Ao contrário do que dizem os chavistas, não existe na Venezuela só a disputa entre Chávez e a oposição de direita. Este ano foi marcado pela entrada em cena de importantes setores do movimento de massas.

Um exemplo foram as mobilizações operárias, como a luta da fábrica Sanitários Maracay, violentamente reprimida pela polícia. Os petroleiros – o principal setor do proletariado venezuelano – fizeram suas primeiras greves desde a mobilização vitoriosa contra a greve patronal de 2003. Desta vez, enfrentaram a polícia chavista, com cerca de 30 feridos em Zúlia. Não se trata de mobilizações diretamente contra o governo, mas por salário e pela manutenção de emprego, que se politizam por se chocarem com a repressão do governo.

Entrou em cena, também, o movimento estudantil. Não se pode confundir as lutas com suas direções. Muitas vezes um pelego corrupto dirige uma mobilização salarial e seria um grave erro decidir “não participar da mobilização por causa do pelego”. Atuando assim, se deixaria esses burocratas com as mãos livres para dirigir a luta e traí-la.

Ao contrário do que dizem os chavistas, as mobilizações estudantis não eram de “direita”, mas democráticas. Como a esquerda venezuelana capitula diretamente a Chávez, foram majoritariamente as correntes de direita que dirigiram as lutas estudantis. Grupos como Bandera Roja, completamente corrompido pela direita. Mas não se pode confundir a base com a direção. Não é por acaso que na maior mobilização dos estudantes, Manuel Rosales (candidato a presidente da direita) foi impedido de falar.

E o movimento estudantil foi o principal setor a se enfrentar diretamente com Chávez e o projeto da reforma. Também foi um setor reprimido pelo governo, que se utilizou inclusive de franco-atiradores dos bandos chavistas para atacar as mobilizações.

O derrotado foi Chávez, não as massas
O projeto de reforma era, portanto, uma manobra autoritária de um governo burguês. Existiu uma luta democrática vitoriosa na Venezuela. E quem saiu enfraquecido foi Chávez, e não os trabalhadores e os estudantes.

Evidentemente, existe hoje uma enorme confusão política criada pelo governo e seus apoiadores entre as massas. Mas esta realidade acabará por se impor. Como será compreendido o enfraquecimento do governo pelos trabalhadores que desejam agora se mobilizar por seus salários, e antes eram reprimidos pelo governo? Não se sentirão mais fortes para lutar?

Chávez foi derrotado porque seu governo nacionalista burguês já não vive mais seu apogeu. A insatisfação social crescente na Venezuela mostra os limites do nacionalismo burguês, que não rompe com o imperialismo e por isso não pode mudar realmente a vida dos trabalhadores. O sentimento democrático das massas não permitiu que Chávez avançasse seu plano que visa controlar tanto a burguesia como os trabalhadores. Começa a haver mobilizações que agora devem se estender.

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