Jefferson Mendes, de São Paulo (SP)

A Marcha da Periferia nasceu em 2006, através da iniciativa do Movimento Hip Hop Quilombo Urbano, entidade político-cultural que atua nos bairros de periferias maranhense desde 1989. Dois fatores fundamentais deram origem à Marcha: a percepção de que os conflitos entre a juventude negra estavam se intensificando no interior dos seus próprios bairros, e a tentativa de construir um pólo de esquerda junto à periferia e a população negra, como resposta à institucionalização da maioria do movimento negro, que se encontra atrelado aos governos, especialmente ao governo federal.

Do Maranhão para São Paulo, de São Paulo para o Brasil
Nesse ano, o lema da Marcha é “Contra a Criminalização da Pobreza”. O protesto está acontecendo em dois pólos regionais. Norte-Nordeste e Sul-Sudeste. São Luís (MA) será a cidade sede da região Norte e Nordeste, e São Paulo a cidade sede da região Sul e Sudeste.

No Maranhão, o principal evento da Marcha está marcado para o dia 25 de novembro. A principal novidade deste ano foi a combinação da Marcha da Periferia com o “Plebiscito dos 10% do PIB para educação pública já!” e a luta contra a violência contra a mulher (veja ao lado).

Está programada uma caminhada no centro, que terá uma coluna da educação, formada por professores e alunos, e pelas organizações feministas como Mulheres em Luta, Setorial de Mulheres da CSP-Conlutas e do Grupo de Mulheres Preta Anastácia do Quilombo Urbano.

No dia 26 de novembro, está marcado uma reunião regional do Movimento Negro “Quilombo Raça e Classe” (filiado a CSP-Conlutas) e do Movimento Hip Hop Quilombo Brasil, entidade nacional do qual as organizações de Hip Hop, Quilombo Urbano (MA), Principio Ativo (PI) e o Cangaço Urbano (CE) são filiadas. Essas entidades nacionais começam a se destacar como alternativas políticas para reorganização do povo negro.

Em São Paulo, foi realizada a Primeira Marcha da Periferia. Organizações do Movimento Hip-Hop classista, como a Família Rap Nacional e o Hip Hop Livre, somaram-se à CSP-Conlutas, ao PSTU e diversas outras organizações para construir uma manifestação alternativa, independente de governos e patrões.

O ato chegou a reunir 150 ativistas na Praça da Sé, ligados a diversas entidades e movimentos. O uso dos microfones foi alternado entre as intervenções políticas de representantes das entidades e as rimas políticas dos grupos de RAP.

As falas expressavam o debate sobre o que significa a unidade do movimento Hip Hop, de luta e classista, como expressão da luta nas periferias, com as organizações operárias e estudantis que não se rendem ao governo federal de Lula e Dilma, e muito menos ao governo estadual de Alckmin e da Prefeitura de Kassab.

Movimento Negro precisa romper com governo
O último censo do IBGE mostra como as desigualdades sociais e raciais têm se intensificado. Isso é resultado da opção do PT em governar para os capitalistas dando continuidade as políticas neoliberais. O Estatuto da Igualdade Racial foi dilacerado para beneficiar os setores mais reacionários da política brasileira e do capital transnacional, a bancada ruralista e o agronegócio.

Hoje, 86% das famílias negras vivem com Bolsa-Família, um absurdo que demonstra que o governo do PT (de Lula e Dilma) manteve intocável a odiosa política de apartheid social do Brasil. A violência contra a mulher, sobretudo as negras, tem se alastrado.

Acreditamos que iniciativas como Marcha da Periferia são fundamentais para preparar uma parte importante de nossa classe, o povo negro, para o enfrentamento de mão única contra o racismo, o capitalismo e seus governos. O internacionalismo também tem lugar na Marcha, que ergue a bandeira de solidariedade à luta dos povos haitiano, palestino e a primavera revolucionária do povo árabe.
Está mais do que na hora do movimento negro romper definitivamente com o governo de Dilma que tem se demonstrado completamente conivente com manutenção do racismo brasileiro.

A história de luta de Zumbi dos Palmares, Dandara, Acotirene, Negro Cosme, Panteras Negras, Malcolm X, Steve Biko, Toussaint L’Overture, e tantos outros não pode ser mero símbolo histórico a ser lembrado na semana da consciência negra. São exemplos vivos de que a luta contra o racismo e contra o capitalismo jamais será coerente ser for travada de mãos dadas com os inimigos do povo negro e dos trabalhadores.
Post author Hertz Dias e Jefferson Mendes, da Secretaria Nacional de Negros e Negras do PSTU
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