Duas semanas após a Volkswagen anunciar sua intenção de demitir quase 6 mil trabalhadores em todo o país, a General Motors divulgou seu plano de demissões, que atinge 960 trabalhadores da montadora em São José dos Campos (SP). A GM planeja reduzir em 10% seu quadro de funcionários na cidade. Atualmente, a fábrica conta com 10,5 mil operários e é responsável pela produção do Corsa, Meriva e S10.

O pretexto utilizado pela montadora para as demissões é o mesmo utilizado pela Volks, ou seja, valorizado, que teria causado queda nas exportações e prejuízo à fábrica.

Tal argumento esbarra em um outro anúncio da montadora norte-americana. A GM afirmou que irá contratar 970 em Gravataí (RS) para, segundo o próprio vice-presidente da empresa, “aumentar nossa participação no mercado interno”. Ou seja, a multinacional planeja, a exemplo da Volks, transferir os empregos para precarizar ainda mais sua mão-de-obra.

A farsa do câmbio
O suposto prejuízo causado pelo dólar baixo, principal desculpa para a ameaça da onda de demissões, não passa de uma farsa. No caso da Volks, a montadora está ampliando suas vendas no mercado interno. Além disso, o real valorizado permite que a empresa envie mais lucros à sua matriz. Essa situação permite ainda que tanto a Volks quanto a GM importem insumos, matérias primas e maquinários mais baratos, reduzindo os custos de produção das empresas.

Segundo a revista Istoé, 9 das 10 maiores empresas exportadoras do Brasil, Volks e GM entre elas, realizaram importações da ordem de US$ 12,7 bilhões em 2005.

Geralmente, as maiores exportadoras figuram também na lista das maiores importadoras. Apesar disso, o presidente da CUT, João Felício, e o dirigente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, alinham-se aos patrões afirmando que a culpa das demissões é do câmbio. “Sempre achamos que o câmbio tinha que ser melhor administrado. O governo não pode deixar simplesmente por conta do mercado”, afirmou Felício ao jornal o Estado de S.Paulo do dia 16. Já Paulinho disse que o governo deve encontrar formas de equilibrar rapidamente o câmbio.

Regalias para multinacionais
Ao mesmo tempo em que anunciam o fim de milhares de empregos, a Volks e a GM se beneficiam de milionárias regalias oferecidas pelo governo Lula. A Volks, mesmo após ter divulgado publicamente seu plano de “reestruturação”, vai obter este mês um empréstimo de R$ 497 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), segundo a revista Época do dia 15. Só durante o governo Lula, a montadora alemã levou nada menos que R$ 1,95 bilhão em financiamento público.

A GM também se esbaldou com os empréstimos de pai para filho concedidos por Lula. Em 2005, o governo disponibilizou um pacote de R$ 853 milhões para as multinacionais exportadoras (o Estado de S.Paulo do dia 5/5). O financiamento beneficiava, além da Volks, a GM e a Fiat.

Como se não bastassem os empréstimos oferecidos pelo governo federal para aumentar os lucros das montadoras, as fábricas ainda contam com a generosidade dos governos estaduais e municipais. Em meio a guerras fiscais cada vez mais ferozes, governadores e prefeitos engalfinham-se para oferecer isenções às multinacionais e atrair as montadoras. Em Gravataí, por exemplo, para onde a GM quer transferir centenas de empregos, além do salário ser bem inferior, a prefeitura do petista Daniel Bordignon ofereceu 30 anos de isenção do IPTU para a instalação da fábrica.
Enquanto governos federais, estaduais e municipais beneficiam cada vez mais as multinacionais, mais o emprego dos metalúrgicos brasileiros é reduzido e precarizado.

Trabalhadores resistem
Apesar das direções pelegas das centrais, os metalúrgicos estão indo à luta contra as demissões. No último dia 18, os trabalhadores da Volks de São José dos Pinhais (PR) realizaram uma paralisação contra o corte. A oposição à direção do sindicato no ABC, por sua vez, reivindica do governo a nacionalização da empresa caso a Volks insista nas demissões. Os metalúrgicos da montadora estão em estado de alerta, podendo parar a qualquer momento.

Em São José dos Campos, os trabalhadores da GM paralisaram suas atividades durante duas horas no último dia 16. Em assembléia, os metalúrgicos decidiram por uma jornada de lutas contra os ataques, buscando a unificação da resistência com os trabalhadores da Volks em Taubaté e no ABC. “Os trabalhadores não podem pagar a conta da ganância dos empresários e da política econômica do governo Lula”, afirmou Luiz Carlos Prates, o Mancha, do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos.
Além disso, o sindicato chama a unificação de todas as mobilizações em defesa do emprego. “É preciso que a luta em defesa do emprego seja assumida por todas as categorias e entidades combativas do país”, resume Mancha.

É preciso exigir do governo que, ao invés de beneficiar as multinacionais com mais regalias fiscais, nacionalize as fábricas em caso de demissões.
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