Marcha deixa Goiânia
Walter Campanato / Ag. Brasil

Teve início na manhã deste domingo, 1º de maio, a Marcha Nacional pela Reforma Agrária, promovida pelo MST, Via Campesina, Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Grito dos Excluídos. Cerca de 11 mil pessoas de 23 estados, entre sem-terras, militantes, estudantes e religiosos saíram de Goiânia rumo a Brasília, numa caminhada que deve percorrer os 200 km da BR-060 em duas semanas. Durante o percurso, serão realizados cursos, palestras e eventos culturais. A maior marcha já organizada pelo MST estava prevista para ocorrer em abril, mas foi adiada e chegará à capital no dia 17 de maio, onde os participantes farão um ato na Esplanada dos Ministérios reivindicando o cumprimento das metas de assentamento, o fim da violência no campo e o incentivo à agricultura familiar.

Uma das principais promessas de campanha de Lula foi o assentamento de 430 mil famílias até o fim do mandato. Mas, segundo dados do MST, em dois anos foram assentadas apenas 65 mil famílias, média inferior aos oito anos do governo de FHC. O Ministério do Desenvolvimento Agrário teve quase metade de sua verba bloqueada pelo governo, devido à política de manter o arrocho fiscal e sufocar o orçamento das pastas sociais. Ainda assim, o ministro Miguel Rossetto acredita que poderá assentar 115 mil famílias até o fim deste ano, sem recursos suficientes e sem vontade política do governo.

A Marcha Nacional pela Reforma Agrária mobiliza, corretamente, milhares de lutadores, mas não para que enfrentem e rompam com Lula. Este seria o caminho correto da luta diante de um governo que já demonstrou várias vezes que não quer fazer a reforma agrária e está do lado dos latifundiários e do agronegócio. Ao mesmo tempo em que concentra seus esforços em uma nova marcha nacional, o MST reduz, conscientemente, as ocupações de terra, principal instrumento para garantir a reforma agrária.

Em declarações à imprensa antes da Marcha, o coordenador do MST João Pedro Stedile disse estar perplexo, sem entender o que acontece com o governo. Para ele, estar contra Lula seria cometer uma loucura e ganhar mais um inimigo. Isso demonstra o equívoco da direção do MST em relação ao governo – para evitar a ruptura, semeia ilusões de que Lula estaria sendo “enganado” pela equipe econômica. Os sem-terra não podem frear sua atividade e limitar o combate apenas ao ministro Palocci – devem prosseguir ocupando os latifúndios para conquistar a reforma agrária na luta, e romper com o governo Lula.