Após a greve da construção civil, os trabalhadores rodoviários partiram para a luta. Eles se rebelaram contra a diretoria do sindicato e paralisaram os terminais de ônibus. Acompanhe abaixo a semana em que Fortaleza parou.Terça feira, 6 de maio, Terminal do Papicu, Fortaleza. Um buggy e dois membros da oposição rodoviária (grupo Resgate/Conlutas). Trata-se de uma atividade para convocar a assembléia – pela base – da categoria, marcada para o dia 10. Há um objetivo definido: parar o terminal por duas horas e convocar os trabalhadores para a assembléia.

Motoristas e cobradores protestam contra a convenção coletiva assinada pelo sindicato com a patronal pelas costas da categoria, e exigem a deposição da diretoria. Não sai e não entra ônibus. Conforme Antônio Oliveira, da oposição Resgate/Conlutas: “É uma revolta contra a fome”. Milhares de pessoas se aglomeram, a imprensa e a polícia são acionadas. De feito, a notícia se espalha e motoristas e cobradores dos terminais da Parangaba e do Antônio Bezerra decidem aderir ao protesto. De repente, os maiores terminais estão paralisados. Em poucas horas, a cidade fica de ponta a cabeça. O peso da categoria adquire ampla visibilidade. A capital cearense, provavelmente, lembrará da noite da terça feira por muitos anos. Milhares de pessoas caminham pelas ruas e cada ponto de ônibus é ocupado por centenas de usuários dos transportes coletivos. Nenhum “busão” roda.

Quarta feira, 7 de maio. Tem início uma campanha histérica na imprensa burguesa com uma meta precisa: jogar a população contra os grevistas. Logo encontra um responsável pelo caos: “uma tal de Conlutas”. A Coordenação Nacional de Lutas é notícia nos meios impressos, nas rádios e nas TVs. A Procuradoria do Trabalho convoca uma reunião de emergência. A Conlutas é o centro das pressões. Junto disso, crescem as ameaças contra os “amotinados”, leia-se, os rodoviários, que decidiram atropelar a direção pelega do Sintro e enfrentar o Sind-ônibus.

Quinta feira, 8 de maio. A greve continua. A polícia parte para prisões e oito ativistas são detidos. Entrevista coletiva na sede da Conlutas. A grande imprensa parte para o tudo ou nada. Um dos seus principais colunistas políticos sentencia: “um punhado de militantes políticos inconseqüentes consegue gerar o caos na quarta maior cidade do país” e conclui: “A escola dessa turma foi a greve da construção civil. Todas as manhãs, ao longo de 15 dias, o comando de greve teve a cidade a seus pés”. No meio da tarde, percebe-se um ligeiro refluxo. A DRT exige o retorno ao trabalho.

Sexta feira, 9 de maio. Já pela manhã, começa a se regularizar o sistema de transporte. Os carros particulares, que congestionaram as ruas durante três dias, começam a reduzir a sua presença pelas artérias da capital cearense. Nos jornais da cidade, o sindicato patronal, o Sintro e a CUT divulgam a seguinte palavra de ordem: “Todos contra a Conlutas”. O objetivo é descredenciar a Conlutas para as assembléias do sábado. O patrulhamento é reforçado nas ruas. Um jornalão comemora em manchete reacionária: “Justiça determina o fim da baderna”.

Sábado, 10 de maio, no bairro da Parangaba, contra os patrões, a direção sindical pelega, a prefeitura e a grande imprensa, os rodoviários, sob a direção da Conlutas e o silêncio da CUT (encurralada depois de fazer coro com a burguesia e difundir que a greve era ilegal) realizam duas assembléias: mais de 1000 rodoviários se mobilizam e decidem por unanimidade: anular a convenção coletiva assinada pelos pelegos (com índice inferior ao da inflação); destituir a diretoria; estabelecer uma junta governativa (para organizar eleição em até 90 dias) e fixar prazo para o encaminhamento das suas reivindicações até o dia 24 de maio.

Se até a data fixada não houver retorno dos patrões e da Procuradoria do Trabalho, que se comprometeu em mediar às conversações, começará o segundo capítulo de uma greve que mudou a paisagem de Fortaleza. Ou, como disse Antônio Oliveira: “o que fizemos causou uma comoção social”. Imagine, então, o que virá.