A discussão sobre conjuntura foi o tema da primeira mesa no Congresso da CSP-Colutas, nesta quinta-feira, 4 de junhoReunindo representantes do PSTU, PSOL e PCB, os participantes fizeram duras críticas ao ajuste fiscal do governo Dilma, aos cortes nos orçamento e aos ataques ao seguro-desemprego, PIS e pensão por morte. Mas também houve muita polêmica sobre a votação da cláusula de barreira, votada na reforma política aprovada pelo Congresso na semana passada.

Governo do PT e ajuste fiscal

Em sua fala, Mauro Iasi, que representou o PCB, não poupou críticas ao governo Dilma e ao seu plano de ajuste. Fez menção à ofensiva dos setores mais conservadores do Congresso e da sociedade e explicou como o governo do PT tenta fazer uma enorme cortina de fumaça sobre isso.

 

Esse governo está aí há 12 anos e nunca combateu nenhum conservadorismo. Entregou um ministério ao Levy e ao agronegócio. Compromete quase metade da dívida com o pagamento da dívida pública”, denunciou.

 

Para Luciana Genro, no Brasil, a falência do PT abre espaço para a esquerda radical e para um terceiro campo em alternativa ao governo Dilma e à oposição tucana. “O PT se transformou em agente do capital, e agora isso está muito mais claro. Com a crise eles não tem nem mais como distribuir as bordas do bolo”, disse.

 

Representando o PSTU, Zé Maria criticou duramente o governo Dilma e detonou o ajuste fiscal. “A ladainha que o governo Dilma, junto com os governos do PSDB nos estados e de outros partidos, é que a crise que o país vive exige sacrifícios. Mas cadê o sacrifício do agronegócio? E o sacrifício dos banqueiros e dos patrões? Os governos e os patrões querem que a crise que eles criaram seja paga pelos trabalhadores. Tudo isso para manter seus lucros! E nisso tá PT, PSDB e o Congresso Nacional juntos! Do nosso bolso, o governo já cortou mais de 170 bilhões pra que a burguesia continue lucrando milhões”, explicou.

 

Zé Maria também lembrou o ajuste fiscal que vem sendo aplicado pelos governos dos estados, o que tem provocado um levante de professores e do funcionalismo publico contra os governos.  “É por isso que o Beto Richa atacou com a polícia os professores lá no Paraná, ou Alckmin ignora a greve em São Paulo. Em Macapá, não podemos deixar de falar, a prefeitura do PSOL tá tratando os professores a pão e água”, disse.

 

Para derrotar o ajuste fiscal, Zé Maria defende a construção de uma Greve Geral e a unidades de todos aqueles que querem lutar.

 

Reforma política

Outro tema bastante abordado pelos palestrantes foi o da reforma política. Durante as discussões sobraram polêmicas sobre a aprovação da cláusula de barreira.

 

 “Que reforma política é essa? Alguém acreditava que se impediria a cláusula de barreira e o financiamento privado de campanha?”, questionou Mauro Iasi que conclui afirmando que a reforma visava impedir a expressão política dos partidos da esquerda.

 

O dirigente do PCB criticou a posição tomada pela bancada do PSOL que votou a favor da cláusula de barreira na semana passada. “O voto dado pela bancada do PSOL não ajuda. O argumento do mal menor foi um a conveniência que ao invés de ajudar na construção de uma frente de esquerda por ter sido um passo pra inviabilizá-la”, lamentou.

 

Luciana Genro tentou justificar a posição da bancada do PSOL em relação ao tema. “A  gente pode discordar ou concordar, mas foi uma decisão tomada no calor do momento”, explicou. Segundo ela, a posição dos deputados do partido foi uma “questão episódica” e disse que isso “não pode desunir a esquerda”. Em seguida, Genro justificou a posição dos parlamentares como um “mal menor”. “Foi uma piora, muito melhor do que queria Renan Calheiros e companhia, que defendiam uma cláusula de barreira muito pior”, disse.

 

Sobre a reforma política, Zé Maria respondeu que não se poderia esperar nada de bom vindo do Congresso. “Nunca esperamos que houvesse alguma mudança através de qualquer reforma política”, disse o dirigente que completou: “A cláusula de barreira foi um ataque ao PSTU e ao PCB. É quase colocar esses partidos na clandestinidade”.

 

Polemizando com Luciana Genro, Zé Maria questionou a posição da bancada do PSOL sobre a cláusula de barreira. “Mal menor? Bastava a bancada se abster”, disse. Para Zé Maria, justificar essa posição na questão do mal menor significa “a escolha entre levar um soco no nariz ou no estomago”.

 

Saída para a crise

Não menos polêmico foi o debate sobre a saída política que o Brasil necessita. Mauro Iasi defendeu a construção de uma alternativa diante da crise política e econômica que o país enfrenta e a construção de um campo político socialista e revolucionário. “Uma alternativa independente, classista, quebrando o fetiche dessa polarização (entre PT e PSDB)”, explicou.

 

Já Luciana Genro começou sua exposição explicando a relação da crise mundial com a crise brasileira. Lembrou que na Europa os partidos tradicionais da direita e a social-democracia se revezaram no poder aplicando planos de ajustes que atacavam direitos dos trabalhadores. Na opinião de Genro, o desgaste destes partidos abriu espaço para o surgimento de novas alternativas políticas, e citou como exemplo a vitória eleitoral do Syriza, na Grécia, e o fortalecimento do Podemos, na Espanha.

 

O Syriza mostrou que um partido de esquerda radical, que se constrói na luta social e nos novos movimentos que tomaram as ruas de todo o mundo, sem as direções tradicionais e que rejeitam os partidos tradicionais, pode também capitalizar a indignação popular em um processo eleitoral. Claro, a gente não sabe se eles vão conseguir resistir as pressões da Troika”, explicou. Pra ex-candidata presidencial do PSOL, algo semelhante ocorre na Espanha. “O Podemos se coloca como uma força fundamental buscando ser uma alternativa. Esses processos estão abertos, não sabemos onde vão seguir”, completou.

 

Já Zé Maria, explicou que o PT chegou onde chegou porque achava que poderia mudar o país através das eleições. “Essa foi a escolha deles, do Lula, que levou o PT a fazer alianças com os empresários e banqueiros e com os partidos da burguesia”, disse.

 

Para Zé, esse caminho realizado pelo PT não pode se repetir. “Luciana, não podemos achar que devemos fazer o caminho do Syriza, porque quando esse partido chegou ao poder aplicou o ajuste igual o PT aqui. Não queremos construir uma alternativa olhando para as eleições de 2018”, polemizou.  Também disse que o Podemos na Espanha não serve como uma alternativa dos trabalhadores e questionou: “esse partido sequer tem alguma tradição socialista”, questionou.

 

Na avaliação do dirigente, a ruptura da classe trabalhadora com o PT é um acontecimento de dimensões históricas. Nesse sentido, Zé Maria defende que a construção de uma alternativa da classe trabalhadora vai muito mais além das eleições de 2018. “Essa alternativa vai se dar nas lutas e nas ruas. E deve ser socialista, com um programa claro que defenda nossos direitos e façam os patrões pagarem pela crise”, conclui.