Jovens, trabalhadoras, donas de casa, mulheres que sofrem todos os dias com a opressão machista foram às ruas de Belém colocar suas bandeiras e suas reivindicações. Muitos homens também compuseram o ato, mostrando que o machismo não é uma luta de mulheres contra homens e sim uma luta política, de todos os trabalhadores, contra o sistema capitalista. Ao todo cerca de 500 pessoas compareceram ao ato.

A marcha ocorreu no dia 28 de agosto. A concentração se iniciou a partir das 9h na escadinha da Estação das Docas, e por volta das 10h30 os manifestantes saíram em direção à Praça da República. Essa manifestação teve origem no Canadá em protesto à fala de um policial que orientou as jovens a não usarem roupas de ‘vadias´ para evitar serem estupradas. Desde então em vários países as mulheres se mobilizaram contra a responsabilização da mulher pela própria violência que sofre.

O Pará é hoje o 3º estado no ranking de queixas de violência contra a mulher, chegando a 237 denúncias a cada 50 mil mulheres paraenses. Na CPI da pedofilia aberta no estado em 2008, aponta que nos últimos cinco anos ocorreram cerca de 100 mil casos de abuso sexual de menores, dentre estes a maioria vitimando meninas.

Por conta de todos esses dados, a unidade dos setores organizados de mulheres, refletidos nos vários coletivos presentes, assim como a presença de mulheres que não estão organizadas, mas que queriam se expressar em favor da luta da mulher foi fundamental para o sucesso da marcha. Desde o princípio, optou-se pela liberdade de expressão de todos esses setores, uma vez que se compreendia a pluralidade de opiniões existentes.

Infelizmente, essa democracia não se fez presente no ato. As falas de várias companheiras que questionaram as políticas do governo Dilma foram vaiadas e sufocadas pela bateria da “Marcha Mundial de Mulheres”. Essa postura, além de coibir a voz de mulheres em um ato contra a opressão da mulher, fragiliza a unidade construída ao longo desse processo.

Quando se tem a primeira presidente mulher no país é inadmissível que se faça uma avaliação das políticas do governo no que diz respeito às mulheres. 70% da população que vive com um salário mínimo no Brasil são mulheres e mesmo assim Dilma deu um aumento irrisório de R$30,00, enquanto seu próprio salário aumentou mais de 46%. Além do corte de 50 bilhões no orçamento público federal que afetou centralmente as secretarias de educação, saúde e assistência, todas com influência direta na vida das mulheres jovens e trabalhadoras brasileiras. Esses são fatos da realidade que não podem ser deixados de lado.

Nós do ‘Movimento Mulheres em Luta’ estivemos presente na manifestação e ao som de palavras-de-ordem como “oh, oh Dilma, eu quero ver Maria da penha acontecer” e “oh, rede globo qual a piada, estupro é crime e não uma palhaçada” dentre outras, demos nosso recado, e nos colocamos a disposição para a construção de mais espaços como esses, que fortaleçam a luta contra o machismo e a exploração capitalista.