Porque estamos saindo do PSOL

O fato de agora estarmos rompendo com o PSOL não nos dá o direito de dizer que dentro desse partido não existem ainda (embora minoria) militantes que reivindicam honestamente o socialismo e uma estratégia revolucionária. Respeitamos esses(as) valorosos(as) companheiros(as) e exatamente por reconhecer isso é que para nós se faz necessário polemizar claramente com eles acerca dos graves erros estratégicos que, na nossa opinião, esses(as) companheiros(as) cometem ao continuar insistindo nesse sentido.

Defendemos o socialismo e a estratégia revolucionária. Isso significa que partimos do pressuposto que só a organização coletiva dos trabalhadores com o objetivo de tomar o poder político para realizar uma ruptura completa com os interesses capitalistas é que pode servir como primeiro passo para a construção do socialismo, que só poderá existir se a revolução avança para a arena internacional. E para construir esse projeto será preciso uma direção, que apresente ao proletariado e ao conjunto das massas trabalhadoras, um programa de transformações que a mobilize e que, ao mesmo tempo, coloque a necessidade da tomada do poder político para realização dessas mudanças. E esse objetivo nunca poderá ser cumprido se à direção do processo estiverem organizações que misturam revolucionários e reformistas.

Não será possível porque a vocação dos reformistas é fazer reformas e estes partem do princípio que as reformas são possíveis no capitalismo. Como têm essa compreensão, os dirigentes das organizações reformistas, diante de um processo revolucionário, não serão defensores da tomada do poder pelos trabalhadores, mas serão obstáculos, justamente por acreditar que sendo as reformas o mecanismo de transição para a transformação social, não seria necessário desenvolver revoluções nem processos agudos de ruptura.

 A transformação que eles defendem como estratégia poderia em tese se dar por dentro das instituições, respeitando o regime democrático-burguês do capitalismo. Por esta razão, se organizações mistas (que reúnem reformistas e revolucionários) forem as dirigentes das massas num processo revolucionário, o que ocorrerá é que a direção da classe se dividirá em dois campos inconciliáveis e a luta que deveria ser unificada contra a burguesia e seu regime se dará dentro da própria organização dos trabalhadores, levando a revolução à derrota. Por isto, a tarefa estratégica dos revolucionários é a de construir organizações políticas que abrigam aqueles que defendem a estratégia revolucionária.

Foi com esse espírito que estivemos no PSOL. Achávamos que seria possível transformar essa organização num partido socialista e revolucionário de fato, que defende a revolução. Não sendo possível isto, não nos restou outra saída senão a saída e, a partir da nossa consolidação enquanto Coletivo Socialista Revolucionário – CSR, buscar a construção de uma alternativa revolucionária a nível nacional e internacional.

Por isso não nos aliamos à militância socialista que insiste em “salvar o PSOL”. Continuaremos militando ombro a ombro e atuando unitariamente na luta de classes, sempre que for possível. Não nos negaremos em qualquer hipótese a travar com todos os que querem lutar qualquer combate importante para a luta dos trabalhadores. Mas não concordamos em dar aval a um projeto que é um obstáculo para a estratégia revolucionária no Brasil e no mundo.

Quem somos e o que defendemos
Uma das principais virtudes dos revolucionários deve ser a de conhecer a suas próprias forças. Não somos um partido revolucionário nem tampouco um grupo político enraizado no movimento de massas.

Somos um grupo de lutadores(as) que têm atuação em âmbito regional, no Rio Grande do Norte (majoritariamente trabalhadores da UFRN) e que, em função desse processo de experiência e da necessidade que vemos em defender a estratégia socialista e construir uma organização revolucionária no Brasil, optamos por romper com o PSOL e seguir atuando na luta de classes.

Temos total clareza que não será através das eleições que as grandes transformações acontecerão, que dirá a possibilidade de superar o capitalismo. Acreditamos e apostamos na luta, na ação direta, na mobilização e na organização dos trabalhadores como instrumento privilegiado para conquistar as reivindicações imediatas e, ao mesmo tempo, acumular força para as demandas estratégicas, até o momento da tomada do poder, que deverá instaurar um governo dos trabalhadores. Nesse sentido, pretendemos nos diferenciar do reformismo, do eleitoralismo e suas variantes.

Por outro lado, rejeitamos de forma categórica e absoluta o ultra-esquerdismo comum às organizações que rejeitam a participação nas eleições como uma oportunidade para divulgar o programa socialista e como ponto de apoio para as lutas dos trabalhadores, através da atuação tanto nas campanhas como nos mandatos revolucionários. Do mesmo modo, rechaçamos o vanguardismo, as ações isoladas e o sectarismo que se expressa nas correntes que se negam a realizar unidade de ação com todos aqueles que (mesmo apenas em determinado ponto ou forçados pela pressão das bases) aceitam travar lutas contra os governos e os capitalistas.

Somos oposição de esquerda ao governo Dilma, do PT, que está claramente a serviço dos grandes capitalistas e que ataca implacavelmente os trabalhadores, principalmente quando estes vão à luta. No mesmo sentido, nos contrapomos aos aparatos do movimento que se colocam a serviço dos interesses desse governo de conciliação de classes, como é o caso da CUT, da UNE, etc., sem deixar de reconhecer que ainda existem setores das organizações da classe que infelizmente ainda não romperam com esses aparatos, mas com quem podemos, em determinados momentos, realizar unidades pontuais ou até mesmo frente única.

Reivindicamos a construção da CSP-Conlutas como um instrumento imprescindível para organizar para a luta os setores rompidos com o governismo no movimento sindical, popular e de luta contra as opressões (machismo, racismo e homofobia) e, ao mesmo tempo, se apresentar como um embrião de direção combativa, classista, independente e socialista da classe trabalhadora brasileira – tanto por meio do fortalecimento e da construção dessa central, como pelo desenvolvimento de iniciativas que envolvam e aproximem outros setores, como o Espaço de Unidade de Ação.

Por fim, somos internacionalistas proletários. O sistema capitalista oferece apenas mais desigualdades, miséria, repressão e opressão à classe trabalhadora em todo o mundo. Como um sistema mundial e conectado com todas as formas de vida social no planeta, não faz sentido o desenvolvimento das lutas locais se elas não estão conectadas com uma estratégia que tenha no horizonte o enfrentamento com essa sociedade em todo o mundo.

 A revolução socialista brasileira, assim como qualquer revolução em qualquer país, só poderá avançar com o encadeamento de um processo revolucionário que avance na arena internacional. Por essa razão, não temos nenhuma ilusão de que nosso grupo conseguirá assumir grandes desafios sozinhos. A nossa constituição enquanto coletivo político se coloca, desde já, na perspectiva de apontar para a construção de uma organização internacional.

Esta é uma tarefa já em curso e que não será fácil. Mas é com a convicção de que o socialismo e a revolução são as estratégias para a libertação da classe trabalhadora e de toda a humanidade que neste momento anunciamos, nesse manifesto político, nossa intenção de contribuir com esse desafio histórico.

Natal, 28 de maio de 2014

Assinam:  Andrezza M. B. Silva, Benjamin Severo de Souza, Carlos Eufrásio, Dorotea Barbosa, Flávio Roberto Xavier, Ismael Martiniano, José Ricardo, José Rebouças, José Ricardo, Maria Neuza G. Silva, Rosana Maria Garcia, Rosaneide Maria, Rosângela Xavier e Roberto Luiz Machado.