Luiz Carlos Prates, o Mancha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São josé dos Campos (SP), nos fala dos primeiros resultados da campanha salarial metalúrgica

Opinião Socialista: Os metalúrgicos das montadoras, ao contrário de bancários e outras categorias, arrancaram, além da inflação cheia, aumento real. Qual a explicação para isso?
Mancha: Os metalúrgicos conseguiram na maioria das fábricas – apenas a Volks segue sem acordo – reajuste de 15,7% referente à inflação do período e mais 2% de aumento real. Além disso, um abono que variou de fábrica a fábrica, de R$ 400 na Toyota a R$ 2.060 na GM. Essa conquista se deu porque depois de muitos anos houve greves e paralisações em todas as fábricas do Estado de São Paulo. Com a produção em alta e com a força e unidade do movimento, a patronal se dividiu e começou a fazer acordo por fábrica. A Honda e a Toyota de Campinas concederam reajuste de 20% para evitar a greve. Em seguida, já no processo de greve, a Scania, depois de ver recusada pela base em assembléia uma proposta de manter 15,7% de reajuste com abono de R$ 1.000, cedeu e ofereceu 18,01% e R$ 600 de abono. Aí, uma a uma as montadoras foram cedendo para evitar a generalização da greve. Esse resultado rompeu com a lógica anterior das grandes campanhas, que saíram todas com reajuste abaixo da inflação e demonstra que era possível categorias fortes, como bancários por exemplo, terem reposto as perdas se não tivessem tido sua luta bloqueada pela direção majoritária da CUT, que aceitou acordos rebaixados, alegando não haver correlação de forças para arrancar mais. Sem dizer que, se a CUT tivesse unificado numa só luta os bancários, correios, petroleiros, químicos, metalúrgicos e outros, nossa força seria ainda maior. De qualquer forma, o resultado da luta dos metalúrgicos das montadoras sinalizará para os futuros embates a possibilidade de não aceitar essa política dos patrões e do governo de reajustes rebaixados.

OS: Por que dessa vez, a proposta da patronal de reposição da inflação foi rejeitada por todos e não apenas por São José dos Campos e Campinas?
Mancha: No primeiro momento, a objeção que a Articulação fazia à proposta da patronal era que ela apenas repunha a inflação para quem ganha até R$ 4.200. Eles se contentariam com reposição da inflação para todos. Nós defendíamos aumento real no salário e por isso rejeitávamos a proposta. No entanto, houve grande radicalização na base do ABC, que já está cansada de acordos rebaixados e anos de apatia imposta pela direção do Sindicato. Os trabalhadores se organizaram nas fábricas para ir às assembléias rejeitar a proposta. Pressionada pela base, a direção do ABC teve que se adaptar, diferente do que fez na campanha emergencial do mês de abril, quando se posicionou contra a antecipação do reajuste de salário, defendeu um abono e assinou acordo com a patronal no meio da greve da GM, isolando-a. Dessa vez a categoria participou massivamente das assembléias e impôs a luta pelo aumento real à direção do sindicato do ABC.

OS: Como foi a mobilização em São José dos Campos e Campinas?
Mancha: A patronal fez uma grande pressão sobre os trabalhadores para forçar a aceitação da proposta do Sinfavea na GM em São José. No entanto, os trabalhadores resistiram: rejeitaram a proposta e fizeram várias paralisações setor a setor, atingindo os 10 mil trabalhadores da empresa e se preparando para entrar em greve por tempo indeterminado. Em Campinas, a Honda e a Toyota fecharam acordo de 20% – 3,7% de aumento real – depois de várias paralisações, e a Mercedez entrou em greve. Nos outros setores, a mobilização continua com paralisações de várias fábricas na região.

Esta foi a campanha nos últimos anos com maior participação dos trabalhadores. Nas fábricas havia grande facilidade para parar. A vontade de lutar superou o medo do desemprego e a bandeira do aumento real passou a ser uma referência para todos.

OS: Que conclusões você tira dessa luta e quais as perspectivas?
Mancha: Disposição de luta não falta aos trabalhadores. Além da disposição, a base impôs a luta também à direção governista (Articulação). Isto mostra que é possível lutar e derrotar a política do governo Lula, dos patrões e do FMI, de arrochar salários e confiscar direitos. Mostra também que o movimento tem força para derrotar a reforma sindical e a trabalhista, que visa arrancar direitos históricos, e o confisco aos salários que representa a manutenção da tabela do imposto de renda nos índices atuais, numa reforma Tributária que só serve aos ricos. Para levar adiante estas lutas, a base terá que seguir se organizando nas fábricas para impor sua vontade, derrotando a parceria com os empresários e agora com o governo como faz a direção majoritária no ABC e também a Força Sindical.

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