Desde o início do ano, o governo federal vem transferindo bilhões de reais para as multinacionais instaladas no país. O argumento para esta medida é que, assim, são evitadas demissões e queda da produção nestas empresas. A realidade, porém, é outra.

A produção das montadoras já recuou mais de 13% este ano, ao contrário das vendas. Essas tiveram um ligeiro aumento, desovando parte dos carros que ficaram nos pátios das empresas entre os meses de outubro e janeiro.

Nas páginas do Tribuna Metalúrgica, jornal oficial do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, não há nada sobre as demissões nas fábricas da base do sindicato da CUT. Nenhuma linha sobre os planos de demissão voluntária (PDV), demissões dos trabalhadores com contratos temporários e aprendizes.

Enquanto as montadoras embolsam parte da redução do IPI, pois não repassam o desconto total para o preço final do produto, aumentam o ritmo de trabalho daqueles que ficam nas montadoras. As empresas usam o dinheiro do BNDES, conseguido em pacotes de benefícios, para demitir parte dos trabalhadores.

O assédio moral nas linhas de montagem
A montadora Volkswagen, ao mesmo tempo em que anuncia 200 contratações na planta de São Bernardo do Campo, abre PDV para 300 trabalhadores administrativos e horistas indiretos (logística, qualidade etc.). De novembro de 2008 a julho de 2009, já são mais de mil trabalhadores que deixaram a empresa desta forma. Quanto ao ritmo de trabalho, esse chega ao limite.

Nas montadoras de caminhões Scania e Mercedes-Benz, as demissões através de PDVs chegam a níveis dramáticos. Os trabalhadores que as empresas queriam demitir foram colocados em licença-remunerada: aí começou o drama desses operários.

Na Scania, são 500 trabalhadores nessa situação. A empresa colocou outros 2.500 em parada técnica de dez dias, chamou os 500 trabalhadores afastados e começou um verdadeiro terrorismo. A Scania impôs que esses trabalhadores aderissem ao PDV ou seriam demitidos de qualquer jeito e sem o beneficio. Muitos são lesionados e têm, por isso, estabilidade no emprego. Mesmo assim, estão sendo submetidos a todo tipo de pressão.

Na Mercedes, os 1.200 trabalhadores em licença-remunerada e os temporários que estão dentro da empresa vivem a incerteza do emprego. Todos os operários colocados em licença estão sendo convocados pela empresa e forçados a pedirem demissão. Tudo acontece em acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, justo nessa fábrica de onde vem o atual presidente da entidade, Sérgio Nobre, que vem defendendo a redução do IPI e realizando fóruns de debate com as montadoras sobre saídas para a crise. Sobre as demissões e o assédio nas empresas da região, nada fala ou faz.

Trabalhadores param por duas horas em São Caetano
Depois de demitir mais de 1.600 trabalhadores temporários no início do ano, a GM de São Caetano do Sul mantém os operários da linha numa situação insuportável. Aumentaram os acidentes, o assédio moral e as doenças profissionais. Depois de meses de omissão e silêncio, o sindicato, filiado à Força Sindical, foi obrigado a promover uma paralisação de duas horas na entrada do primeiro e do segundo turnos, no último dia 7 de julho, para exigir contratações.

Estabilidade e redução da jornada
Hoje, mais do que nunca, é necessário debater, discutir e ganhar os trabalhadores para exigirem do governo Lula que edite uma medida provisória que garanta a estabilidade no emprego. O governo, se quisesse, também poderia decretar a redução da jornada para 36 horas sem redução de salários e direitos.

Isso não é nenhum absurdo e nem impossível. Até a década 1960, havia a estabilidade, derrubada pelos militares que criaram, no lugar, o FGTS. O governo poderia, inclusive, ratificar a convenção 158 da OIT, que dificulta as demissões imotivadas. Ao invés disso, o que tem feito é transferir bilhões para as montadoras, que não garantem os postos de trabalho e pioram, dia após dia, as condições de trabalho.

  • Baixe o boletim distribuído na Scania pelo Ferramenta de Luta, grupo de oposição ao sindicato (.pdf)