Em um evento pararelo ao Fórum Social, entidades do movimento Hip Hop de todo o país estão realizando seu II Fórum Nacional. O encontro está sendo realizado numa tenda, próxima ao acampamento da juventude, que recebeu o nome de “Raízes”.

Em seu primeiro dia, 27 de janeiro, o encontro foi marcado por polêmicas em torno do balanço do movimento e de sua postura diante do governo e da situação nacional. Uma polêmica que se acirrou desde março passado, quando importantes lideranças e personalidades do Hip Hop reuniram-se com Lula, exaltado como um “mano” do movimento.

A postura abertamente governista da maioria do movimento — bem como o pra lá de preocupante processo de institucionalização do movimento e atrelamento de alguns de mais importantes setores, através do vínculo a órgãos públicos e privados em troca de financiamento — ficou evidente na pauta inicialmente proposta, que previa a participação de diversos membros do governo, como Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial, e do deputado petista Paulo Paim, que elaborou o Estatuto da Igualdade Racial, que há tempos tramita no congresso.

Inércia da direção gera polêmica

Apesar da ausência destas figuras, a instalação do Fórum já deixava claro que a direção do movimento não estava disposta a enfrentar o debate político. Contudo, várias entidades presentes também deram demonstração de não estarem dispostas a se calarem.

Na manhã do dia 27, a discussão do balanço do Fórum, desde a realização de seu primeiro encontro, no FSM de 2003, gerou uma intensa polêmica. As principais críticas relacionavam-se à forma burocrática utilizada para evitar a aprovação, já naquele momento, de um calendário que viabilizasse a ampliação do debate e a inserção das entidades que compõem o Fórum nas principais lutas do movimento.

Como resultado desta postura, vários setores do movimento denunciaram que, na prática, nada foi feito. À frente das críticas estavam os representantes do Fórum da Grande São Paulo, que apresentou uma carta traçando duras críticas à direção nacional do movimento, sua ausência nas lutas sociais e sua atuação burocrática. A carta também defendia uma clara postura de oposição ao governo Lula e a definição de um perfil anticapitalista.

Os organizadores do Fórum tentaram impedir que o debate fosse aberto, particularmente no que se refere ao governo Lula e suas reformas neoliberais (Trabalhista, Sindical e Trabalhista).

Dentre os representantes do Fórum da Grande São Paulo estava Emerson Feitosa, membro da Secretaria de Negros e Negras do PSTU. Segundo Emerson, logo após a mesa com as organizações nacionais de Hip Hop — Nação Hip Hop, Movimento Hip Hop Brasileiro, Zulu Nebom, MH2O e Frente Nacional de Hip Hop — “o Fórum da Grande São Paulo mandou seu recado e reafirmou que não estava ali somente para discutir políticas em conjunto com este governo”.

Falando em nome do Movimento de Consciência da Periferia (MCP), Emerson comprou a polêmica com os setores majoritários do movimento, insistindo na necessidade de levar o Hip Hop, nacionalmente, para o campo da luta, transformando-o num movimento de combate.

No dia 28, o sindicalista mineiro Antonio Feliciano, também da Secretaria Nacional de Negros do PSTU, participaria de uma mesa sobre as relações entre o movimento Hip Hop e os demais movimentos sociais. Feliciano foi convidado para mesa representando a Coordenação Nacional de Lutas, a Conlutas, que já nasce com a disposição de trazer o debate racial para o seu cotidiano.