Renilda chorou durante depoimento
Walter Campanato / Ag. Brasil

A esposa do empresário Marcos Valério, Renilda Maria Santiago Fernandes de Souza, prestou depoimento na CPI dos Correios nesse dia 26 de julho, terça-feira. Ela depôs como investigada, pois teve o sigilo bancário quebrado e também é sócia de Valério.

O Supremo Tribunal Federal (STF) negou a Renilda o habeas-corpus preventivo, que lhe daria permissão legal para selecionar as questões, evitando responder o que não quisesse. Entretanto, o STF disse que ela não precisa assinar um termo se comprometendo a dizer a verdade na CPI, já que um cônjuge não é obrigado a incriminar o outro. Isso significa que, na prática, Renilda tem o direito de mentir na CPI.

Renilda tentou até o fim evitar o depoimento. Marcos Valério tentou, sem sucesso, negociar com a CPI para impedir que Renilda e a diretora-financeira da SMP&B, Simone Vasconcelos, fossem chamadas a depor. Simone deve depor, pois foi acusada pela ex-secretária Fernanda Karina Somaggio como uma das responsáveis pela distribuição do mensalão.

Renilda está sendo investigada devido ao crescimento patrimonial do casal, que saltou de R$ 3,8 milhões para R$ 6,7 milhões entre os anos de 2002 e 2003, sendo R$ 4,8 milhões em nome de Renilda. Além disso, Renilda é acionista principal da SMPB e DNA, empresas que estão sendo investigadas por saques milionários em dinheiro que poderiam ser fonte do pagamento de mensalões e financiamentos de campanha. Os saques suspeitos somam R$ 836 milhões nos dois últimos anos.

“Do lar”
Durante todo o depoimento, Renilda negou que soubesse sobre negócios da empresa, queima de notas fiscais, as movimentações financeiras, enfim, tudo o que está sendo investigado sobre as empresas das quais ela é sócia com o marido.

O argumento utilizado e pouco crível para a sua completa falta de conhecimento vem sendo a reafirmação de que ela é “do lar”, que não se mete nos assuntos das empresas e que passou uma procuração ao marido para tomar conta dos negócios.

Zé Dirceu sabia
Renilda declarou em seu depoimento que o marido lhe disse que o então ministro José Dirceu sabia dos empréstimos tomados pelo empresário em nome do PT junto aos bancos Rural e BMG. Segundo ela, Marcos Valério confirmou que Dirceu participou de uma reunião com a direção do Banco Rural, em Belo Horizonte, sobre o pagamento dos empréstimos. Ela disse ter ficado assustada quando soube dos empréstimos.

José Dirceu informou que “não se lembrava” das reuniões com os bancos. Posteriormente, confirmou as reuniões, mas evidentemente, negou que se tratava de empréstimo ao PT. No entanto, de forma escandalosa, o PT declarou no dia seguinte que o deputado não precisaria se explicar ao partido em face dessas novas denúncias.

Blindagem
Fica claro que permanece de pé a operação de blindagem do presidente Lula. Renilda, assim como os outros depoentes e investigados, afirma que Valério não conhecia Lula, que nunca teria conversado com o presidente.

As explicações para as movimentações financeiras são as mesmas dadas por outros depoentes, o que indica que tenha sido combinado. Ela diz não saber de mensalões, mas disse que o marido lhe contou que fez empréstimos para o PT para o pagamento de dívidas e financiamentos de campanha. O depoimento de Renilda procurou reforçar a tese mentirosa dos petistas de que o que houve foi apenas um crime eleitoral, ou seja, gastos de campanha não declarados, e não um desvio de verbas públicas.

Show de hipocrisia e machismo
As oito horas do depoimento foram marcadas por cenas explícitas de machismo e demonstrações porcas da imbecilidade que toma conta dos ilustres parlamentares. Como já é de praxe nos depoimentos da Comissão, políticos bradam copiosamente em defesa da moralidade. “Mães do Brasil sofrem porque não têm como colocar os filhos na escola enquanto as empresas de que a senhora é sócia se locupletam de dinheiro público”, vociferou à depoente o deputado Moroni Torgan, do PFL, símbolo do setor mais atrasado, corrupto e coronelista da direita no país.

O machismo também deu a tônica. O deputado Alberto Fraga, do mesmo PFL, fez a seguinte questão, inoportuna e extremamente infeliz, sobre o conhecimento de Renilda das falcatruas do marido: “Como é que a senhora não colocou o Marcos Valério num canto lá do quarto, naquela hora mais sagrada, e não perguntou?”. Já o parlamentar Pompeu de Mattos (PDT), relembrou o velho e machista dito popular, segundo o qual “atrás de um grande homem há sempre uma grande mulher”. Não satisfeito, o deputado perguntou à Renilda: “Onde a senhora está com Marcos Valério? Na frente, atrás ou do lado?”.

No entanto, contraditoriamente, o pior mesmo foram os elogios. No depoimento, Renilda interpretou o papel de “Amélia”, a mulher recatada que vive para os filhos e o marido. Por diversas vezes, ela afirmou não conhecer os negócios da família e que não se interessava por política. Mesmo vendo que a depoente mentia a olhos vistos, os deputados não economizaram rasgados elogios à “integridade” e o “exemplo de mulher” que Renilda representava.