Na última terça-feira, 14 de maio, a ex-senadora Marina Silva, que pretende se candidatar à presidência da República nas próximas eleições pelo seu novo partido “Rede Sustentabilidade”, deu uma declaração defendendo o deputado e pastor Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

Para a ex-senadora, a luta pela retirada de Feliciano da Comissão é preconceituosa e ataca sua crença. De acordo com Marina Silva, o parlamentar, que colocou em votação o projeto da "cura gay", cancelado pela segunda vez nesta quarta, 15 de maio, é "hostilizado mais por ser evangélico do que por suas declarações equivocadas". Essas declarações foram proferidas em Recife, durante um encontro sobre "Democracia e Sustentabilidade" com estudantes na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
 
Infelizmente, Marina Silva, desconsidera que a luta de milhares de ativistas do país nos últimos meses é por uma representação política que não os hostilize, que não considere a homossexualidade como uma doença, e não contra a fé evangélica. Afinal, o que se pretende curar com um projeto de lei que se intitula “Projeto de Cura Gay”?
 
Para nós, que estamos na luta pela criminalização da homofobia e celebramos nesta semana a regulamentação do casamento civil entre homossexuais, consideramos um absurdo o posicionamento de Marina. Não cabe na cabeça de nenhum ser humano que seja contra a opressão e muito menos  de um ativista do movimento gay que a Comissão de Direitos Humanos seja presidida por uma figura política como Feliciano, que tem posturas de atacar todos os direitos humanos e todos os direitos dos trabalhadores LGBTs, que estão sendo conquistados com muita luta e organização política.
 
Feliciano: um atraso na luta dos LGBTs
A luta contra Marco Felicano mostra como o debate dos direitos dos LGBTs ainda está atrasado em nosso país. O termo “homossexualismo” saiu da Classificação Internacional de Doenças e Problemas relacionados com saúde (CID), da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 17 de maio de 1990, sendo oficialmente declarada em 1992. Trazer esse debate no Congresso Nacional, ainda mais na comissão que deveria discutir nossos direitos, é um atraso de mais de 20 anos de nossas lutas!
 
Nós, que estivemos presentes em dezenas de atos que aglutinaram milhares de pessoas em todo o Brasil, consideremos que o pastor Marcos Feliciano representa os setores mais conservadores do Congresso Nacional e da sociedade brasileira. Setores que silenciam diante do número absurdo de assassinatos de LGBTs em nosso país e que seguem relacionando a homossexualidade com desvios de comportamento como a pedofilia, e se opondo a qualquer projeto que vise ampliar direitos ou reduzir a violência contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.
 
Marina Silva: mais uma ameaça aos LGBTs
Para nós do PSTU, o tema dos direitos civis de homossexuais, bissexuais, travestis e transexuais é muito caro. Achamos que independente de credos e de questões religiosas, há uma parcela considerável da sociedade que necessita de um amparo estatal para suas questões imediatas.
 
Falamos isso, pois o casamento gay, que acaba de ser aprovado no país, vai garantir  aos LGBTs que se casarem a alteração de seu estado civil, direitos de patrimônio e previdenciários assim como é hoje para os heterossexuais. Por isso, nós, que desde muito tempo temos essa bandeira em nosso programa e que atuamos nessa luta junto a outros setores, consideremos inadmissível que a defesa da religião do pastor seja colocada como argumentação para mascarar as reais diferenças que temos.
 
A bancada do Congresso Nacional que se auto-intitula “Frente Parlamentar Evangélica” é inimiga dos LGBTs e de todos os trabalhadores! Não estamos argumentando em tom preconceituoso como diz Marina Silva. Façamos um levantamento dos deputados e senadores que compõem a bancada evangélica e vejamos o que defendem os seus partidos. Vejamos quais suas posições acerca da criminalização da homofobia, afinal de contas, o PLC-122 permanece engavetado desde 2006 por conta de acordos do governo com esse setor. A bancada evangélica (bem como a bancada da família, ligada à Igreja Católica) é contra o casamento LGBT, importante conquista para o avanço dos direitos deste setor. Isso sem falar no kit anti-homofobia, um material de combate à homofobia nas escolas, elaborado pelo Ministério da Educação e negociado por Dilma com essa bancada para que não denunciassem o então ministro Palocci por enriquecimento ilícito.
 
Da mesma forma que nós, do PSTU, combatemos a homofobia, o machismo e o racismo, é também uma questão de princípio para nós a liberdade religiosa, somos radicalmente contra a perseguição religiosa. Num Estado verdadeiramente laico, é possível que diferentes religiões coexistam, uma vez que as leis não podem se basear em uma religião em especial. Não é exatamente o que acontece no Brasil, onde há um imenso lobby dos evangélicos e da Igreja Católica, enquanto as religiões de matiz africana, por exemplo, seguem sendo demonizadas, marginalizadas e até mesmo criminalizadas.
 
Marina Silva se apresenta como o “novo”, mas representa o “velho” ao colocar no centro do debate sobre Feliciano não suas asquerosas declarações e posições sobre LGBTs, mulheres e negros e negras, e sim a sua religião. Ela reforça o que há de mais retrógrado e reacionário na sociedade, deixando bem claro o lado no qual ela e a sua “Rede” estão nesta batalha.