Assembléia lotada no turno da noite
Daniel de Oliveira

Boicote de funcionários, professores e alunos teve adesão maciça na faculdade e já traz vitórias para o movimento, contestando fortemente os interesses mercadológicos e o autoritarismo da mantenedoraA mobilização
Na manhã da última quarta-feira, dia 26 de março, 400 estudantes se reuniram em frente ao restaurante da Faculdade Cásper Líbero, em são Paulo (SP), para discutir a situação das refeições que são servidas aos freqüentadores do prédio, que fica no histórico número 900 da Avenida Paulista.

Para a surpresa de todos, um boicote geral surgiu e, em pouco tempo, os lanches e refeições não eram mais consumidos por ninguém. Além disso, a organização foi exemplar: há duas assembléias por dia nos intervalos de aula, em que, além de discutir, os alunos e funcionários servem-se de lanches e sucos que são comprados com mais de 200 reais de arrecadação por assembléia.

Os estudantes entendem que o fato da não atender às necessidades da comunidade acadêmica, principalmente no que diz respeito aos preços, é reflexo de algo maior e, portanto, suas reivindicações transcendem essa questão e buscam discutir os rumos da faculdade. Os estudantes reivindicam que no espaço da antiga lanchonete seja construído um bandejão e que o contrato da rede Monet, empresa que administra o restaurante, seja aberto. Também exigem que sejam melhorados os serviços prestados aos alunos, que as relações da Fundação com a Faculdade sejam transparentes e, finalmente, que a direção da Fundação marque uma audiência pública com os estudantes.

Os problemas
Há tempos a situação Monet era discutida. O descontentamento foi pautado diversas vezes nos órgãos de representação de professores e alunos, mas nenhuma ação foi tomada pela mantenedora da faculdade (a Fundação Cásper Líbero). Ao contrário, no final de 2007, no órgão máximo de deliberação da Faculdade (o Conselho Técnico Administrativo), houve consenso entre professores e estudantes de que a situação estava ruim. A resposta da mantenedora a isso foi o fechamento do outro ponto de venda da lanchonete, o que sobrecarregou ainda mais os serviços, e a renovação do contrato por mais dois anos.

A partir daí ficou nítido que o que menos importava era a opinião de estudantes, professores e funcionários. Além dos problemas de qualidade e preço alto do Monet, há outros pontos importantes, como o preço abusivo de xérox (18 centavos por folha); multas abusivas na biblioteca (há estudantes devendo mais de cem reais por ter atrasado devolução de materiais); aumento do preço da mensalidade e do número de alunos por sala, sem o necessário aumento de infra-estrutura (há salas de aula com mais de 60 alunos pagando mensalidades de mais de R$ 1.000). Há ainda uma reforma da grade curricular de jornalismo em andamento sem nenhuma discussão com os estudantes e inclusive com uma parcela dos professores.

Atrás das cortinas
Após dois dias de mobilização, os estudantes já contam com uma vitória. A partir do dia 1º de abril, a parte da rede Monet que serve refeições não funcionará mais. Além disso, o vice-diretor já se pronunciou para que os estudantes se reúnam com a direção da Faculdade para decidir entre quatro propostas que serão apresentadas por eles.

Mas os alunos já conseguiram ver o que está por trás de todos os problemas enfrentados no dia-a-dia. A Faculdade é totalmente controlada pela Fundação e está a serviço das vontades da mantenedora, que só busca resultados financeiros imediatos. Segundo a Fundação Cásper Líbero, a Faculdade dá prejuízo. Mas as contas – que deveriam ser abertas por lei – não são disponibilizadas e não há autonomia pedagógica ou financeira. Na prática, os estudantes pagam suas mensalidades à Fundação, que faz um repasse nebuloso para a faculdade, interferindo em todas as suas decisões.

A mobilização já abriu as cortinas que escondiam os problemas. Agora, os estudantes querem discutir os rumos da faculdade e entender porque a Fundação teme tanto falar com eles.