Pelo terceiro dia consecutivo manifestantes saem às ruas no Irã contra as autoridades do país. Os protestos começaram no sábado após o Ministro de Relações Exteriores, Javad Zarif, reconhecer publicamente que a queda do avião ucraniano foi causado por erro humano. Em um primeiro momento, as autoridades iranianas se omitiram e chegaram a declarar que não entregariam a caixa-preta da aeronave para investigação. Após negar qualquer tipo de responsabilidade por três dias, no sábado (11) veio à público o fato de que a aeronave foi abatida por engano em meio a escalada de Tensão com os Estados Unidos após a morte do general iraniano Qasam Suleimani. Os 176 civis que estavam no avião morreram.

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Ao que tudo indica, já que há sérias restrições à imprensa não oficial no país, os protestos estão sendo reprimidos pela polícia iraniana. Em vídeos que circulam nas redes sociais e divulgados pela imprensa internacional mostram os manifestantes sendo dispersos com bombas de gás. Em outros, há denúncias de uso de munição letal e manifestantes feridos. Os protestos acontecem na capital Teerã e já começam a se espalhar por outras cidades do país como Amal e Semnan.

Aiatolás na mira

A queda do avião ucraniano, contudo, é apenas a gota d’água para os protestos. A crise econômica no país, as sanções imposta pelo imperialismo, o desgaste dos aiatolás e a incapacidade do regime em responder a essas questões fazem parte da insatisfação popular. O desemprego no país está na casa dos 12% e cerca de 20 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza.

Nem mesmo o recente assassinado de Qasam Suleimani, um dos homens fortes do regime, foi capaz de unificar o povo iraniano sob a bandeira da defesa nacional. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram manifestantes arrancando cartazes que homenageavam o general. Entre as palavras de ordem entoadas nas ruas iraniana estão “Morte aos mentirosos” e “Fora clérigos!”. Protestos também aconteceram no Iraque e no Líbano. Houve confronto com braços armados de grupos políticos apoiados por Teerã.

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A crise continua

Em novembro do ano passado o Irã já havia enfrentado uma onda de protestos quando o governo decidiu aumentar em 200% o preço dos combustíveis. O país entrou em ebulição: protestos foram registrados em mais de 100 cidades e a população gritava “Morte ao ditador”.

A reação do regime foi desligar a internet do país e usar a Guarda Revolucionária para reprimir a própria população. Os manifestantes reagiram incendiando prédios públicos e bancos. Estima-se que 450 pessoas tenham morrido na pior repressão desde a Revolução de 1979. Setores do clérigo, inclusive, chegaram a defender publicamente a punição dos manifestantes com pena de morte.