Na quinta, 30 de dezembro, a Bolívia viveu um dia de contundentes mobilizações e de greve geral do transporte urbano em todo o país. O “gasolinazo” de Evo Morais gerou uma situação impensável até há pouco tempo. Apesar de que os dirigentes da COB, completamente submissos ao governo, chamaram mobilizações para somente a partir de 3 de janeiro, as associações de moradores dos distritos da cidade de El Alto, várias da cidade de La Paz, os professores e a população em geral protagonizaram uma marcha multitudinária contra o “gasolinazo” decretado pelo governo.

Havia muita expectativa sobre como seriam as mobilizações, já que na noite anterior Evo fez uma pronúncia à nação, na qual anunciou 20% de aumento salarial para os policiais, militares, professores e setor da Saúde e a criação de um seguro agrícola para pequenos camponeses e o apoio aos fazendeiros de soja. Ou seja, depois dos impactos do aumento de 83% nos combustíveis, o Presidente apresentou medidas mitigadoras nada convincentes à população. Ao mesmo tempo, o governo tenta impedir os protestos, apoiando-se nos dirigentes ligados ao governo. Além disso, procura reunir-se em separado com os mineiros e com a COB para tentar conter a ameaça de greve geral.

O esforço de Evo não teve efeito. Hoje, bem cedo, as associações de moradores de El Alto desceram ao centro de La Paz em uma marcha multitudinária. O povo que esteve à cabeça dos protestos de 2003, agora bronqueado, gritava palavras de ordem contra Evo Morales, Álvaro García Linera, os seus ministros e contra o “gasolinazo”, e no caminho eram aplaudidos pela população. À tarde, a quantidade de marchas aumentou, deram-se nas principais cidades do país e em algumas províncias. Em La Paz, vários setores protestaram; professores, associações de moradores, motoristas, sindicatos, entre outros, que depois se unificaram para tentar entrar na Praça Murillo. A polícia reprimiu-os duramente lançando gás lacrimogêneo por todo o centro da cidade e detendo todos manifestantes que encontravam no seu caminho. A cidade parecia um campo de batalha onde os manifestantes tentavam se defender com pedras da polícia e escapar dos gases. Na véspera do ano novo, La Paz esteve completamente paralisada e a população caminhava das suas casas até o centro para participar dos protestos, evidenciando a bronca geral pelas medidas do governo. As donas-de-casa diziam que “este governo passou dos limites” e que “se mostra igual aos governos neoliberais anteriores”.

Mas, o ocorrido parece ter sido somente um ensaio, porque as manifestações tendem a se ampliar: os mineiros de Huanuni anunciaram marchar para La Paz na próxima segunda-feira, 3 de janeiro; a direção da COB, pressionada pela rejeição geral das bases operárias à medida do governo, promete convocar uma mobilização para segunda-feira na cidade de La Paz; na terça-feira marcharão os trabalhadores industriais. Isto é, o horizonte é de crescimento e massificação dos protestos que exigem de Evo Morales a revogação do Decreto Supremo 748 que elevou em 83% o preço dos combustíveis e fez disparar a tarifa do transporte, e a subida de todos os produtos da cesta básica familiar.

A situação é grave. Os preços de quase todos os produtos duplicaram, são longas as filas das donas-de-casa para conseguir comprar arroz, açúcar, farinha, antes que subam ainda mais. Há a possibilidade de escassez de alimentos e essa incerteza explica a bronca dos trabalhadores e do povo pobre. A medida do governo evidenciou todo o seu compromisso com as transnacionais imperialistas. Em Bolívia os preços dos combustíveis são subvencionados pelo Estado desde 1997. A eliminação dos subsídios significou um aumento brutal nos preços dos combustíveis, igualando-os aos do mercado internacional.

O governo tentou justificar esta medida com o falso discurso de combate ao contrabando. No entanto, por trás do decreto 748, estão os incentivos às transnacionais que operam na produção de gás natural e petróleo, como a Petrobras. Agora estas empresas terão os seus ganhos duplicados. Antes as petrolíferas recebiam do governo 27 dólares por barril de petróleo produzido, agora receberão 59 dólares. Esta foi a exigência que as transnacionais fizeram ao governo para voltar a “investir”, em outras palavras, manter seu controle dos nossos recursos naturais. O “gasolinazo” foi um duro golpe à economia popular, e um grande presente de natal às petrolíferas.

Por tudo isso, chamamos os trabalhadores, camponeses e a juventude a continuar nas ruas até a revogação do decreto 748. Mas não podemos ficar nisso, é necessário retomar a Agenda de Outubro e lutar por uma verdadeira nacionalização dos recursos naturais, através da expulsão das transnacionais que seguem sangrando a economia boliviana. Outra tarefa importante dos trabalhadores é a luta por um justo aumento salarial, por isso recusamos o aumento de 20% e exigimos que o governo aumente em 100% o salário dos trabalhadores e o salário mínimo nacional, que hoje é equivalente a apenas 100 dólares.

La Paz, 30 de dezembro de 2010.

Grupo Lucha Socialista
Seção simpatizante da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT-QI}