A crise mundial pegou o Brasil numa onda contrária, num momento de crescimento. Mas isso não vai impedir que o país sinta os seus efeitos, como pregava o governo. Um dos sintomas mais evidentes da crise é o anúncio quase simultâneo de paralisação de parte da produção de grandes fábricas e montadoras, com o anúncio de férias coletivas. Grandes nomes da indústria automobilística e de autopeças já sentem a restrição do crédito e redefinem agora sua produção.

A General Motors anunciou férias coletivas a partir do dia 20 de outubro nas plantas de São Caetano do Sul (SP), São José dos Campos (SP) e Gravataí (RS). Em São José dos Campos, a paralisação vai atingir cerca de dois mil trabalhadores da linha de montagem do Corsa.

Já a Fiat anunciou paralisação da produção por dez dias na fábrica de Betim (MG). A Volkswagen vai conceder férias coletivas de dez dias a 900 trabalhadores da planta de São José dos Pinhais (PR). Na semana anterior, a fábrica já havia cortado as horas extras.

Na Zona Franca de Manaus, as montadoras de motocicletas Honda e Yamaha vão parar a produção também por dez dias a partir do dia 20. Só a Honda vai mandar para a casa cerca de 5 mil trabalhadores. Na região, mais de 10 mil trabalhadores de 16 empresas entrarão em férias coletivas nos próximos dias.

O cancelamento das horas extras e as férias coletivas abrem a perspectiva de uma onda de demissões no próximo período. O fato ganha ainda mais gravidade, pois o setor automobilístico foi um dos que mais cresceram no país nos últimos anos, com a instalação de praticamente todas as principais marcas, aumentando o parque produtivo e o número de trabalhadores metalúrgicos.

O setor siderúrgico também começa a diminuir sua produção. Siderúrgicas de Minas e do Pará já desligam boa parte de seus fornos. Reflexo da redução da demanda por parte dos EUA e da Ásia, maiores consumidores de minério. No Pará, as siderúrgicas também estão dando férias coletivas a seus funcionários.

Empresas já têm prejuízos
A percepção de uma crise para o próximo período não é, porém, algo localizado no setor automobilístico e exportador. Pesquisa da revista Exame revela que quase 70% das empresas brasileiras já sentem os efeitos da crise. Para enfrentar seus efeitos 54% afirmam que a melhor estratégia é cortar custos. Quase a mesma proporção das empresas que já revisam seus planos de investimentos para os próximos três anos.

Prejuízos, cortes nos custos e na produção. O que é uma “readequação” para as empresas, para os trabalhadores tem um significado muito claro. Demissões, desemprego e miséria.

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