Nahuel Moreno, em atividade na Argentina
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Há 18 anos, no dia 25 de janeiro de 1987, morreu Nahuel Moreno, dirigente e fundador da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT). Nesta página prestamos uma homenagem destacando um aspecto de sua militância: a luta pela construção da InternacionalUma vida inteira dedicada à Revolução. Esta frase sintetizaria a trajetória política do trotskista argentino Hugo Miguel Bressano, mais conhecido como Nahuel Moreno. Em uma entrevista um ano antes de sua morte, Moreno afirmava: “A maior parte de minha militância política esteve, e continua estando, voltada ao partido mundial, à construção da IV Internacional. O partido mundial é a prioridade número um do movimento operário, porque existem uma economia e uma política mundiais, às quais estão subordinadas as realidades nacionais”.

A passagem de Moreno por distintas prisões de países latino-americanos expressa o significado dessas palavras. Além de seu país natal, a Argentina, Moreno conheceu cárceres no Peru, na Bolívia e no Brasil.

Em 1978, quando esteve preso no Brasil, uma forte campanha internacional reuniu personalidades como o escritor Gabriel Garcia Marquez e Juan Lechin, o histórico dirigente da COB, entre outros, exigindo sua libertação à ditadura brasileira, que queria entregá-lo à sanguinária ditadura militar argentina.

Abrindo caminho
Moreno não começou a militar num grande partido. Ao contrário, teve de abrir caminho para o trotskismo no interior do movimento operário argentino. A luta pela implantação na classe operária sempre foi uma obsessão de Moreno, sendo também um traço marcante da corrente internacional construída por ele.

Moreno ingressou no movimento trotskista em 1940 e, em 1944, participou da fundação do Grupo Operário Marxista (GOM) que em 1947 adotou o nome de Partido Operário Revolucionário.

Nessa época, surgiam as grandes organizações sindicais na Argentina, e Moreno e o POR tiveram um papel destacado nesse processo, colaborando com a fundação de alguns dos mais importantes sindicatos como a Associação Operária Têxtil e o sindicato do frigorífico Anglo-Ciabasa, o maior do país.

Depois do golpe militar pró-imperialista que derrubou Perón, em 1955, Moreno participou como dirigente do Movimento de Agrupações Operárias (MAO) que incluía as organizações sindicais e políticas clandestinas do peronismo, que combateram a ditadura militar e a derrubaram.

As décadas de 1950 e 1960 estiveram profundamente marcadas pela Revolução Cubana. A guerra de guerrilhas se converteu em estratégia única de toda uma geração da esquerda latino-americana.

Moreno participou ativamente desse debate, polemizando com a estratégia de guerrilha e defendendo que o trabalho de organização na classe operária era o centro da atuação revolucionária.

Na década de 1970, da fusão do PRT (também fundado por Moreno) com uma corrente socialista, surgiu o PST (Partido Socialista dos Trabalhadores) que teve um importante papel nas lutas operárias e na resistência à ditadura militar. Declarado ilegal e ferozmente perseguido, teve vários de seus militantes presos e torturados e mais de cem assassinados.

Em 1986, Moreno fundou o MAS (Movimento ao Socialismo) do qual foi o principal dirigente até sua morte em 1987.

A luta pela construção da Internacional
Sua atuação na luta pela reconstrução da IV Internacional teve início em 1948, quando participou como delegado do POR ao segundo e ao terceiro congressos da Internacional realizados em 1948 e 1951, respectivamente.

A corrente internacional, fundada por Moreno, participou ativamente do movimento trotskista internacional. A intervenção de Moreno nos principais debates teóricos e políticos, assim como a intervenção em distintos processos revolucionários, forneceu as bases para a construção de uma corrente internacional presente em vários países latino-americanos.

Em 1952, como parte da IV Internacional, polemizou com sua direção sobre a Revolução Boliviana. Contrário à política oficial de apoio crítico ao Movimento Nacionalista Revolucionário (um partido burguês), Moreno propôs a palavra de ordem de “Todo poder à COB”. Em 1962, com Hugo Blanco, participou do processo revolucionário peruano e, em 1974, interveio na Revolução Portuguesa.

Nesse período, polemizou com Ernest Mandel, dirigente do Secretariado Unificado, sobre o método do Programa de Transição e o caráter dos partidos. A polêmica foi sintetizada no livro O Partido e a Revolução, publicado originalmente em 1973, com o título de Um Documento Escandaloso. Esse trabalho influenciou e formou toda uma geração de militantes.

Em 1979, impulsionou a formação da Brigada Simón Bolívar, da qual participaram militantes revolucionários de diversos países latino-americanos, que foram à Nicarágua combater com os sandinistas. A Brigada – primeira de seu tipo desde as Brigadas Internacionais que combateram na Revolução Espanhola – levou a Revolução à costa atlântica do país e foi uma das primeiras a entrar em Manágua.

Mandel, dirigente do Secretariado da IV Internacional, companheiro e adversário político de Moreno, talvez foi quem tenha melhor definido o significado da trajetória de uma vida dedicada à Revolução e à construção da Internacional: “Moreno foi um dos últimos representantes do punhado de quadros dirigentes trotskistas que, depois da Segunda Guerra Mundial, manteve a continuidade da luta de Leon Trotsky em circunstâncias difíceis”.

Moreno propôs criar o PT

No início de 1978, a organização trotquista, então chamada Partido Socialista dos Trabalhadores, lançou o Movimento Convergência Socialista, para Fundar um Partido Socialista. Em maio, a greve da Scânia, em São Bernardo do Campo, desatou um movimento grevista nacional. Por sugestão de Moreno, a CS passou a defender um partido classista, que expressasse as lutas operárias.

A CS foi a primeira organização a defender a criação do PT. Essa política foi defendida e aprovada primeiramente no Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, em janeiro de 1979. No IX Congresso dos Metalúrgicos do Estado de São Paulo, em Lins, José Maria, metalúrgico de Santo André, apresentou uma moção para “que se lance um manifesto chamando a todos os trabalhadores brasileiros a unir-se na construção de seu partido, o Partido dos Trabalhadores”. Só um delegado votou contra.

Ao mesmo tempo em que propunha uma aliança pelo PT, Moreno alertava que “Lula circunstancialmente, poderá ter posições positivas, mas sua linha geral será sempre oportunista.(…) Não há saída. Não discutam se é centrismo. (…) É oportunista, oportunista, oportunista”.

“A direção [do PT] não vai para a revolução porque reflete um grupo social específico, estranho à classe operária. (…) O que Lula reflete socialmente?”
Este alerta permitiu que a CS mantivesse a sua independência, diferentemente da maioria das organizações, que foram tragadas pelo lulismo. E permitiu também que rompesse com o PT, ajudando a formar o PSTU.

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