Reunião das fundações partidárias para lançamento do manifesto. Foto Agência PT
Mariucha Fontana

Manifesto que une PT, PDT, PCdoB e PSOL defende governos do PT e crescimento econômico capitalista

No dia 20 de fevereiro, as fundações partidárias do PT, do PCdoB, do PDT e do PSOL lançaram, na Câmara dos Deputados, o manifesto “Unidade para reconstruir o Brasil”. O evento foi noticiado em toda a mídia e comentado por alguns analistas como o lançamento de um programa mínimo comum que pavimenta as bases para a unidade da esquerda para além das táticas eleitorais de cada partido no primeiro turno.

No ato, o manifesto foi apresentado como um esforço para construir uma base programática, facilitando a união de amplas forças políticas sociais, econômicas e culturais. A presidente do PT, Gleice Hoffmann, parabenizando as fundações presentes, disse que o ato era um momento histórico: “apesar das divergências, as fundações conseguiram superar isso e apresentar à sociedade e aos partidos uma proposta que é um início, uma proposta programática para o Brasil.”

Anunciando o ato com entusiasmo, o PCdoB diz, em seu Portal Vermelho, que “a iniciativa das fundações Maurício Grabois (PCdoB), Perseu Abramo (PT), Leonel Brizola-Alberto Pasqualini (PDT) e Lauro Campos (PSOL) deu origem a um documento no qual são elencadas as razões fundamentais para a construção de uma unidade política progressista e as tarefas imperativas a serem alcançadas.”

Em seu site nacional, o PSOL traz uma nota defensiva da sua Executiva, explicando que o manifesto é mera unidade de ação, dando a entender que se trata de algo tático: “Trata-se de diretrizes políticas construídas pelas fundações partidárias para nortear as ações parlamentares e a necessária unidade de ação nos enfrentamentos à agenda conservadora imposta na atual conjuntura.

Ao contrário do que diz a nota da Executiva do PSOL, a unidade é estratégica. Taticamente, os partidos podem sair separados no primeiro turno. A prioridade para eleger a qualquer custo os une, tal como um programa capitalista, nos limites da ordem, e também a defesa dos governos do PT como um campo burguês progressista.

O que diz o manifesto
O manifesto diz que “independentemente das estratégias e táticas eleitorais do conjunto das legendas progressistas, uma base programática convergente” defende “um novo projeto nacional de desenvolvimento.” Capitalista, dizemos nós.

É um manifesto de um bloco de colaboração de classes, com um programa capitalista de desenvolvimento da nação, que reivindica o legado dos governos do PT e considera que existe um setor progressivo da burguesia. Na verdade, defende a continuidade do que fez a Frente Brasil Popular no governo.

Diz o manifesto: “estão sendo eliminadas ou mitigadas conquistas de natureza patriótica, democrática e popular alcançadas pela luta do povo brasileiro nos governos Getúlio Vargas e João Goulart – e ainda as conquistas que foram auferidas nas jornadas pela redemocratização do país e que resultaram na Constituição Cidadã de 1988 –, bem como o acervo de realizações do ciclo progressista de 2003-2016, dos governos Lula e Dilma, entre as quais o avanço dos indicadores sociais e a afirmação da soberania nacional.”

O programa que defendem para reconstruir o Brasil é o de sempre: crescimento econômico capitalista para depois distribuir renda. Em outro trecho, diz: “oito meses separam o país das eleições de 2018. Há forte desalento na sociedade, mas, ao mesmo tempo, é grande a vontade do povo de retirar o país da crise e vê-lo reencontrar-se com a democracia e novamente prosperar, distribuir renda”, ainda que o projeto seja “incentivar os investimentos produtivos e desestimular a especulação financeira e rentista”. Defende, ainda, “investimentos elevados em ciência, tecnologia e inovação que alavanquem a indústria nacional (…) credenciando-a a competir na acirrada disputa do mercado mundial”.

Como se vê, o plano é o crescimento econômico capitalista, com forte participação do Estado no financiamento do setor produtivo.

Unidade estratégica

Há unidade estratégica entre esses partidos, podendo haver diferença tática e apresentação em candidaturas separadas no primeiro turno, para convergir numa única candidatura no segundo. Não se pode nem dizer que está inteiramente descartada uma confluência inclusive no primeiro. Ciro Gomes (PDT), Manuela D’Ávila (PCdoB), Lula ou outro nome do PT, Guilherme Boulos (PSOL) não possuem diferentes estratégias, sequer grandes diferenças táticas. Há, isso sim, uma busca por uma melhor localização eleitoral (eleitoreira) de cada força (o PCdoB por exemplo, pode apoiar o vice de Alckmin, Marcio França do PSB para o governo de São Paulo; Ciro Gomes está bravo, porque queria que o PT se definisse já por ser seu vice).

Quanto a Guilherme Boulos, a melhor definição para a sua candidatura e o programa que defende foi feita por setores do próprio PSOL, que dizem ser um “puxadinho do PT”, referindo-se à Plataforma Vamos.

Esse manifesto e programa, “Unidade para reconstruir o Brasil”, assinado pelo PSOL, não chega nem a ser um puxadinho do PT: é mera adesão a um programa capitalista de crescimento econômico. Adesão a um bloco de colaboração de classes (burguês, portanto) que, além de tudo, em meio à enorme crise estrutural do país, propõe basicamente o mesmo programa que o PT desenvolveu nos últimos 14 anos, quando havia boom das matérias-primas e crescimento econômico. E deu no que deu… Esse manifesto, a rigor, não é sequer reformista.