O povo votou contra o mercado ao eleger Lula. Mas o tal mercado controla ministérios e postos chaves do governo. o FMI tem garantias de que a política econômica terá continuidade
Está se cumprindo a profecia do especulador George Soros, quando este disse que quem elege governos não é o povo, mas o mercado. Ou melhor, o povo elege o presidente, mas o mercado continua governando e impondo a política econômica; na medida em que se fez uma blindagem econômica e institucional para assegurar a continuidade do processo de recolonização do país.
Lula não só não tem questionado tal blindagem, como está propondo ampliá-la. Neste sentido, dá inúmeras garantias ao mercado quando coloca pesos pesados da burguesia no ministério. É por isso que o tal mercado, sem medo de ser feliz, está pra lá de contente.
Raposas no galinheiro
O caso mais escandaloso mas não o único foi a nomeação de Henrique Meirelles, ex-presidente Mundial do BankBoston, para a presidência do Banco Central. O BankBoston é um dos maiores do mundo, o segundo maior credor da dívida externa brasileira e já protagonizou mais de um ataque especulativo contra o país. Veio agora à tona que o rico ministro recebe do BankBoston por 30 anos de serviços uma módica aposentadoria de cerca de R$ 250 mil por mês, à qual vai agregar o troco de R$ 8 mil que receberá como membro do governo.
Além de colocar um banqueiro no BC, Lula ainda se comprometeu a dar autonomia ao Banco Central. Ou seja, os banqueiros decidirão tudo o que tem a ver com a moeda taxa de juros e taxa de câmbio, por exemplo e com a circulação de capitais, controlarão as reservas do país e o caixa do governo. Para ajudar Meirelles, como Secretário do Tesouro, foi escolhido Joaquim Levy, também oriundo do PSDB, da mesma turma de Pedro Malan e Armínio Fraga.
Além disso, PL, PTB, PMDB e até mesmo o PPB de Delfim Netto e Paulo Maluf estão ganhando inúmeros cargos na administração federal.
A chave do cofre está com a burguesia e as linhas mestras do plano econômico amarrados ao acordo com o FMI impõem a continuidade e aprofundamento da política econômica de FHC.
Fora Meirelles e os ministros burgueses
A participação subalterna da esquerda petista num ministério que tem o núcleo central que dirigirá a política econômica sob controle do FMI, só serve para legitimar e encobrir com um véu social a condução da política econômica a serviço dos interesses dos grandes banqueiros, empresários e latifundiários.
Se, por um lado, expoentes da corrente majoritária do PT, a Articulação, como Palocci e Berzoini, não têm a desfaçatez de se tornarem paladinos da defesa da conclusão das reformas neoliberais de FHC, como é o caso da proposta de Reforma da Previdência; por outro lado, a esquerda petista, que afirma que o governo Lula está em disputa, no mínimo, deveria fazer uma campanha de massas pela demissão imediata de Meirelles e de todos ministros burgueses, pela ruptura das negociações da ALCA e do acordo com o FMI e por medidas em favor dos trabalhadores.
Até agora, os verdadeiros privilegiados banqueiros, como Meirelles estão recebendo mais vantagens: aumento des juros, privatização de bancos estaduais e promessa de aumentar ainda mais o superávit primário, atualmente em R$ 53 bilhões, para engordar o pagamento da dívida pública. Os banqueiros estão ganhando de goleada: mais de R$ 100 bilhões para pagar juros a meia dúzia de banqueiros, contra a promessa de R$ 5 bilhões para 50 milhões de miseráveis com o programa Fome zero.
Enquanto isso, setores da classe trabalhadora, como o funcionalismo, estão sendo chamados de privilegiados e com sua aposentadoria e direitos na alça de mira. Aliás, a Reforma da Previdência de Berzoini/FHC, se não for derrotada nas ruas, será mais uma vitória dos privilegiados banqueiros a engordar os Fundos de Pensão. Não é possível realizar mudanças favoráveis à classe trabalhadora seguindo a cartilha neoliberal e governando com a burguesia.
Post author Mariucha Fontana,
da Redação
Publication Date