No programa político de Marina, a única coisa “sustentável” é o lucro do capitalA senadora Marina Silva saiu do PT disposta a se candidatar à presidência e ser uma alternativa à falsa polarização entre PT e PSDB. Essa foi a versão da senadora e de seu novo partido, o PV, para tal movimentação. Agraciada com generoso espaço na mídia, Marina se colocou enquanto uma alternativa ecológica e sustentável. Uma novidade nessas eleições tão mornas.

Dia após dia, porém, vai ficando mais difícil para Marina Silva se diferenciar das duas candidaturas majoritárias. Mais que isso, a senadora que um dia representou a luta dos povos da floresta contra o capitalismo predatório, hoje encarna o discurso neoliberal mais radicalizado e conservador.

A verdadeira face de Marina
Nos sete anos que Marina ocupou o Ministério do Meio Ambiente, o governo Lula liberou os transgênicos e, entre outras coisas, aprovou o projeto que aluga áreas da floresta amazônica ao capital privado. Órgãos federais como o Ibama foram desmembrados e esvaziados para facilitar a concessão de licenças ambientais. A ex-ministra pode alegar que, no governo, não teve forças para se contrapor a isso e que ficou isolada. Seria uma explicação, embora não chegue a ser uma justificativa.

As recentes declarações da candidata do PV, porém, não expressam nenhuma pressão de qualquer outro setor, mas o próprio programa político da ex-ministra. Foi com a liberdade de candidata que Marina disse, por exemplo, que, caso fosse Lula, vetaria o fim do fator previdenciário, medida aprovada pelo Congresso. O fator foi criado por FHC para obrigar os trabalhadores a se aposentarem cada vez mais tarde. Mais que isso, em entrevista à rádio CBN no dia 24 de maio, a candidata do PV defendeu uma reforma da Previdência.

Ouça a entrevista de Marina na rádio CBN

Para quem acompanha o discurso de Marina Silva não chega a ser exatamente uma novidade. Quando o Banco Central decidiu subir a taxa de juros, enquanto José Serra criticava a medida, e Dilma tentava passar ao largo da polêmica, Marina não hesitou em apoiar Henrique Meirelles. A candidata também defende abertamente a “autonomia de fato” do Banco Central.

Para elaborar seu programa de governo, a ex-ministra convocou uma equipe de economistas neoliberais, cogitando até mesmo o nome do ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, que comandou a economia durante o governo Itamar Franco.

A farsa do discurso ecológico
Se Marina Silva não se distingue de Dilma e Serra com relação à política econômica, ela pelo menos traz à tona o discurso ecológico, certo? Errado. Com relação à usina de Belo Monte, por exemplo, que contrapõem radicalmente ambientalistas e comunidades indígenas de um lado, e governo e empreiteiras de outro, a ex-ministra nem se posiciona contrária ao projeto. Defende tão somente “maior tempo” para se discutir a questão.

Marina prega o discurso do desenvolvimento sustentável, ou seja, não vê qualquer contradição entre capitalismo e “sustentabilidade”. Isso se expressa na escolha de seu vice, um dos donos da Natura e o 13º homem mais rico do Brasil, o empresário Guilherme Leal, cujo patrimônio é estimado em 2,1 bilhões de dólares. A relação entre o gigante dos cosméticos e a senadora, porém, não é recente. A empresa foi a maior doadora da campanha eleitoral de Marina em 2002.

A empresa, porém, tão afeita ao discurso da sustentabilidade, tem uma ideia bem peculiar do que seja isso. Exemplo disso é o processo movido em 2009 pelo Ministério Público Federal contra a empresa, acusada de “biopirataria” no Acre, o mesmo estado de Marina. Segundo o MPF, a Natura teria usurpado um fruto utilizado por índios da região, o murmuru, para a produção de shampoos e sabonetes, patenteando o fruto. Ou seja, a empresa utilizou um conhecimento milenar dos indígenas para lucrar e ainda quis se tornar proprietária do fruto. Questionada, Marina limitou-se a afirmar que tal disputa era “natural”.

Isso para não falar da exploração da Natura às suas 800 mil “consultoras”, ou vendedoras subempregadas e precarizadas, sem os mínimos direitos trabalhistas.

Esse é o exemplo de “ética” e “sustentabilidade” em que a candidatura Marina quer se espelhar.

Sustentabilidade para poucos
Um dos aspectos explorados pelo comitê de campanha do PV é a biografia de Marina Silva. Vindo de uma família miserável de seringueiros do Acre, Marina teve uma trajetória de vida e superação admirável. Partindo desse aspecto, a ideia do partido é traçar um paralelo com a biografia de Lula.

Infelizmente, não foi somente a trajetória pessoal que Marina herdou do presidente, mas também o abandono dos princípios que nortearam sua militância no início e a defesa incondicional dos interesses do grande capital. A única coisa sustentável do programa político de Marina, assim, são os lucros dos bancos e grandes empresas.