Em março, realizou-se a jornada mundial de luta contra a ocupação militar imperialista do Iraque. Seu ponto mais alto foram as mobilizações nos EUA. Os organizadores preferiram não fazer um único ato centralizado, mas uma jornada nacional em todos os estados. Foi um sucesso, porque ocorreram mais de 500 mobilizações, desde vários pequenos atos com algumas dezenas de pessoas até grandes atividades, como em São Francisco (com 15 mil participantes) e em Nova York (10 mil).

Em ambas, expressou-se uma radicalização contra as instituições do exército e seus postos de recrutamento, como o do Harlem espanhol em Nova York, onde centenas de ativistas impediram a passagem e foram presos. Outro ponto alto foi a manifestação de Fayeteville, cidade onde fica a base de Fort Bragg, uma das maiores dos EUA. Entre as 3.500 pessoas presentes, chamou a atenção a presença dos familiares de militares e dos veteranos contra a guerra (que também estiveram em manifestações em outras cidades).

A jornada mostrou a tendência à extensão do processo de luta, a multiplicação das formas de organização e uma radicalização dos ativistas, como demonstram a organização dos familiares dos soldados e dos veteranos contra a guerra, que está sendo muito mais rápida do que foi durante a guerra do Vietnã. Na juventude, há um movimento para enfrentar os recrutadores do Pentágono que vão às escolas secundárias e às universidades e chamam os estudantes para as forças armadas.

Os protestos na Europa
A jornada também foi importante em outros países que encabeçam a ocupação. Em Londres, na Inglaterra, houve um grande ato com 100 mil pessoas. O movimento contra a guerra informou que 200 mil se mobilizaram em todo o país. Em geral, as marchas foram encabeçadas por ex-soldados. Ainda que essas cifras sejam menores que as de 2003, são similares às marchas contra Bush em 2004.

Na Itália, outro país da coalizão invasora, também há uma tendência à radicalização, agudizada pelo caso da jornalista Giuliana Sgrena, quase assassinada por soldados americanos. Há uma forte pressão para obrigar o governo Berlusconi a retirar as tropas. Berlusconi chegou até a anunciar a retirada para evitar perder as eleições regionais, mas depois desmentiu. O ato público em Roma teve cerca de 20 mil pessoas, apesar do boicote das principais forças de esquerda. Poucos dias depois, Berlusconi sofreu uma dura derrota nas eleições, perdendo em 11 das 13 regiões do país.

Um pouco menores, mas também importantes, foram os atos em Tóquio (Japão) e Istambul (Turquia). Nos países que não têm tropas no Iraque, os atos foram essencialmente de vanguarda. De acordo com informações dos movimentos contra a ocupação, as jornadas foram bastante inferiores às de 2003 e, inclusive, de 2004. Por exemplo, em Madri e Barcelona participaram entre 1.500 a 2 mil pessoas. Nos anos anteriores, a Espanha teve algumas das maiores manifestações contra a guerra, já que havia tropas espanholas no Iraque. Mas depois da derrota de Aznar, a subida do governo Zapatero e a retirada das tropas espanholas, diminuiu a necessidade de mobilizar-se e o processo passou a ser muito menor. Também na França as mobilizações foram de vanguarda. Algo similar ocorreu na América Latina e na Ásia.

Algumas conclusões
A tendência expressa nessa jornada é uma intensificação do processo de luta nos países invasores, especialmente nos mais envolvidos, e uma redução nos demais. É importante recordar que, na época do Vietnã, as manifestações só foram de massas nos EUA, e somente depois de vários anos de guerra e milhares de soldados americanos mortos.

Nos demais países, apesar de haver uma ampla simpatia pela luta do povo vietnamita, as ações eram de vanguarda. Aparentemente, essa parece ser a tendência atual. Mas é muito importante que na Europa, Ásia e América Latina tenha havido ativistas identificadas com a luta do povo iraquiano contra o imperialismo. Em alguns países latino-americanos, houve uma participação significativa da vanguarda. No Brasil, ocorreram atos em várias cidades, destacando-se o massivo de São Paulo. Em Buenos Aires, mais de duas mil pessoas participaram da manifestação. Em ambos os casos, foi muito amplo o apoio à resistência iraquiana. O melhor da vanguarda percebe que é preciso ser conseqüente na luta contra o imperialismo.

As mudanças
Como dissemos no Correio Internacional anterior, há uma nova realidade no Iraque: o que foi uma invasão militar colonial agora se transformou em uma guerra de libertação nacional do povo iraquiano. No início, era suficiente opor-se à invasão, e isso gerou um poderoso movimento antiguerra e a favor da “paz”. Mas agora isso não é suficiente. Existe uma guerra e é preciso colocar-se em um dos dois lados. É muito mais fácil mobilizar “pela paz” que tomar partido em uma guerra. Justamente porque a resistência militar do povo iraquiano cresce e a guerra contra o imperialismo se agudiza, aumentam as dúvidas entre os que só queriam “a paz” e nada mais. Essa é a razão das dúvidas sobre o “caráter da resistência” e “seus métodos”.

No movimento antiguerra dos EUA, abriu-se uma polêmica sobre se se deve ou não apoiar a resistência e, inclusive, se deve ou não exigir a retirada das tropas. Os mesmos setores que já haviam renunciado a uma campanha clara pela retirada das tropas para apoiar Kerry nas eleições de 2004, agora abandonam a luta efetiva contra a ocupação e se adaptam às orientações dos democratas. A rede de internet Move.on, famosa por ter organizado o apoio financeiro de milhares de doadores à candidatura democrata de Howard Dean (e depois à de Kerry), retirou a luta contra a ocupação de seu portal. Na preparação das marchas de 19 de março, por exemplo, a regional novaiorquina da coalizão contra a guerra, United for Peace and Justice, recusou-se a participar do ato, alegando que na convocatória fora “defendida a resistência iraquiana”. Depois, na reunião nacional da coalizão (até mesmo depois da jornada do dia 19), fizeram críticas porque nos atos se manifestou o apoio ao direito dos iraquianos a resistir.

Post author Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (www.litci.org)
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