Cerca de 180 famílias sem-terra, por volta de 500 pessoas, entraram às 6h10 do sábado, nove de novembro, na Fazenda Abrahão e no Sítio Esperança, ambos em Taubaté, no Vale do Paraíba, em São Paulo. O grupo era composto principalmente por ex-lavradores e trabalhadores rurais de Taubaté e Tremembé, mas havia também trabalhadores de outras cidades do interior do Estado.
Os dois terrenos ocupados estavam improdutivos e várias irregularidades foram constatadas pela Justiça. Em virtude disso, foi suspensa nesta semana a liminar que determinava a reintegração de posse das terras. Isso permitiu que as famílias permanecessem na propriedade por mais alguns dias.
Rapidamente depois da ocupação, os trabalhadores começaram a obter conquistas, demonstrando categoricamente que quem luta, vence.
O Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) e o Instituto de Colonização e Reforma Agrária (Incra) prometeram vistoriar as propriedades rurais apontadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na região como sendo improdutivas.

PT condena invasão do MST

Este não foi o título de algum panfleto do PSTU e nem de uma organização do movimento operário que visasse denunciar a direção do PT. Foi a manchete de um jornal burguês da região, o Vale Paraibano, que externava a posição da direção do Partido dos Trabalhadores.
Lideranças do PT na região classificaram a invasão do MST como traição ao partido, pois o movimento teria acenado com uma trégua até a posse de Lula.
Para a deputada federal Angela Guadagnin, a mais próxima interlocutora do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva no Vale do Paraíba, o PT foi traído por não ter sido comunicado previamente da ocupação. “Não é só Lula que tem compromisso com o MST de promover a reforma agrária, mas o MST também tinha se comprometido com Lula de não fazer invasões nesse momento de transição política”, declarou ela ao jornal.
O deputado estadual Carlinhos de Almeida, também da região, afirmou que não iria ao acampamento: “Tenho meus compromissos como deputado em São Paulo e por isso ainda não fui ao local. No final de semana já estou com minha agenda cheia no Vale e por isso não devo ir ao acampamento”. Questionado novamente pelo repórter, ele afirmou que não é “freqüentador assíduo” de ocupações do MST.
O dirigente nacional do MST, Gilmar Mauro, rebateu as declarações: “O MST não traiu ninguém porque não acenou com tréguas ao Lula. Chega a ser engraçado o PT pedir trégua ao MST. Eles deveriam pedir trégua ao FMI e ao sistema financeiro internacional que cada vez sacrifica mais os trabalhadores brasileiros”.
Outros dirigentes do PT classificaram a invasão como um ato político, uma provocação do PSTU. Afinal, é nesta região que se encontram o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e o dirigente da CUT estadual e presidente da Comissão Diretiva Municipal do PSTU, Francisco de Assis Cabral, estes “freqüentadores assíduos” da luta do campo. Cabral esteve com os sem-terra em Taubaté desde a madrugada.
Como se vê, o PT vai começar muito mal seu governo se vier atacando a luta pela terra. É preciso seguir o exemplo dos sem-terra de Taubaté e aproveitar a conjuntura favorável para realizar mais e mais ocupações.
Post author Américo Gomes,
de São Paulo
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