Os trabalhadores da GM de São José dos Campos, depois de uma greve de 24h e diversas mobilizações, chegaram a um acordo com a montadora que garantiu reajuste de 10,8%, abono de R$ 3 mil e avanços em várias cláusulas sociais. A proposta é superior ao acordo fechado no ABC paulista com as montadoras na semana anterior.

Histórico
Logo no início da Campanha Salarial, sem realizar nenhuma mobilização, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (CUT) fechou um acordo inferior aos anos anteriores.

O acordo prevê um aumento real de 2,42%, abono de R$ 2.500 e tem a duração de dois anos. Ou seja, em 2012, já está definido reajuste 2,5% de aumento real e um abono de R$ 2.500. Acontece que este reajuste é inferior aos obtidos nos últimos quatro anos, que variaram de 3,5% a 4,6% de ganho real.

Para o Sindicato da CUT, o mais importante nesta campanha é defender a “indústria nacional”, frente ao crescimento das importações de veículos. Por isso, fizeram um pacto com os patrões, anteciparam as negociações e tentaram colocar um teto máximo de reajuste para as campanhas salariais deste segundo semestre.

Ao mesmo tempo, o governo fez uma intensa campanha de que era necessário que os trabalhadores moderassem suas reivindicações salariais para “não gerar inflação e preparar para a crise”. As montadoras anunciaram férias coletivas em alguns lugares, alegando estoques altos, numa tentativa de fazer pressão sobre o governo para obter mais concessões e inibir as mobilizações dos trabalhadores.

Rompendo o cerco
Frente a esse cenário, os metalúrgicos da GM não se intimidaram. Perceberam que apesar da choradeira e das chantagens das empresas, o Brasil é o verdadeiro paraíso das montadoras e, com os altos lucros e faturamento do setor, era possível superar o acordo rebaixado do ABC.

Sob o lema “O Brasil cresceu, eu quero o que é meu”, realizaram uma forte Campanha Salarial, com assembleias massivas e a organização de um Comando de Mobilização. Participaram da Jornada Nacional de Lutas, convocada pela CSP-Conlutas, realizando uma grande passeata no dia 19 de agosto.

Diante da proposta patronal que queria impor a mesma proposta do ABC, os metalúrgicos da GM de São José fizeram uma forte paralisação de 24h, que chegaria a uma greve por tempo indeterminado caso não houvesse um recuo da empresa. Com a mobilização, conquistaram um aumento real de 3,2% e abono de R$ 3 mil, rompendo a barreira imposta pelo acordo do ABC. Em Campinas, na Honda e Toyota, também com luta, os metalúrgicos superaram o acordo da CUT.

As lições
Os metalúrgicos do ABC já cumpriram um papel de vanguarda na luta operária no país na década passada. Porém, este ano, mais uma vez, a direção do Sindicato cutista impôs um acordo sem luta e retirou de cena a categoria da Campanha Salarial.

O reajuste conquistado em São José dos Campos e Campinas poderia ser ainda maior se houvesse uma luta unificada dos metalúrgicos de todo o Estado. Isso não foi possível pela política do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC que, para privilegiar um pacto com os patrões e ajudar o governo a conter as lutas salariais, fez uma campanha sem nenhuma mobilização e aceitou acordos rebaixados.

A luta dos metalúrgicos de São José dos Campos, Campinas, Limeira e Santos mostrou que é possível superar a trava imposta pela direção majoritária do movimento e conquistar reajustes maiores, aumentando a consciência dos trabalhadores sobre a necessidade de construir uma nova direção para o movimento operário.

Em São José, os metalúrgicos se organizaram em Comandos de Mobilização, que estão se reunindo nas fábricas e no Sindicato, e estão à frente da Campanha Salarial, o que tem possibilitado uma ampla participação da base.

Em outras empresas, a Campanha continua. Greves estão acontecendo em várias fábricas a partir da vitória obtida na GM. Os trabalhadores seguem dizendo: “O Brasil cresceu, eu quero o que é meu”.

Ampliação das cláusulas sociais
O que também marcou esta Campanha Salarial foi que, além das cláusulas econômicas, houve um trabalho constante por parte do Sindicato e CSP-Conlutas, em torno da importância das cláusulas sociais e de organização de base.

O acordo fechado, além do reajuste, tem também uma série de conquistas das quais vale destacar a ampliação da licença maternidade para 180 dias, inclusive para mães adotantes; ampliação da estabilidade de gestante para 240 dias após o nascimento do filho; licença casamento de três dias úteis ou cinco dias corrido, extensivo também aos trabalhadores (as) com união estável e reajuste do auxílio creche. Em relação aos Delegados Sindicais, uma das principais reivindicações desta Campanha, em 90 dias, empresa e Sindicato retomarão as discussões.