Movimento de Trabalhadores Sem-Teto iniciou greve de fome nesta segunda, dia 19, em São Paulo. Leia abaixo o manifesto do movimentoManifesto do MTST: natal com fome, por moradia

Hoje, aqui estamos iniciando um ato extremo para que, num novo tempo de vida, atos extremos deixem de ser necessários. Neste exato momento, mais de 800 famílias de trabalhadores e trabalhadoras sem teto sofrem a angústia de não saber se acordarão para viver mais um dia de suas vidas duras em seus barracos humildes ou se serão despejadas pela insensibilidade daqueles que tudo podem e nada fazem. A comunidade Chico Mendes é um exemplo de dignidade e esperança, o despejo destes sonhos é um crime. Nos 80 dias de ocupação em Taboão da Serra, nossos lutadores e lutadoras que se organizaram para reivindicar o direito básico à moradia que sempre foi negado ao povo pobre deste país, construíram um novo horizonte de sociedade para si e para seus filhos.

Em nossa batalha caminha a esperança de mais de 6 milhões de famílias brasileiras que vivem em condições precárias. Viemos aqui fazer um apelo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e não só, pois entendemos que todas as esferas do governo tem plenos poderes para impedir esta tragédia.

Sabemos que através de decretos de lei de qualquer uma das esferas, municipal (Dr. Evilásio), estadual (Alckmin) ou federal, a desapropriação é possível. Esta, como muitas outras terras espalhadas pelo país, não cumpria função social alguma e acumulava dívidas milionárias de impostos não pagos. Dizem que ocupar é crime e assim nos tratam, como criminosos, mas nada falam sobre a elite que criminosamente sonega milhões em impostos, impostos estes que poderiam servir como solução, evitando centenas de despejos violentos que jogam nas ruas, todos os dias, famílias inteiras, roubando-lhes a dignidade. Se pagamos os altos aluguéis, não temos o suficiente para sobreviver. A nós pobres foram dadas poucas e duras opções: morar ou comer. No entanto, com nossa luta diária pela vida, outras opções nos demos: Lutar ou sofrer. Muitas foram as reuniões, as promessas, e em nada nossa situação foi alterada. Hoje sabemos que contamos somente com nossas próprias forças e é na condição de movimento autônomo que aqui nos encontramos. Não temos vinculação com nenhum partido político, temos apenas um sonho, de dignidade e vida melhor.

Por todas estas coisas e mais, por nossas famílias e mais, pelos direitos esquecidos de milhares e mais; decidimos realizar uma greve de fome. Sabemos da gravidade de nossa decisão. Não tínhamos, porém, outra alternativa. Foram muitas as passeatas, as reuniões, as manifestações e nenhuma resposta foi dada além da falta de vontade política. Nos ignoram porque nada temos, não nos ouvem porque somos pobres. Por isso, em vésperas de Natal, quando todos festejam alegremente o nascimento de Cristo e a chegada do ano, viemos dizer que nada temos para festejar, só pedir por nossas crianças que receberão seus sonhos de Natal na rua e por nossos companheiros que, em nome de muitos, abriram mão de si mesmos.

Neste sentido, queremos:
– uma reunião com a participação dos governos municipal, estadual e federal representados por
pessoas que possam efetivamente resolver nosso problema;
– a desapropriação da área que ocupamos e a construção de moradias populares para as 800 famílias da comunidade Chico Mendes,

Estas foram as nossas demandas, são hoje nossas exigências.

  • Acompanhe a greve de fome na página do MTST
    www.mtst.info