Mobilização e vitória de operários da GM mostram que é possível derrotar ataques aos direitosNão é exagero afirmar que o dia 19 de junho de 2008 ficará na lembrança de muitos trabalhadores. Nesse dia, os metalúrgicos da General Motors de São José dos Campos (SP) terminaram sua vitória sobre a tentativa da multinacional norte-americana de impor o banco de horas e flexibilizar direitos. É o desfecho de uma luta que durou quase seis meses e dividiu a cidade do Vale do Paraíba. Uma luta que mostrou que os ataques não são fatos consumados e que é possível, com mobilização, derrotá-los.

“Banco de horas só
é bom pAra a empresa”

Aos poucos, os metalúrgicos vão chegando de ônibus ao pátio da montadora, na entrada do setor onde são produzidas as picapes S10. A assembléia que votaria a proposta da GM estava marcada para o momento da troca de turno, às 14h30. Os minutos se passam e os operários se reúnem em volta do caminhão de som do sindicato. Perto das 15 horas, cerca de 7 mil trabalhadores já rodeiam o pátio. Nervosos, nem todos sabem ainda do resultado das negociações entre montadora e sindicato, que se estenderam pela madrugada.

Trabalhadores como Pedro*, pintor do setor S10 e metalúrgico da GM há 15 anos. Apesar de nunca ter passado pela experiência do banco de horas, o assunto virou parte de sua rotina. “Todo dia a empresa fazia reunião para explicar o banco de horas, passava a semana inteira falando sobre isso”, conta.
Pedro não conhece o banco de horas, mas sabe bem o que é uma rotina puxada de trabalho e as conseqüências do aumento do ritmo de produção. “Tenho tendinite nos dois braços e nos dedos, tenho inclusive que fazer cirurgia nos dedos”, afirma o operário.

Ele trabalhou 15 anos em outra fábrica, mas na GM, com a linha de produção e os carros em movimento, a pressão e o ritmo são massacrantes. “Os carros vão passando e você tem um espaço para fazer o serviço, com a pistola eletrostática. Se você não conseguir, tem que parar toda a linha. Antes você terminava um carro e esperava um pouco, agora não, já vem outro em seguida”, explica.

Perto dali, um grupo de funcionários da GM, boa parte do setor administrativo e ligados à CUT e à direção da empresa, abria uma faixa onde se lia “Flexibilização=mais empregos”. Pedro não concorda. “O banco de horas, para nós, funcionários, não é uma boa. Para a empresa é. Ficar até mais tarde não é legal”, diz. Ele sabe que flexibilização não gera mais emprego, e sim mais exploração. Nem Pedro nem a grande massa de metalúrgicos concordam com a retirada de direitos, como mostrou a assembléia daquele dia.

Assembléia histórica
“Primeira coisa: precisamos dizer que derrotamos o banco de horas”. Foi dessa forma que o presidente do sindicato, Adilson dos Santos, o Índio, deu início à assembléia. Ele explicou aos operários a negociação realizada durante todo o dia anterior. A GM, sentindo o peso da mobilização, recuou da proposta de banco de horas e da grade salarial rebaixada. “Essa proposta é fruto da mobilização dos trabalhadores e da posição do sindicato de defender os metalúrgicos”, resumiu.
Luiz Carlos Prates, o Mancha, explicou aos operários os detalhes da proposta apresentada pela empresa. Apesar de não ser o ideal, não tinha os principais ataques que a GM queria fazer a peãozada engolir: teto nos salários e banco de horas.

Colocada em votação, a proposta é aprovada por unanimidade. “Derrotamos o banco de horas, companheiros!”, repetia Mancha. Ao final da assembléia, os metalúrgicos se abraçavam e comemoravam a vitória que irá repercutir não só no Brasil, mas internacionalmente na luta contra os ataques aos direitos.

Fruto da mobilização
Os metalúrgicos receberam a proposta como uma verdadeira vitória. “Esse é um momento importante, uma vitória para a gente, temos que comemorar mesmo”, afirma João, operário da GM, também do setor do S10, que assistia à assembléia.
Terminada essa batalha, outra se inicia. A frente formada pela patronal e a oposição ligada à empresa no interior da fábrica tenta se colocar agora como a responsável pelo acordo. Não vai ser fácil para eles. Os operários sabem o que possibilitou a vitória. “Foi através da mobilização dos trabalhadores e da luta do sindicato, que está defendendo os trabalhadores”, explica João.

*nomes fictícios

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