Diferentes do centro de Nova Friburgo, periferia e bairros afastados se encontram em completo abandono pelos governosEstivemos novamente em Nova Friburgo, dessa vez junto a um comboio organizado pela CSP-Conlutas RJ, através de doações financeiras e de donativos de sindicatos e ativistas de todo o país. Saímos na quinta-feira, 20, com aproximadamente oito toneladas de alimentos, roupas e materiais de higiene e limpeza.

Graças à solidariedade dos moradores da Comunidade do Metrô, que cederam um caminhão-baú de mudanças, foi possível levar todas as doações. Essa comunidade, mesmo estando ameaçada de remoção pelos governos, por conta dos jogos olímpicos, não só não deixou de ajudar como também foi fundamental com o auxílio do veículo. Retirar todos os mantimentos e garrafas de água, assim como todas as doações que se encontravam nas sedes da CSP-Conlutas e do Sindisprev RJ, exigiu o esforço de muitos militantes.

Chegar à cidade após uma semana das tragédias já é bem mais fácil e, com uma trégua das chuvas, o sol incandesce, as ruas secando rapidamente, as lamas que viram nuvens de poeira, de cheiro envelhecido, levantadas por carros e caminhões. Praticamente toda a população usa máscaras cirúrgicas para conseguir respirar em meio a essas neblinas de terra.

O centro de Friburgo, diferentemente da semana passada, quando militantes do Rio foram localizar companheiros na cidade e atestaram cenas de calamidade com ruas, prédios e casas cobertos de lama, carros soterrados e prédios inteiros que vieram abaixo, dessa vez essa localidade se encontrava em rápida recomposição. A passos largos, os governos vão limpando e reconstruindo a vitrine da cidade.

Ao chegar a Friburgo, fomos encaminhados à sede do Sindicato dos Metalúrgicos onde iríamos obter informações e orientações de como seria feita à entrega dos donativos. Lá, recebemos a informação de que iríamos a um bairro operário chamado Parque Califórnia que, diferentemente do centro, se encontrava assim como outros, em completo abandono.

Em alguns bairros mais afastados, havia a preocupação com a segurança devido a relatos de saques feitos por moradores que ainda não tinham visto a presença dos governos após dias dos acontecimentos das tragédias. As cenas que nós nos deparamos, ao sair do sindicato em direção ao bairro afetado eram aterrorizantes. A máxima de que o povo pobre e da periferia sofrem muito mais durante as tragédias, mediante ao abandono dos governos, pode ser comprovada na prática.

Encontramos diversas encostas com entulhos de construções, casas inteiras dentro de um rio, carros ainda submersos em lama e entulhos. Em alguns locais, cenas de profunda tristeza devido a corpos que ainda permanecem soterrados. Muitas histórias de sobrevivência contadas pelos moradores impressionaram. Completamente abandonados à própria sorte, durante os temporais, se viraram sozinhos para conseguir escapar do maremoto de água e da avalanche. Em alguns locais, como uma casa que visitamos, a água chegou até o quarto andar, invadindo o quarto de uma senhora que sobreviveu agarrada a um colchão.

Depois de algumas dificuldades, de vencer os obstáculos das chuvas e de pequenas ruas e vielas de barro, chegamos a uma grande encruzilhada ao pé de um morro. Paramos os veículos e em pouco tempo uma enorme fila foi sendo organizada em frente ao caminhão. Sem nenhum problema ou confusão fizemos toda a distribuição de cestas básicas, garrafas de água, fraldas, absorventes e preservativos. As roupas e os produtos de higiene e limpeza seriam distribuídos no domingo, devido à necessidade ainda de separação.

Depois de algumas horas, de toda a distribuição daqueles mantimentos, seguimos no final da noite novamente para a sede do Sindicato dos Metalúrgicos para uma reunião de balanço e de iniciativas. Uma reunião bastante cheia, que comemorou o sucesso do comboio. Os militantes dos sindicatos combativos da região agradeceram a todos e todas pela solidariedade.

Foi apontada a necessidade de continuar a recolher donativos para um outro comboio para a região, em duas semanas, através de um comitê de solidariedade com entidades de fora e de dentro de Friburgo. A criação ainda de uma associação de pessoas atingidas pelas chuvas para brigar pelos direitos dos moradores e culpabilizar os governos por todas essas tragédias.

Foi citada, ainda, a necessidade de encontrar e organizar todos os ativistas lutadores da cidade que ainda estão incomunicáveis ou desaparecidos. O Sindicato dos Metalúrgicos de Nova Friburgo permanecerá aberto para organizar os ativistas e servir de base de apoio para as doações.

Só as organizações de esquerda podem lutar pelos direitos dos moradores atingidos
Após duas semanas das tragédias, os governos, junto com setores da imprensa, tentam o máximo possível tirar o foco das catástrofes, fazendo, como sempre, maquiagens e retoques. É fundamental que os partidos políticos de esquerda, organizações sindicais e populares e ativistas estejam próximos a uma realidade que não está mais nos jornais, mas que se está ainda bastante presente.

O PSTU, mais uma vez, esteve em Friburgo e viu as péssimas condições em que se encontram os trabalhadores das regiões periféricas atingidas pelas chuvas e a falta dos serviços mais básicos de ajuda à população. O número de mortos, desalojados e desabrigados, que é muito maior do que os números oficiais, caminha junto com a falta de investimentos dos governos federal, estadual e municipal em obras de prevenção e reforma urbana.

Na medida em que as notícias não vão se pautando mais pela realidade dos mais carentes, menos ainda os governos vão se vendo obrigados a melhorar as condições de vida dessa população. É necessário organizar as entidades sociais e reagrupar os trabalhadores de todas as regiões atingidas, para que nunca mais sejam esquecidos e que tragédias sociais como essa não aconteçam mais.

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