Este ano, os cerca de 8.500 metalúrgicos de São José dos Campos (SP) deram um exemplo para todo o país, enfrentando e derrotando as tentativas de retirada de direitos. Agora, os metalúrgicos da Conlutas saem na frente, lançando uma campanha pela estabilidOpinião Socialista – A GM deu férias coletivas em São José dos Campos, reabriu o PDV e agora fechou o setor da fundição. Como está o ânimo dos trabalhadores?
Mancha
– A GM vem desencadeando essa pressão desde o início do ano, para reduzir seus custos. Mesmo no momento de um grande crescimento das vendas e da produção, já pressionava os trabalhadores, tentando reduzir direitos, com o banco de horas.

Agora, ela vem reduzindo drasticamente a produção, com férias coletivas e escalonamento dos setores. Obviamente, isso traz uma situação de insegurança entre os trabalhadores.

Vocês lançaram uma campanha diante da crise. Como é essa campanha?
Mancha
– A campanha que lançamos é em defesa do emprego, pela estabilidade. Nos moldes de uma campanha salarial ou da que fizemos contra o banco de horas. Ela começou no dia 17 de outubro, com assembléias nas fábricas, no dia nacional de luta.

Os metalúrgicos aprovaram essa campanha pela estabilidade e ela vem crescendo. Será uma grande campanha, com adesivos e jornais, como o que já foi distribuído nas fábricas, pelos metalúrgicos da Conlutas. Também iremos colocar outdoors pela cidade.

Esta precisa ser uma campanha ampla, que envolva não só metalúrgicos. Precisamos unir outras categorias. Todos os trabalhadores serão afetados pela crise.

Vocês estão procurando trabalhadores da GM de outros países para essa campanha?
Mancha
– É uma tradição nossa e já da Conlutas a globalização das lutas. Estamos buscando nos articular internacionalmente, na medida em que este é um ataque generalizado. Atinge tanto os trabalhadores daqui, como os da Europa, dos EUA, e da Argentina, onde já ocorreram protestos contra as demissões.

Estamos procurando esses trabalhadores e vendo a possibilidade de nos reunirmos durante o Fórum Social Mundial.

A imprensa já anunciou que a GM está quebrada, e Obama estuda um novo pacote. Qual a situação real da empresa?
Mancha
– A crise atingiu fortemente a GM. A empresa já, há certo período, vinha afirmando que atravessava dificuldades. Ela tinha uma receita para isso, procurava superar através da exploração dos trabalhadores. Tentavam reduzir salários e custos, não só em países como a Índia e o Brasil, onde a GM atinge grandes lucros. Mas até mesmo nos Estados Unidos.

Há anos que os trabalhadores de lá estão sendo atacados. Hoje, os salários já estão reduzidos. Quem começa a trabalhar agora, recebe 10 dólares a hora, contra os 32 dólares que são pagos aos funcionários mais antigos. A intenção sempre foi de tentar colocar os salários dos EUA próximos aos daqui, da Índia, da China etc.

E agora? Na crise?
Mancha
– A solução continua a mesma. Aprofundar os ataques, com reestruturação, demissões, fechamento de fábricas e redução de salários. Vão querer usar a crise para implantar um ataque nunca visto aos metalúrgicos dos EUA.

É nestes termos que o novo pacote está sendo preparado. Se sair o dinheiro necessário para salvar a GM, a contrapartida será uma reestruturação total da empresa, principalmente nos salários. Outro instrumento que podem usar para isso é o pedido de concordata. Se a empresa pedir, fica dispensada de uma série de obrigações, como o contrato de trabalho. Poderia reduzir livremente os salários.

Vocês enfrentaram os que diziam que era preciso aceitar a chantagem e trocar empregos por direitos. Agora, você acha que uma parte dos trabalhadores poderá aceitar propostas assim, para preservar seus empregos?
Mancha
– Obviamente, pode haver tentativas por parte das empresas, de reeditar a idéia da flexibilização. Mas os trabalhadores já demonstraram que estão dispostos a enfrentar essas ameaças. Essa experiência foi muito importante, porque ficou como uma lição. Derrotamos o banco de horas e demonstramos ao conjunto dos trabalhadores que não adianta ceder direitos. Que isso não gera empregos. O que temos de fazer é uma onda de resistência às demissões. Queremos que a direção da empresa assuma o compromisso de não fazer demissões.

A prefeitura ficou do lado da GM, a favor do banco de horas…
Mancha
– Ficou contra os trabalhadores. Os governos sempre estão ao lado dos ricos, e agora estão até salvando as empresas. Temos de cobrar. Tanto da prefeitura, quanto dos governos estadual e federal, que deram ajuda a banqueiros e às montadoras.

Não pode ser que, neste final de ano, neste ano novo, os trabalhadores passem este período numa situação de incerteza. E enquanto isso, as multinacionais e os bancos recebam milhões de reais. O governo Lula deveria defender os trabalhadores, através de uma medida provisória, garantindo a estabilidade e reduzindo a jornada, sem redução de salários.

Lula deu R$ 4 bilhões às montadoras, mas nesse ano elas já mandaram mais do que isso pra fora do país. Como os trabalhadores enxergam isso?
Mancha
– Alguns trabalhadores podem ter ilusões de que o dinheiro serviria para garantir seus empregos. Achamos que não. Somos contrários a que o governo doe esse dinheiro às multinacionais, que já enviaram seus lucros para as matrizes. Na prática, é como doar diretamente ao exterior…

O que os trabalhadores devem fazer, caso as montadoras vierem a demitir? Qual o programa que os trabalhadores devem defender?
Mancha
– Nós partimos da defesa do emprego. Nosso lema é “demitiu, parou!” Os trabalhadores precisam enfrentar essa ameaça com uma resistência bastante forte. Se houver demissões, devem inclusive ocupar as empresas.

Devemos também exigir do governo Lula que garanta a estabilidade no emprego. Hoje é muito fácil para as empresas demitirem. Também queremos a redução da jornada sem redução de trabalho, o que poderia inclusive gerar mais empregos. A criação de mais postos de trabalho também poderia vir com um plano de obras públicas, com empresas e escolas.

Se as empresas e montadoras insistirem em demitir, defendemos que o governo estatize a empresa, para garantir os empregos. Coloque empresas, como a própria GM, para funcionar aqui, sob controle dos trabalhadores.

Como você vê o próximo período?
Mancha
– A lição para o próximo período é muito simples. Se não acontecer algum tipo de resistência, de luta, de enfrentamento, haverá demissões. É preciso resistir. Como já vem fazendo os metalúrgicos da Nissan (página ao lado), da Peugeot, de tantas empresas. Se esperarmos, a conta a ser paga será alta.

É necessário parar a sangria das dívidas e das multinacionais, interrompendo as remessas de lucros e controlando o câmbio. Existe sim um outro caminho. O da ruptura.

Toda essa crise serviu ainda para mostrar aos trabalhadores que não podemos confiar nos patrões e no sistema capitalista, que nada tem a nos oferecer, além de crises, guerras e desemprego.

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