU no Cairo, Luiz Gustavo Porfírio, a feição das pessoas foi mudando no decorrer do discurso até que, ao final, quando estava claro que Mubarak não sairia, a praça explodiu em raiva, aos gritos de “Fora, Fora!”. Também gritavam “revolução, revolução”.

Ainda segundo Luiz, muitas pessoas tiraram o sapato para demonstrar sua indignação com o ditador. Muitos grupos tentam incitar os manifestantes a marcharem até o palácio do governo. Um outro grupo se dirigia à TV Estatal. “O discurso foi um convite para permanecermos na Praça” , disse um egípcio ao correspondente.

O clima é de completa indignação. “Uma dirigente estudantil falou no som e chamou o discurso de Mubarak de piada, sarro, ultraje”, disse Luiz Gustavo. Ao que tudo indica, o povo egípcio prepara uma grande manifestação para esta sexta-feira, dia 11, dia sagrado para os muçulmanos. Um dirigente da juventude egípcia conclamou todo o povo a participar da manifestação. “Cada egípcio, cada egípcia, estará nesta praça”, afirmou.