Após vitória dos trabalhadores da GM em São José dos Campos, metalúrgicos de Taubaté exigem que sindicato da CUT anule acordo rebaixadoA campanha salarial vitoriosa dos metalúrgicos da General Motors de São José dos Campos (SP) repercutiu em outras categorias e se tornou referência para as campanhas que estavam em curso. Mais ainda, expôs a traição de direções sindicais, como o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que negociaram acordos rebaixados com as montadoras num momento em que as empresas lucram à custa da isenção de impostos concedida pelo governo e o aumento do ritmo de trabalho dos operários.

Em Taubaté, cujo sindicato também é dirigido pela CUT, os metalúrgicos perceberam a traição e não ficaram de braços cruzados. Enquanto os trabalhadores da GM de São José conquistaram 8,3% de reajuste e R$ 1.950 de bônus, o acordo assinado pelo sindicato de Taubaté previa apenas correção de 6,53% e bônus de R$ 1.500. Os metalúrgicos não deixaram barato e foram para cima do sindicato.

Revolta na Volks
Revoltados, os metalúrgicos pressionaram o sindicato a retomar as negociações com as montadoras, mais de uma semana depois de o acordo ter sido firmado. Na Volks, o sindicato sumiu da fábrica depois da traição. Após o fim da campanha salarial em São José, o clima de indignação era visível.

Os trabalhadores questionaram a realização da assembleia que aprovou o acordo num domingo, na sede da entidade, quando a maioria dos presentes era formada por aposentados e trabalhadores das autopeças. Ficou claro para os trabalhadores que o sindicato fez isso porque sabia que, caso a discussão fosse para a porta de fábrica, o acordo rebaixado seria rejeitado.

O fato de o sindicato ter partido para a campanha salarial sem sequer ter definido um índice de reajuste revoltou os metalúrgicos. Em meio a frases como “ano que vem é Chapa 2”, “com a CUT não dá mais”, “agora é Conlutas na cabeça”, os trabalhadores colocaram o sindicato contra a parede. Um diretor da entidade teve que ser socorrido pelo RH da empresa para não ser agredido.

Os trabalhadores indignados forçaram e, no dia 22, o sindicato foi obrigado a realizar uma assembleia. Lá, um dos diretores chegou ao cúmulo de afirmar que o acordo conquistado pelos metalúrgicos da GM em São José dos Campos teria sido concedido pelo Tribunal Regional do Trabalho de Campinas e que não era fruto da luta dos trabalhadores. Foi vaiado pelos operários.

O sindicato apresentou um “remendo” do acordo anteriormente assinado, que previa um reajuste diluído em 13 meses para se equiparar ao reajuste de São José, mas os trabalhadores recusaram e aprovaram greve.

No dia seguinte, o sindicato convocou nova assembleia para conter a greve. Para isso, utilizou várias mentiras. Afirmou, por exemplo, que os aumentos só poderiam ser concedidos pelas sedes da Ford e da Volks, respectivamente, nos EUA e na Alemanha, e que a empresa em Taubaté não poderia definir nada. Depois de várias manobras, finalmente conseguiu suspender a greve.

metalúrgicos da Ford indignados
Se a revolta era grande na Volks, na Ford de Taubaté, uma das mais antigas fábricas automotivas do país, não foi diferente. No dia 22, com a reprovação do remendo de acordo pelos trabalhadores da Volks, o sindicato aproveitou que o horário de saída dos operários da Ford ocorre um pouco depois, e correu para lá a fim de aprovar o acordo. Mas os metalúrgicos já estavam sabendo do resultado na Volks e também rejeitaram o remendo.

No dia seguinte, porém, assim como fez na Volks, o sindicato pôs fim à greve na Ford. Ao término da assembleia, a entidade ainda deu uma pequena mostra do que entende por democracia. Seu presidente, Isaac do Carmo, perguntou se algum operário gostaria de usar o microfone e, para sua surpresa, um trabalhador levantou o braço. Quando foi pegar o microfone, o diretor disse que era para ele falar o que queria dizer aos colegas, que o próprio diretor falaria. Os dois discutiram por alguns minutos e o presidente do sindicato encerrou a assembleia sem ceder o microfone que havia oferecido.

Conlutas leva apoio
Ao contrário do sindicato, a Conlutas esteve presente nas duas montadoras para prestar total apoio à luta dos metalúrgicos. Operários e dirigentes do sindicato de São José dos Campos distribuíram o boletim “Ferramenta de Luta” nos três turnos da Volks, com grande receptividade dos trabalhadores.

Já na Ford, no desespero de tentar conter a revolta dos operários, um diretor do sindicato, o Mil, tentou agredir um militante da Conlutas. O mesmo dirigente ficou transtornado quando viu que os metalúrgicos não só pegavam o boletim, como o distribuíam no interior da fábrica e colavam nas máquinas e armários.

A traição da CUT expôs de forma clara aos operários o verdadeiro papel da central. Enquanto os trabalhadores sofrem com a sobrecarga de trabalho provocada pela produção aquecida, e as empresas lucram com isenções do governo, a CUT age no movimento para impor os acordos das empresas e resguardar seus lucros.

Compare os acordos
Empresa Aumento Piso Abono

Toyota (Campinas) 10% R$ 1.275 –
Honda (Campinas) 10% R$1.275 –
GM (S. J. Campos) 8,3% R$1.305 R$ 1.950
Renault (Paraná) 7,57% R$1.381 R$ 2.000
Volvo (Paraná) 7,57% R$1.381 R$ 2.000
ABC, Taubaté e
São Carlos – CUT

Post author Renato Lobato e Rcardo Monteiro, de Taubaté (SP)
Publication Date