A onda de violência com métodos fascistas da burguesia da Meia Lua e o massacre de camponeses no departamento de Pando chocou o país e reascendeu a chama do processo revolucionário na Bolívia.

Em resposta à ofensiva reacionária, setores populares no maior bairro pobre dentro de Santa Cruz, o Plano 3000, organizaram sua autodefesa e puseram a União Juvenil Cruzenha (UJC) para correr. De Pando, Tarija e da região do Chapare (que abriga os cocaleiros) marcharam milhares de camponeses que cercaram Santa Cruz.
A condição para suspender o cerco era a devolução de todas as instituições públicas tomadas pela ultradireita. Na cidade de El Alto, onde começou a rebelião de outubro de 2003, a juventude se organizou e realizou grandes manifestações.

Nessa última semana também ocorreram duas importantes marchas exigindo julgamento e prisão do prefeito de Pando, Leopoldo Fernandez. Uma delas reuniu juventude, trabalhadores e “gremiales” (pequenos vendedores) de El Alto, que marcharam pelo centro de La Paz. A outra foi uma marcha nacional convocada pela COB (Central Operária Boliviana) que contou com forte presença da juventude. No mesmo dia ocorreram marchas em Cochabamba e Oruro (onde estão parte dos mineiros de Huanuni).

Em Cochabamba, junto aos camponeses, marcharam dois mil mineiros cooperativistas que diziam: “hoje somos dois mil, mas se necessitarmos ir a Santa Cruz, seremos 70 mil pela unidade de nosso país”. A Federação Nacional de Mineiros da Bolívia (FSTMB) declarou-se em estado de emergência e anunciou: “não permitiremos que se repitam massacres contra camponeses”. Na universidade pública de La Paz, ocorreram assembléias e uma marcha até o presídio de São Pedro, onde está detido o prefeito de Pando e mais 11 acusados pelo massacre.

Foram realizadas também várias manifestações populares exigindo a punição dos responsáveis pelo massacre. O governo propõe julgamento ao governador Leopoldo Fernandez e outros acusados, já que essa é uma forte exigência dos movimentos sociais. Mas os governadores opositores e a Corte Nacional de Justiça estão querendo evitar qualquer processo. É muito difícil que os camponeses aceitem a impunidade, pois vão cobrar de Evo que o governador e o vice-governador paguem pelo massacre.

Um organizador de derrotas
Apesar da mobilização das massas e da possibilidade de avançar no processo revolucionário e impor uma derrota à ultradireita, Evo Morales e a direção de seu partido, o MAS (Movimento ao Socialismo), cedem mais uma vez à burguesia. Os camponeses se mobilizam com disposição de enfrentar qualquer tentativa de golpe e de impedir futuros massacres, exigindo a punição dos chefes de toda a onda de violência. Mas Evo parece seguir os passos de Salvador Allende, pedindo aos trabalhadores que voltem para suas casas e que suspendam o cerco a Santa Cruz. Como se não bastasse, chama a burguesia a um acordo nacional.

A negociação está sendo discutida em Cochabamba, seguida por uma vigília de mais de dois mil camponeses, apesar dos pedidos de Evo de que a suspendam.

Os temas em discussão para o acordo são: suspensão dos bloqueios e marchas e devolução das instituições ocupadas. Em troca se decidirá quais dessas instituições seguirão sob o controle dos departamentos e quais o governo nacional controlará.
Também se discute: restituição do imposto do gás (IDH, em espanhol) aos departamentos; criação de um marco legal e jurídico para os estatutos autonômicos, quer dizer, o projeto de autonomia da oligarquia. Por fim, se negociam modificações no texto da Assembléia Constituinte para que num prazo de 30 dias possa ir a um referendo constitucional.

Em essência, Evo está entregando à burguesia exatamente tudo o que ela exigia. Seu argumento é de que essa seria a única forma de pacificar o país. Mas um acordo com a burguesia vai representar mais uma vitória e o fortalecimento da oligarquia. Desse modo, Evo organiza sua própria derrota e quer arrastar o movimento de massas para a desmoralização.

Atos em solidariedade ao povo boliviano
No dia 18 de setembro, cerca de 200 pessoas dos movimentos sindical, popular e estudantil de São Paulo realizaram um ato político em frente ao Consulado da Bolívia em apoio à luta do povo boliviano contra os ataques da ultradireita naquele país. Entre os organizadores estava a Conlutas. O cônsul da Bolívia, Jaime Valdivia, participou do ato.

No Rio de Janeiro, o ato foi realizado no dia 19, em frente ao consulado boliviano. Estiveram presentes a Casa das Américas, Morena Círculos Bolivarianos, Comitê da Palestina, Conlutas, MST, CMP, Movimento dos Sem-Teto, PCB, PSOL e PSTU.

Post author Nericilda Rocha, de La Paz
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