Bolivianos derrubam outro presidenteAgora em junho de 2005, os trabalhadores bolivianos derrubaram o governo Mesa. Em outubro de 2003, tinham derrubado o governo Sanchez de Losada. Em menos de dois anos, dois governos derrubados. No centro dessa luta, a batalha contra o imperialismo, pela nacionalização do gás.

Para obrigar Mesa a renunciar, as mobilizações radicalizaram e se espalharam por todo o país. A maioria das estradas foi bloqueada e partes inteiras da Bolívia passaram para o controle da população, como a cidade de El Alto, próxima a La Paz, em greve geral há três semanas. Até mesmo em santa cruz, fortemente controlada, ocorreram enfrentamentos. A petroleira Chaco confirmou a ocupação do campo petroleiro Patujusal por centenas de camponeses, que obrigaram os funcionários a abandonar as instalações. É praticamente impossível chegar a Santa Cruz por terra, e começou a faltar combustível e alimentos em quase todo o país, inclusive em La Paz. Por fim, uma multidão avançou sobre o palácio governamental, obrigando o presidente a fugir e renunciar.

Unidos para garantir governabilidade
Para tentar salvar o regime, a Igreja católica, o empresariado e os partidos políticos estão propondo antecipar as eleições. A eleição é uma tentativa de distrair a população, obter uma trégua nas lutas e encaminhar o processo mais uma vez pela via morta da democracia burguesa. “Vamos suspender todas as medidas de pressão”, exortou o cardeal Julio Terrazas.

Um processo continental
Mais uma vez, na Bolívia, quem fala mais alto são os trabalhadores. Eles estão com o poder ao alcance das mãos, mas novamente esbarram com a traição de suas direções. Incapazes de dar uma saída de classe para o país, um grupo de sindicalistas, incluindo dirigentes da COB (Central Operária Boliviana), foram bater às portas dos quartéis, exigindo um governo cívico-militar. Deram seu apoio ao chefe do estado-maior do exército, general Antezana Ruiz, mas ele desmentiu qualquer plano nesse sentido.

De qualquer maneira, nada indica que a situação possa estabilizar-se em breve. O povo boliviano, que chegou até aqui na luta pela nacionalização do gás e colocou a burguesia e o governo em xeque, não parece disposto a retroceder.
A queda de Mesa na Bolívia, como a queda de Gutiérrez, no Equador, mostram que a América Latina continua sendo um dos centros da luta de classes no mundo. Desde 2000, sucedem-se processos revolucionários em alguns dos países do continente. Não se tratam de situações isoladas, mas de um processo continental que, apesar das diferenças, tem claros elementos comuns.

Post author Alejandro Iturbe, da LIT-QI, e Cecília Toledo, da redação
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