Recente episódio das mortes nas UTIs de Fortaleza escancara a falência do sistema público de saúde e a rapinagem dos hospitais particularesO Brasil inteiro acompanhou perplexo as mortes nos hospitais públicos de Fortaleza, pela superlotação dos leitos de UTI. Ao menos 25 pessoas morreram na fila de espera em 25 dias.

O episódio tomou tal dimensão que chegou a merecer uma intervenção, mesmo que morna, do atual ministro da Saúde, Humberto Costa. Apesar do alarde, essa não é uma situação nova.

De janeiro a agosto de 2001, 224 pessoas morreram na fila – num único hospital público de Fortaleza – , sendo que ao menos 113 delas poderiam estar vivas se tivessem UTI. Fortaleza tinha então 326 leitos de UTI: 168 em hospitais públicos e 158 em hospitais particulares, 29% dos leitos necessários. Hoje são 510 leitos em todo o Estado, sendo 367 em hospitais públicos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), seriam necessários, apenas na capital, 1.150.

Esse, porém, é apenas um dos elementos do verdadeiro fracasso do sistema de saúde. O Ceará enfrenta um dos maiores surtos de dengue do país: 10.394 casos do tipo clássico e 123 de dengue hemorrágica, com 12 vítimas fatais. O número de casos de meningite com morte também deu um salto.

Enquanto o estado sofrer com a miséria e a pobreza, o número de vítimas nos hospitais – e que dirá fora deles! -, seguirá sendo assustador. Mais da metade da população vive abaixo do nível da indigência.

Mas a recente tragédia deixou clara a incompatibilidade entre a existência de hospitais particulares e o dever do estado de garantir saúde de qualidade. Enquanto pessoas morriam como moscas nas filas, a Associação dos Hospitais Particulares aproveitava para exigir o aumento da diária paga pelo SUS (R$ 170,00), para “ceder” um leito particular, cujo preço de mercado alcança a cifra de R$ 900,00. Uma das razões de não haver leitos disponíveis é que os planos de saúde privados ocupam os destinados a pacientes do SUS.

Exigir do governo Lula a estatização da rede de hospitais particulares, para garantir saúde pública de qualidade para todos, deve ser uma bandeira de todos os trabalhadores.

Post author Giambatista Brito,
de Fortaleza (CE)
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