GM de Gravataí (RS), com 5,2 mil operários, também vai passar por férias coletivas
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Apesar disso, empresas concedem férias coletivas e algumas já demitemDepois dos bancos, as grandes montadoras são a bola da vez da crise econômica mundial. O setor automobilístico, um dos mais dinâmicos da economia do país nos últimos anos, passa por uma grave crise motivada pela escassez do crédito. Segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), a queda na venda dos veículos teve uma brusca reversão e apresentou queda de 13,8% em outubro.

As grandes empresas automobilísticas como Ford e GM já anunciam uma forte redução na produção e férias coletivas a milhares de metalúrgicos. O governo Lula, por sua vez, incluiu as grandes montadoras num pacote de benefícios a bancos e empresas. O Banco do Brasil vai liberar uma linha de crédito de R$ 4 bilhões às financeiras das montadoras, a fim de custear as compras a prazo.

Poucos dias depois, o governo de São Paulo anunciou mais R$ 4 bilhões para as montadoras, através do banco estadual Nossa Caixa. Considerando que a compra da Nossa Caixa pelo Banco do Brasil está praticamente fechada, é evidente que uma operação dessas proporções não poderia ter sido realizada sem o aval do governo federal. Com isso, o governo vai dar cerca de R$ 8 bilhões somente às montadoras. Só para se ter uma idéia, todo o orçamento para o Bolsa Família em 2008 mal ultrapassa os R$ 10 bilhões.

Apesar de alto, esse montante não deve ser suficiente para salvar o setor, pelas próprias contas das montadoras. Segundo a Anfavea, algo como 70% de todas as vendas do setor é a prazo. Até setembro, os bancos liberavam, em média, R$ 4,5 bilhões em empréstimos para a compra de veículos, mais R$ 3,5 bilhões em leasing. Ou seja, os recursos públicos liberados nos últimos dias é o suficiente para segurar apenas um mês nas vendas.

A simples desaceleração no setor automotivo já dispara um efeito em cadeia, atingindo também empresas de autopeças. Já ocorrem demissões em massa em alguns setores. No último dia 9, em pleno domingo, a empresa de autopeças Torque de Rio Claro, interior de São Paulo, demitiu 480 funcionários. A empresa fornece peças para a Volkswagen. Outros 750 trabalhadores terão férias coletivas.

Remessas
Ao mesmo tempo em que recebem bilionários recursos do governo, as grandes montadoras insistem em conceder férias coletivas, causando expectativa de demissão para milhares de operários. Mais do que isso, as montadoras batem recordes na remessas de lucros para suas matrizes no exterior.

A fim de cobrir parte do rombo causado pela crise internacional, as filiais instaladas no Brasil remetem os lucros para fora. De janeiro a setembro, as montadoras remeteram juntas 4,8 bilhões de dólares. A GM, por exemplo, está à beira da falência e depende das remessas dos lucros das filiais na Ásia, África e América Latina para se sustentar.

A crise da montadora norte-americana nos EUA já se estende por quatro anos, período em que os lucros nas filiais compensaram essas perdas. O agravamento da crise, porém, fez saltar os prejuízos da GM, que chegaram a 2,5 bilhões de dólares no último trimestre. Tal situação pressiona um aumento ainda maior de remessas, desviando investimentos no Brasil para tapar o buraco das empresas lá fora.

Que os ricos paguem pela crise
Durante os anos de crescimento econômico, as montadoras instaladas no país utilizaram a força de trabalho nos países periféricos para sustentar os lucros das matrizes. Com o aumento da produção, aumentou também o ritmo de trabalho. As multinacionais ficaram com o lucro e os trabalhadores com inúmeras doenças ocupacionais. Com a crise, as montadoras querem impor os prejuízos nas costas dos trabalhadores, com desemprego em massa e rebaixamento salarial.

O PSTU defende o controle de capitais, a fim de barrar a remessa de lucros para fora. Defende também a estatização, sob controle dos trabalhadores, das empresas, multinacionais ou não, que insistirem em demitir.