A volta à tona das denúncias de corrupção em torno da privatização das estatais, deixa claro que José Serra não passa de testa de ferro de banqueiros como Daniel Dantas, do Oportunity. Além disso, a identificação da candidatura de Serra com o governo FHC faz com que o candidato preferencial da burguesia tenha inúmeras dificuldades para levantar vôo.
Por outro lado, o crescimento da candidatura de Lula, que avança isolado em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto, é a expressão, ainda que distorcida, do balanço que fazem os trabalhadores do quanto o Brasil avançou para o abismo da crise econômica e social em oito anos.
Mas Lula, na medida em que cresce nas pesquisas, busca se mostrar mais confiável ao grande capital. Suas últimas declarações em favor da Lei de Responsabilidade Fiscal e da ALCA são lamentáveis. Sua batalha para viabilizar a coligação com o PL é vergonhosa.
Apoiar a candidatura de Lula nestas condições é um profundo erro político, uma capitulação ao programa capitalista e a política de conciliação de classes do PT. Aqui temos uma grande diferença política com a esquerda do PT, para quem a candidatura de Lula seria o único canal por onde se expressariam os interesses e reivindicações dos trabalhadores. Para nós, pelo contrário, não lançar a candidatura de Zé Maria seria privar os trabalhadores de uma alternativa classista e socialista contra o governo e a burguesia.
Chamar o voto em Lula, como fazem todas as correntes da esquerda do PT – simplesmente porque este é o candidato do maior partido da classe trabalhadora, com grandes chances de vencer as eleições – sem defender a independência de classe e um programa anticapitalista, numa polêmica pública com a direção do PT, é dizer uma meia verdade aos trabalhadores. E, como toda a meia verdade, também é uma meia mentira.
Pior ainda é falar para os trabalhadores “votem em Lula pelo não pagamento da dívida externa, pela reestatização das empresas privatizadas, pela reforma agrária e pela redução da jornada de trabalho“, como se este fosse o programa de governo do PT. Isto já não é uma meia verdade, mas uma mentira inteira.
De uma maneira ou de outra, ao se abster do debate programático ou ao prometer por Lula e pela direção do PT tudo o que eles exatamente dizem que não vão fazer, sem denunciar o programa neoliberal com medidas compensatórias e a política de alianças do PT, a esquerda petista cumpre o papel de um mercador de ilusões.

Quem perder o trem da história por querer…

Mesmo com táticas eleitorais distintas, seria perfeitamente possível para nós do PSTU defendermos, em comum com a esquerda do PT, um programa de ruptura com os planos econômicos do imperialismo e uma política fundada na independência de classes que se dispusesse a colocar nossas candidaturas a serviço das lutas e reivindicações dos trabalhadores. Mas todas as correntes da esquerda petista optaram por defender incondicionalmente a candidatura de Lula e por voltar suas baterias contra o PSTU.
Contra a candidatura de Zé Maria a esquerda petista esgrima dois argumentos lamentáveis: Deve-se votar em Lula porque ele é o candidato da classe trabalhadora com chances de vencer as eleições e o PSTU ao lançar a candidatura de Zé Maria à presidência da República divide a esquerda.
Em primeiro lugar, para nós, o único voto útil para os trabalhadores é o voto num candidato que represente a síntese de suas reivindicações imediatas e históricas. De que nos serve a vitória de Lula nas próximas eleições se ele aplicar um programa capitalista e governar com e para a burguesia?
Em segundo lugar, quem dividiu a esquerda foi o PT e Lula que fizeram a opção clara por alianças com setores da burguesia, buscando ter como grande parceiro de chapa o PL. Quem divide a esquerda é quem optou por um programa para agradar a FIESP e a ganhar a confiança da Bolsa de Nova Iorque.
O apoio incondicional da esquerda do PT a Lula cobrará seu preço num futuro breve. Esta política só servirá para reforçar as posições da direção do PT contra a própria esquerda petista, que vê a suas forças definharem ano após ano. O projeto de constituição de uma “nova maioria“ da esquerda no diretório nacional do PT de tão sólido se desmanchou no ar.
Ainda há tempo para uma mudança de rumo. As grandes batalhas estão por vir, mas as trincheiras estratégicas e programáticas já estão sendo cavadas. Não haverá futuro para quem perder o trem da história.
Post author Euclides de Agrela,
da redação
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