Na semana passada, o senador Flávio Bolsonaro virou centro dos noticiários mais uma vez ao comprar uma mansão de 2.400 metros quadrados, no valor de R$ 5,97 milhões, em área nobre de Brasília. Num país tão desigual como o Brasil, o fato teria passado desapercebido se o parlamentar não fosse filho do presidente genocida e não estivesse sendo investigado por corrupção.

Flávio é suspeito de desviar parte dos salários dos assessores quando era deputado estadual do Rio de Janeiro e lavar o dinheiro por meio de uma loja de chocolate e de compra e venda de vinte imóveis entre 2007 e 2018. A falcatrua ficou conhecida como esquema das rachadinhas. Segundo a denúncia do Ministério Público, ele teria desviado cerca de R$ 6 milhões.

A matemática fecha, mas só com o esquema das rachadinhas, porque o patrimônio declarado pelo senador nas eleições de 2018 foi de R$ 1,74 milhão. Considerando que ele alega ter comprado o imóvel com recursos próprios, a mansão fica quase 3,5 vezes acima das suas possibilidades.

Ele alega que vendeu um apartamento no Rio de Janeiro, onde reside, na Barra da Tijuca, avaliado em pouco mais de R$ 900 mil, e uma franquia de uma marca de chocolates. Ambas propriedades são apontadas pelo Ministério Público como prováveis meios de lavagem de dinheiro pelo senador.

O restante teria sido financiado. As prestações ficaram em torno de R$ 20 mil, o que comprometeria cerca de 70% da renda de Flávio. Seu salário líquido de senador é de R$ 24.900.

Relações espúrias

A ostentação dessa compra por si já é uma zombaria com a cara dos brasileiros, dos quais milhões estão sem emprego ou subempregados e não sabem se vão ter o que comer no dia seguinte.

Deixando isso de lado, as relações envolvidas na transação fazem parecer que se trata de uma continuidade de suas negociatas lá no Rio de Janeiro. O vendedor do imóvel – que possui academia, brinquedoteca, área gourmet, piscina e outras coisas que não temos nem como imaginar – é Juscelino Sarkis, de família milionária do agronegócio e do ramo imobiliário. Dentre as controvérsias dos Sarkis, estão um flagrante de trabalho escravo numa fazenda em Minas Gerais e a aquisição de uma propriedade usada para torturar padres durante a ditadura militar.

O que chama a atenção, porém, é a namorada de Sarkis. Cláudia Sílvia de Andrade foi juíza-assistente do ministro do Superior Tribunal de Justiça João Otávio de Noronha. Ele tem favorecido a defesa de Flávio, que tenta esvaziar as investigações e anular o processo das rachadinhas. Noronha foi um dos votos favoráveis à anulação da quebra do sigilo bancário do senador.

Sarkis afirma que foi tudo feito dentro da lei. No entanto, até este momento, o imóvel de Flávio no Rio não foi vendido segundo documentação do cartório, a despeito das desculpas esfarrapadas que ele tenha dado.

Já o cartório em Brazlândia, cidade onde registrou a transação apesar de a mansão estar endereçada em Brasília, ocultou dados de Flávio na escritura. Isso não é permitido, pois trata-se de documento público que deve estar acessível a qualquer pessoa. Entre as informações escondidas com tarja preta, estão a renda do senador e de sua esposa, a dentista Fernanda Bolsonaro, que aparece como sócia da mansão.

O financiamento foi feito pelo Banco de Brasília (BRB), banco público do Distrito Federal, governado por Ibaneis Rocha, apoiador de Jair Bolsonaro. A taxa de juros, 3,65%, é uma das mais baixas do mercado. Somadas as rendas de Flávio e Fernanda, aproximadamente R$ 37 mil, não atingiram o mínimo exigido para a transação, que seria de cerca de R$ 46.500. Além disso, a prestação vai consumir em média R$ 20 mil, mais da metade da renda do casal. Mesmo assim, saíram do banco com um empréstimo para pagar por uma mansão.

Você consegue um empréstimo assim, ajustadas as proporções, para pagar as suas dívidas? O governo e os bancos públicos oferecem linha de crédito superfacilitadas e com juros baixos a pequenos negócios? Pois é.

 

FAMILÍCIA

A gangue dos Bolsonaro

Três dias depois, o pai Jair Bolsonaro vomitou uma de suas frases virulentas sobre a pandemia: “Chega de frescura, de mimimi, vamos ficar chorando até quando?” Ele precisa disso para manter sua claque fiel do cercadinho. Mas é também uma estratégia que utiliza para desviar a atenção de cima do filho. Já não cola tanto como antes.

Há coisas mais graves. O presidente interferiu nos comandos da Polícia Federal e da Abin para nomear indicados de sua confiança. Ele faz isso sem nenhum constrangimento, nem mesmo quando teve uma fala sua revelada, na famosa reunião de ministros de abril de 2020, na qual dizia que interferiria sim se fosse para “proteger os seus”.

A verdade é que quem ocupa hoje o Planalto e uns cargos no parlamento não é uma família, mas uma gangue. Esses fatos e dados são apenas demonstrativos disso. Os Bolsonaro não passam de um projeto de ditador genocida com três filhos parasitas sugando recursos públicos.

O fato de Flávio Bolsonaro realizar esta transação em plena luz do dia, no meio de uma investigação contra si por corrupção, e apresentar um monte de desculpas esfarrapadas num vídeo com cara de deboche é uma afronta à classe trabalhadora, ao povo pobre e aos pequenos proprietários que estão falindo no meio de uma catástrofe humanitária.

É também a certeza da impunidade de um sistema que protege os ricos e prende os pobres e pretos; de um sistema que permite que o papai dê meia dúzia de gritos e livre a cara do filho. Não podemos olhar para isso e achar normal ou que é apenas mais um caso.

Bolsonaro não para de causar milhares de mortes e se recusa a dar auxílio decente para que se possa fazer lockdown. Enquanto isso, existe o risco de seu filho sequer ser investigado.

Temos que nos revoltar contra isso e contra todas as barbaridades dessa quadrilha, a começar pelo chefe. Fora Bolsonaro, Mourão e a gangue toda!