José Roberto, de Itabuna (BA)

A cidade de Itabuna, no sul da Bahia, viveu nessas últimas semanas dias que relembraram muito Junho de 2013. Protestos que fecharam a cidade e colocaram o governo Fernando Gomes (sem partido) de joelhos, fazendo-o recuar e suspender o aumento da tarifa de ônibus.

Em 8 de janeiro o prefeito assinou decreto reajustando a tarifa em 15,7%, que passaria de R$ 2,85 para R$ 3,30, um verdadeiro soco no estômago de milhares de trabalhadores e estudantes que dependem diariamente do transporte público. O decreto passaria a vigorar a partir do dia 8 de fevereiro.

Tão logo foi assinado o decreto diversas entidades como CSP-Conlutas e movimento estudantil convocaram a organização da Frente de Luta Contra o Aumento da Tarifa e iniciou uma série de atividades para organizar a luta pela base.

Com a consciência de que não existe nenhuma onda conservadora, os lutadores e as lutadoras da cidade organizaram a Frente Contra a Tarifa e foram realizar o trabalho por baixo para mobilizar os trabalhadores e a juventude nos bairros pobres. Foram realizadas diversas panfletagens nos bairros, em todas as feiras livres, no centro e nos pontos de ônibus. Um trabalho firme e disciplinado com aulas públicas e diálogo com os usuários do transporte.

No dia 30 de janeiro foi realizada uma manifestação que saiu da praça do bairro São Caetano e parou na prefeitura, onde foi realizada uma ocupação. Capangas armados do prefeito tentaram intimidar os manifestantes, mas o ato ocorreu e foi muito vitorioso. Em seguida, os manifestantes seguiram até o Ministério Público Estadual (MPE) onde foi entregue uma Ação Civil Pública pedindo a suspensão do decreto que reajusta a tarifa por diversas irregularidades.

Mais um caso de fraude da Família Gulin
Em 2015, a Câmara de Vereadores, sob a presidência do PCdoB, aprovou a licitação do transporte concedendo 20 anos para empresa vencedora prorrogáveis por mais 20 anos. Dentre as obrigações estavam a criação imediata de duas estações de transbordo e renovação da frota com ônibus novos com ar condicionado.

As empresas vencedoras pertencem ao Donato Gulin, que domina uma grande fatia do transporte no Brasil e está envolvido em diversas fraudes de licitação no Paraná e diversas cidades do Brasil como Porto Seguro. Nenhuma das obrigações previstas no contrato da licitação foram cumpridas pelas empresas concessionárias ao longo desses anos. Mesmo assim foi dado aumento da tarifa.

Itabuna já tem uma tarifa atual muito cara combinada com um péssimo serviço de transporte público. A maioria dos ônibus são velhos e já tem mais de 20 anos de uso, faltam linhas em vários bairros e população passa por transtornos todos os dias esperando horas nos pontos. Os rodoviários são obrigados a acumular duas tarefas de motorista e cobrador, colocando em risco sua saúde e a segurança dos passageiros. Tudo isso causa muita revolta nos usuários do transporte na cidade.

“No carnaval do arrocho, passagem a R$ 3,30 é um roubo!”
Foi com esse lema que a Frente Contra Aumento da Tarifa organizou um bloco de carnaval que denunciou o aumento durante os festejos da lavagem do Beco do Fuxico, a festa mais tradicional da cidade no dia 18 de janeiro.

Vestidos com camisa que denunciava o roubo da tarifa, com panfletagem e palavras de ordem os militantes da Frente causaram um grande impacto ao levar pra festa a luta contra aumento. Foram vendidas mais de 30 camisas do bloco e distribuídos centenas de panfletos.

Nenhuma confiança na Câmara de Vereadores!
A Câmara de Vereadores de Itabuna assistiu a toda essa situação calada e omissa. A maioria dos vereadores ficavam em silêncio e obediente ao prefeito para garantir seus privilégios e seus cargos na prefeitura. Mas uma crise envolvendo a distribuição de cargos numa UPA (Unidade de Pronto Atendimento) que será inaugurada fez estourar uma crise, que causou o rompimento da base do governo. Isso combinado com a revolta da população, a mobilização da Frente construída por baixo, fez com que 13 dos 21 vereadores convocassem sessão extraordinária para o dia 5 de fevereiro, onde foi analisado e suspenso o decreto que reajustava a tarifa.

Não temos nenhuma ilusão de que os vereadores – sempre acostumados a corrupção, a suas benesses, privilégios e cargos no governo – irão enfrentar de maneira independente os ataques do prefeito Fernando Gomes. Mas essa suspensão constitui uma vitória para a luta contra o aumento da tarifa, mesmo que seja uma vitória parcial.

Empresas de ônibus desobedecem a lei e passam a cobrar tarifa reajustada
Com a derrota na Câmara, as empresas de ônibus tomaram uma atitude que demonstra bem do que as máfias do transporte são capazes de fazer para roubar a população: passaram a cobrar a tarifa de R$ 3,30, passando por cima da decisão do legislativo municipal.

Na noite do dia 7 de fevereiro, as empresas colaram comunicado nos ônibus informando que a tarifa seria reajustada para R$ 3,30.

8 de fevereiro: o dia que Itabuna parou contra o aumento da tarifa
Com a notícia de que as empresas de ônibus fariam a cobrança ilegal da tarifa, a Frente de Luta contra Aumento da Tarifa organizou no dia 8, pela manhã, uma manifestação que paralisou o centro da cidade. Foi uma verdadeira guerra!

Às 7h da manhã, dezenas de policiais militares já estavam de prontidão na Av. Amélia Amado para impedir os manifestantes de fecharem a via, mas não conseguiram. Na Praça Camacã, os sindicatos ligados à CTB esvaziaram pneus de dezenas de ônibus. O trânsito ficou paralisado e a população descia dos ônibus para apoiar o movimento. Muitos trabalhadores e trabalhadoras, revoltados com o aumento abusivo da tarifa, falaram no microfone e apoiaram a luta.

À tarde, o vice-prefeito Fernando Vita – assumiu o lugar do prefeito Fernando Gomes, que pediu licença fugindo das manifestações – acuado, suspendeu o decreto do executivo que autoriza o aumento da tarifa e obrigou as empresas a voltarem a cobrar o valor antigo.

Agora é hora de derrubar a corja de Fernando Gomes e a máfia do transporte
A luta contra o aumento da tarifa e toda a força da mobilização organizada demonstrou cabalmente que somente a luta pode impedir que o governo, associado à máfia das empresas de ônibus, possa impor tarifas abusivas a população.

O transporte é um direito e não mercadoria. A máfia do transporte e os governos que defendem seus interesses devem ser combatidos pela classe trabalhadora e a juventude nas ruas. É preciso construir nas lutas uma cidade que seja governada pelos trabalhadores e o povo pobre organizado em conselhos populares.

A saída para o transporte público está no fim do domínio das máfias das empresas de ônibus que compram políticos e governos e atacam os interesses da população. É necessário um plano de mobilidade urbana a serviço dos trabalhadores e da juventude que municipalize o transporte coletivo urbano e rural que seja controlado pelos trabalhadores e a juventude pobre. Para isso, é necessário formar um Conselho Popular de transporte e trânsito eleito nos bairros para gerir o transporte público, garantindo o passe livre para estudantes e desempregados rumo a uma tarifa zero para todos e todas.