`fotoDecepção e perplexidade. São estas as expressões mais visíveis na maioria dos rostos que deixam as salas onde está sendo exibido Matrix Revolutions, o capítulo final da trilogia inaugurada pelos irmãos Andy e Larry Wachowski, em 1999. A reação do público não é difícil de ser explicada. Afinal, havia uma enorme expectativa, alimentada, inclusive, pelo título do filme. Depois de Matrix e Matrix Reloaded, o que se esperava era, de fato, uma “revolução” dos humanos contra as opressoras máquinas que os controlavam. E é exatamente isto que não ocorre.

A trilogia começa com Neo (Keanu Reeves) descobrindo que tudo o que ele pensa que é “real” é, na verdade, uma ilusão tecnológica produzida por um programa computadorizado, que aprisionou todos seres humanos e os usa como uma espécie de gigantesca “bateria” que fornece energia para um mundo dominado por máquinas.
No primeiro filme, Neo é libertado por uma “célula” de rebeldes que faz com que ele desperte e adquira consciência de sua condição de prisioneiro explorado. No segundo, Neo e seus companheiros lutam contra uma infinidade de “programas” para impedir que as máquinas destruam Zion, a cidade subterrânea onde os homens e mulheres que alcançaram a liberdade vivem. A seqüência acaba, com a promessa de um enfretamento final entre homens e máquinas.

Filosofia, religião, literatura e marxismo

O enorme impacto causado pelo primeiro filme da série se deve pela mescla de filosofia e lutas orientais (mostradas em impressionantes efeitos especiais), aspectos religiosos e pitadas de marxismo que o filme exibia. Tudo isso entrelaçado em uma infinidade de citações, que iam de Alice no País das Maravilhas aos escritos de Jean Braudillard e Arthur Schopenhauer, passando por homenagens a Billie Holiday e a quase toda cultura pop do século XX.

Uma receita que, poucos sabem, deve-se fundamentalmente à relação dos irmãos diretores com uma das figuras mais curiosas do mundo acadêmico norte-americano: o professor negro Cornel West – das prestigiadas Harvard e Princeton – um dos poucos intelectuais dos Estados Unidos que defende abertamente idéias socialistas (bastante “democratas”, é necessário que se diga) responsável, em parte, pelos elementos apresentados no filme sobre o debate racial.

Aliás, este com certeza é um dos aspectos mais interessantes da trilogia: a enorme participação de negros, mestiços, orientais e não-brancos em geral. Boa parte dos comandantes, incluindo Morpheus (Laurence Fishburne) e Niobe (Jada Pinkett Smith), são negros. O próprio Cornel West faz uma ponta nos dois últimos filmes. Ele é o Conselheiro West, de Zion, uma Babel multi-racial embalada pelo melhor da black music e dos sons orientais.

O messianismo venceu

Foi esta combinação que fez com que o filme ganhasse uma legião de seguidores e tenha sido alvo das mais diversas abordagens acadêmicas e jornalísticas.
Visivelmente distante da pasmaceira batida de Hollywood, Matrix tinha apelo particularmente junto à juventude que não deixou de notar que ali estava um grupo de gente diferente, lutando para fugir do controle de um sistema injusto. Era esta luta que muitos queriam ver no final da trilogia. É verdade que há luta e resistência, mas acaba cedendo espaço para o caráter messiânico de Neo.
Apresentado desde o início como O escolhido, uma mescla de Buda e Cristo pós-moderno, o personagem de Keanu Reeves debateu-se com esta história durante toda a trilogia. E quem for ver o filme verá, o que temos no final está muito mais para um “salvador” (com explícitas citações à crucificação) do que um Che Guevara do mundo virtual.

Um desperdício e uma decepção. O que não apaga por completo as qualidades do filme. E, para os fãs de carteirinha, além do primeiro Matrix, ainda há a possibilidade de assistir a série Animatrix (também lançada em vídeo), com excelentes desenhos animados que trazem histórias paralelas da saga.

Post author Wilson H. Silva,
da redação
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