Polícia reprime ativistas em Londres

Apesar dos discursos, cúpula fracassa. Homem morre durante manifestações.Esses dois primeiros dias de abril foram marcados por manifestações que balançaram Londres na véspera e no dia da reunião do G20. Ativistas anti-globalização, partidos, ONGs e sindicatos protagonizam na capital britânica uma retomada do movimento que contestou o neoliberalismo no final da década de 90.

Desta vez, as mobilizações atingiram os bancos no centro financeiro de Londres. Pichações com slogans anticapitalistas, como “burn a banker”, ou “queime um banqueiro”, tomaram as paredes dos bancos, enquanto janelas e portas foram quebradas. Mais radicalizado que os protestos da semana anterior, as manifestações sofreram dura repressão por parte da polícia britânica.

Segundo o jornal espanhol El País, mais de 100 pessoas haviam sido detidas durante a onda de protestos. A agência Reuters falava em 111. Relatos dão conta da extrema violência utilizada pela polícia contra os manifestantes. Um homem morreu em meio aos protestos. A causa da morte não foi ainda esclarecida, mas a polícia alega ter sido um ataque cardíaco. O homem, identificado posteriormente como Ian Tomlinson, de 47 anos, foi encontrado atirado ao chão dentro de um cordão policial, próximo ao Banco da Inglaterra.

A radicalização das manifestações expressa não só a gravidade da crise, mas o momento político pelo qual passa a Europa, um continente em ebulição. A França já passou por duas greves gerais e neste momento ocorre uma greve na Grécia. Não só o neoliberalismo é contestado, mas o próprio capitalismo. Os protestos em Londres, além disso, retomavam o Stop War Coalition, o movimento anti-guerra, contra as ocupações do Iraque e Afeganistão.

Reunião Fracassa
Apesar de toda expectativa para a cúpula do G20, de onde se esperava uma resposta unificada contra a crise, pouco ou nada se avançou. As expectativas eram ainda maiores por ser a primeira reunião de cúpula com a participação de Barack Obama como presidente dos EUA. Ao término da reunião, porém, não havia nada de concreto além de uma carta de intenções não muito diferente daquela divulgada na última reunião do grupo, em novembro do ano passado.

Além de declarações genéricas contra o protecionismo e os paraísos fiscais, os países divulgaram um repasse extra de US$ 1 trilhão ao FMI, destinado a um fundo de ajuda a nações “em dificuldade”. Outra medida anunciada foi a criação de um Conselho de Estabilidade Financeira, órgão para, ao lado do FMI e Banco Mundial, supervisionar o mercado financeiro mundial.

Como um dos principais elementos apontados para a causa da crise é a falta de confiança no mercado financeiro e na economia como um todo, esse foi o ponto salientado pelas declarações ao final da cúpula. A ausência de resultados concretos foi preenchida por discursos inflamados. Um deles veio do presidente da França, Nicolas Sarkozy, um dos mais críticos em relação à reunião e que chegou a ameaçar abandonar a cúpula. “Não esperávamos obter tanto, mostra a consciência de que o mundo precisa mudar”, chegou a dizer.

Todo o marketing em torno do resultado da cúpula do G20 deu um respiro às bolsas de todo o mundo, que tiveram alta nesse dia. Apesar das falas, o protecionismo cresce e o mercado internacional tem a primeira redução desde 1982. A única medida concreta do G20, porém, parece ser o anúncio da nova reunião do grupo, marcada para setembro deste ano.