Férias são o principal recurso usado pelas empresas metalúrgicas e pelas siderúrgicas para diminuir a produçãoOs operários das grandes montadoras, como GM, Ford, Volks e Fiat, já conheceram grandes crises, como as de 1989 e 1993. Mesmo os que viveram aqueles dias, assustam-se ao ver quase metade de seus colegas em casa.

Dos 113 mil empregados do país, 41,6% estão em férias coletivas. Há trabalhadores que ficarão em casa por 50 dias, como na Volvo, em Curitiba. Muitos retornam de um período de 15 dias para trabalhar apenas uma semana. Todas as empresas devem parar completamente entre 22 de dezembro e 5 de janeiro. Na Peugeot de Porto Real (RJ), os trabalhadores já deixam a empresa no dia 8 de dezembro.

O levantamento do jornal Folha de S. Paulo de 28 de novembro mostra que a GM é a que tem mais procurado dispensar a mão-de-obra. As férias na empresa atingem 14.100 trabalhadores em São José dos Campos (SP), São Caetano do Sul (SP) e Gravataí (RS). No mesmo dia da reportagem, a GM enviou mais um grupo para casa, dando férias na Powertrain, setor que fabrica motores e transmissões, até 25 de janeiro.

Pé no freio
O setor automotivo, responsável por 24% do PIB do país, vive uma crise de superprodução. Em 2002, o país produziu 1,7 milhão de veículos. Em 2008, a meta de vendas era de 3 milhões.

Agora, que a crise veio, a ordem é reduzir a produção. As concessionárias, antes repletas de vendedores, promoções e formas inusitadas de abordagem, hoje amargam o desânimo de uma quarta-feira de cinzas. As vendas de novos já haviam caído 11,6% em outubro, comparadas com as de setembro. A previsão é de que a queda de novembro seja de cerca de 20%. Assim, a meta de 3 milhões de veículos em 2008 dificilmente será atingida.

A ordem tem sido botar o pé no freio e diminuir os estoques. No começo de outubro, as montadoras possuíam estoque para 38 dias. Esse número caiu com as férias e o fim das horas-extras.

A busca para reduzir o estoque também ocorre na siderurgia. Na CSN, vários setores estão parados, com estoques acumulados. Em Volta Redonda (RJ), pode-se perceber os ecos da crise do setor automotivo. O estoque de bobinas de aço, usadas na produção de carros, está cheio.

Demissões
O período de festas está sendo usado pelos patrões como uma justificativa para reduzir a produção, deixando os trabalhadores em casa. Assim, ganham tempo para imaginar uma saída e pressionar o governo por pacotes de ajuda.

Mas há empresas que não querem esperar. As demissões têm ocorrido, ainda que, na maioria, com números reduzidos. As pequenas empresas e o setor de autopeças têm liderado os cortes. Apenas na região do ABC paulista, cerca de 300 empregos sumiram.

Mas já há demissões em massa. A Volvo começou dezembro demitindo. Após os 102 em Bauru (SP), cortou 430 em Curitiba, sendo que 180 eram efetivos. No Rio de Janeiro, a siderúrgica Vale Sul, que produz alumínio e pertence ao grupo Vale, demitiu mil trabalhadores de uma só vez.

A Fiat, campeã de vendas de carros em outubro, é também campeã de demissões. O número exato parece ser um segredo guardado a sete chaves pela empresa, e respeitado pela imprensa. Segundo um operário ouvido pelo Opinião Socialista, que não quis se identificar, as demissões podem chegar a 1.600. “Uma primeira leva foi em novembro. Só ali foram mil. Agora devem ter ido mais uns 600”.

A maioria dos demitidos parece ser de trabalhadores com menos de um ano de casa, boa parte contratada em 2007, na abertura do terceiro turno da empresa. “Na época, abriram o turno para produzir com força total. Trabalhava-se no limite. Agora são poucos ali”, afirma o operário.

Nem o sindicato sabe exatamente quantos foram os demitidos dos cerca de 12 mil funcionários. No portal da central CTB, os sindicalistas estimam que centenas foram demitidos em dias.

A Fiat exige, agora, o banco de horas, o fim da estabilidade de 60 dias e o atraso no pagamento da PLR. No dia 13 de novembro, o presidente da empresa, Sergio Marchionne, brincava com um jornalista: “Crise, que crise?”. Vinte dias depois, a bravata revelou-se um blefe.