Lula: ``A decisão é do presidente da República``
Ag. Brasil / arquivo

Um dia após a reeleição do presidente Lula, o ministro Tarso Genro proclamou o fim da “Era Palocci” na economia. Setores da esquerda e própria imprensa burguesa tomaram a declaração como uma guinada “desenvolvimentista” para o segundo mandato de Lula. Segundo a imprensa, Tarso falou em nome de todo um setor do governo – Dilma Rousseff, Guido Mantega, Marco Aurélio Garcia, entre outros – que defende a promoção de maiores taxas de crescimento econômico.

A declaração provocou a reação dos setores chamados “monetaristas” do governo, ou seja, os representantes das alas que defendem maiores cortes fiscais, manutenção das taxas de juros etc. Depois da reação do mercado financeiro (as bolsas registram um pequena queda no dia 30 temendo uma dança das cadeiras na equipe econômica), Lula entrou em ação e disse que nada mudará na sua política econômica e defendeu seu ex-ministro: “O que acontece hoje na economia teve início com Antonio Palocci” – e completou – “A decisão [da economia] é do presidente da República, não do Palocci“.

Variações sobre um mesmo tema
Enganam-se aqueles que julgam existir profundas diferenças entre as alas “monetarista” e “desenvolvimentista” dentro do governo petista. Não há setor que defenda uma política econômica onde o Estado tenha qualquer função de promover o “desenvolvimento”. Não passa pela cabeça de nenhum integrante da dita ala “desenvolvimentista” reestatizar as estatais privatizadas, aumentar o orçamento do Estado nas áreas sociais, ampliar direitos e todos os demais pontos que caracterizaram os chamados planos econômicos desenvolvimentistas no passado.

No fundo, as diferenças no interior do governo refletem posições distintas de frações da burguesia brasileira sobre a economia. Não estão sendo debatidos os pilares fundamentais do atual plano econômico neoliberal porque todos têm acordo em mantê-lo. O que se discute é qual das frações da burguesia brasileira vai ganhar mais – e quanto. A disputa é entre aqueles que desejam uma diminuição tímida das taxas de juros – para elevar um pouco mais a ínfima taxa de crescimento, aproveitando um pouco mais das migalhas do crescimento econômico mundial – ou aqueles que querem mantê-las para manter um maior nível de confiança aos “investidores” estrangeiros.

Todos, entretanto, têm acordo em manter a “ortodoxia”, ou seja, continuar com a política de pagamento de juros a credores da dívida pública (superávit primário), metas de inflação, livre valor do dólar e juros altos para engordar os cofres dos banqueiros internacionais. Isso vai se reforçar com a reforma ministerial de Lula, onde se cogita a nomeação do ex-ministro da ditadura Delfim Neto, que se notabilizou recentemente ao defender o chamado “déficit nominal zero”, uma política radical de ajuste que significaria um brutal corte em áreas sociais.

Por outro lado, todos esses senhores (sejam os “desenvolvimentistas” ou “monetaristas”) possuem outro grande acordo para ampliar a remuneração dos capitalistas. Trata-se do plano de implementação das reformas na Previdência e a trabalhista. A primeira pretende aumentar a idade mínima para aposentadoria e a segunda diminuir o chamado custo trabalho, destruído direito históricos dos trabalhadores, para ampliar a taxa de lucro dos empresários.

A verdadeira disputa no segundo governo Lula, portanto, vai se dar no terreno da luta contra o governo e suas reformas.