Redação

Nesse dia 2 de outubro, o Massacre do Carandiru completa 25 anos. São 25 anos de impunidade para uma das maiores matanças do sistema carcerário brasileiro.

No dia 2 de outubro de 1992, uma briga entre presos no Pavilhão 9 da Casa de Detenção do Carandiru foi o estopim para o início de uma rebelião que terminaria num dos maiores massacres da história do Brasil. Um dos presos envolvidos na briga teria ficado muito ferido e os seus companheiros revoltaram-se pela falta de socorro por parte da administração. Num local em que mais de 7 mil presos amontoavam-se num local em que só cabiam 3,3 mil, mais de 2.500 só naquele pavilhão, qualquer fato poderia explodir uma rebelião, e foi o que aconteceu.

A Polícia Militar, comandada pelo coronel Ubiratan Guimarães, obteve autorização do então governo Fleury para invadir o presídio. Relatos dão conta que o então diretor do presídio, José Ismael Pedrosa, tentava formar um grupo para negociar com os presos, quando foi retirado pela própria PM com a arma em riste. O que se seguiu foi uma verdadeira execução em massa praticada por 362 policiais fortemente armados com fuzis, escopetas calibre 12, lança-bombas e revólveres.

Participaram a Rota, o Comando de Operações Especiais e o Grupo de Ações Táticas Especiais. Entravam e executavam a sangue frio. Dos presos que morreram naquele dia, 70% levaram um tiro na cabeça ou tórax. Sinal evidente de execução. Muitos foram torturados antes de serem mortos. Presos que se fingiram de mortos para escapar do massacre foram descobertos e assassinados. Sobreviventes eram recrutados para carregarem os corpos dos companheiros. Alguns foram mortos depois.

A conta oficial é que morreram 111 presos, mas sobreviventes acreditam que esse número é bem maior. Esse número se refere apenas aos que foram reclamados pelas famílias. Desses, 89 eram presos provisórios, ou seja, sequer haviam sido julgados. O Pavilhão 9 era o que abrigava os detentos de primeira condenação, geralmente com penas menores.

Impunidade
Foram condenados pelo massacre 72 policiais civis e militares, a penas que variavam de 48 a 624 anos de prisão. Em setembro do ano passado, o Tribunal de Justiça de São Paulo anulou os julgamentos. Um dos desembargadores, Ivan Sartori, chegou a dizer que não houve massacre, mas “legítima defesa”. Um escárnio.

Coronel Ubiratan

Os policiais não só não foram condenados, como foram promovidos. Dos 74 processados, 58 ganharam algum tipo de promoção. Já o Coronel Ubiratan, inicialmente condenado a 632 anos de prisão, foi eleito deputado estadual antes de ser absolvido. Foi assassinado pela namorada em setembro de 2006, sem que tenha pagado por esse crime.

Um ano depois surgiria o Primeiro Comando da Capital (PCC), como uma resposta dos presos a esse crime. Uma prova de que esse tipo de política só piora ainda mais a violência urbana.

O Massacre do Carandiru permanece, assim, impune. Foi uma demonstração de como a Polícia Militar detém uma autorização informal para matar, executar a sangue frio, e não só não ser punido, como recompensado. Foi uma demonstração da polícia genocida e seu modus operandi de sadismo e perversidade, praticado todos os dias nas grandes periferias desse país, sobretudo contra a juventude pobre e negra.