Após a crise provocada pela repressão do dia 13, polícia recua e assiste a manifestantes tomando a capital

O dia 17 de junho vai entrar para a história da capital paulista. Durante horas, dezenas de milhares de pessoas pararam a cidade, com manifestações gigantescas que percorreram pontos nevrálgicos de São Paulo. Segundo a imprensa, algo como 65 mil pessoas saíram às ruas nesta segunda-feira. O movimento calcula 100 mil pessoas, num protesto que, se teve o aumento da tarifa do transporte público como primeiro detonador, canalizou agora descontentamentos como a situação da Saúde e Educação, os recursos públicos utilizados na Copa e os governos Dilma, Alckmin e Haddad. Um cartaz sintetizava parte do que impulsionou essa multidão às ruas: "Não são os centavos, são os direitos". Foi a maior manifestação desde o movimento “Fora Collor” de 1992.

Após a crise política desatada pela brutal repressão policial na manifestação realizada na última sexta, desta vez o governo Alckmin foi obrigado a recuar. Ao contrário dos outros protestos, desta vez não houve deslocamento da Tropa de Choque e nem restrição à ocupação de avenidas movimentadas. E, sem polícia, não houve repressão ou violência. A palavra de ordem mais cantada pelos manifestantes dizia ironicamente: "Mas que coincidência/não tem polícia e não tem violência".

O quinto grande ato contra o aumento das passagens saiu do Largo do Batata, zona oeste da cidade, no final da tarde, e partiu em passeata pela Avenida Faria Lima. Em determinado momento, ela se dividiu. Uma parte atravessou a Ponte Eusébio Matoso e a Marginal Pinheiros e outra foi até o Itaim Bibi. Elas se encontraram momentos depois em plena Ponte estaiada, num momento que vai ficar preso na retina de todos por muito tempo. Milhares de pessoas corriam pela Ponte estaiada gritando: "revolução".

O apoio demonstrado pela população nas ruas não foi menos que surpreendente. Além de pedestres, passageiros de ônibus e motoristas parados no trânsito devido às manifestações buzinavam e acenavam em apoio aos protestos. Durante todo o trajeto, manifestantes, sobretudo jovens, muitos deles que certamente nunca participaram de uma manifestação na vida, ajudavam a parar o trânsito ou reencaminhar os carros para que as pessoas pudessem passar com segurança.

Após uma grande concentração realizada na Ponte estaiada, as dezenas de milhares de pessoas ainda tinham muito fôlego para continuar protestando. A maior parte seguiu rumo à Avenida Paulista, onde já havia manifestantes que haviam ido direto do Largo do Batata. Uma distância de cerca de 10 quilômetros. Um grupo menor foi até o Palácio dos Bandeirantes, n Morumbi, onde chegaram a derrubar o portão e foram reprimidos.

Com uma insatisfação e revolta entaladas por anos na garganta, a população e a juventude saem às ruas e protagonizando uma onda de protestos como não se via há duas décadas. O que mais se ouve é: “A pergunta não é por que, mas por que só agora”.

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