Ex- dirigente do velho MAS, Mercedes Petit nos fala nessa entrevista sobre a preocupação e o tempo que Moreno dedicava a formação política dos militantes

Como você avalia nesse ato ao legado de Moreno

Para mim, pessoalmente, para a “Izquierda Socialista” e para a “Unidade Internacional dos Trabalhadores”, que é a corrente internacional que nós impulsionamos, foi uma satisfação o convite que nos foi feito pelo PSTU e a LIT para marcarmos presença, aqui, juntamente com outros companheiros, como os da CST/PSOL. Este ato nos fez ver centenas e centenas de jovens apoiando os discursos e gritando palavras de ordem em homenagem ao nosso querido mestre, que foi Moreno, e sabendo perfeitamente que para eles, Moreno é, essencialmente, um programa, uma definição política e uma bandeira de luta. Isto nos enche de alegria e nos reafirma a convicção de que o legado político e programático de Moreno pela luta pela revolução socialista mundial e pela construção de partidos revolucionários em cada país é mais necessária e mais urgente do que nunca.

Você teve uma experiência muito importante, ao lado de Moreno, na construção das escolas de quadro, na elaboração de matérias de propaganda, etc. Você poderia nos falar um pouco sobre como foi esta experiência e o que você guarda dela.

Ao lado de Moreno, o que aprendi foi sua constante preocupação em educar e levantar o nível e dar informação a toda a militância, inclusive aos operários que tinham pouca educação (no sentido habitual do termo), os jovens etc. Ele era um educador permanente. Moreno sempre se pôs à frente desta tarefa, mas também deu oportunidade a outros companheiros, como eu, para estudar, para formar-se ao seu lado. Ele buscava, sistematicamente, que fizemos cursos de formação, publicássemos projetos e, inclusive, às vezes, deixando até um pouco de lado outras tarefas.

Reclamávamos sempre que ele deveria, pessoalmente, dedicar mais tempo para escrever mais livros, textos etc. Ele, contudo, era sempre reticente, e usava seu tempo para a formação coletiva, de conjunto. Agora, ele deixou livros fundamentais. Por exemplo, estou feliz em saber que, vocês, agora, estão publicando em português, uma obra de alto nível teórico e de investigação que é “Lógica Marxista e ciências modernas”. Um livro muito avançado para sua época, porque é um livro resultando de uma pesquisa realizada no início dos anos 70 e, praticamente, introduziu Piaget em Argentina, quando ele ainda um psicólogo francês desconhecido. Ou, ainda, obras memoráveis de polêmica política diretamente (polêmica teórica, política e programática), principalmente com seu eterno “adversário”, o revisionista Ernest Mandel, como livro que vocês também irão publicar agora: “A ditadura revolucionária do proletariado”, que tem uma tremenda atualidade, justamente porque representa os primeiros passos de sua polêmica com Mandel sobre o significado de sua capitulação direta à democracia burguesa, sua preparação, nos terrenos da teoria e do programa, para o abandono da ditadura do proletariado e ingresso nos governos burgueses, que sua corrente começou a fazer de forma prática 10 ou 20 anos depois, mas já estava antecipada nesta polêmica. E, por último, outro livro decisivo em nossa formação foi “O partido e a revolução”, que chamamos de “Morenazo”.